Peles de animais penduradas e festa no porão: um casamento na Áustria rural

A austríaca Eva Keindl, 34, e o alemão Alex Popovic, 33, se casaram em um antigo chiqueiro cheio de peles de animais penduradas, tijolos aparentes, feno e vigas de madeira jogadas pelos cantos. Esse casamento “rústico” aconteceu durante dois dias na Áustria. A fazenda da família dela foi escolhida para celebrar a união do casal, que namorava havia quatro anos.
Sem celebrantes ou padrinhos, a cerimônia em si foi rápida: o casal cortou o bolo de casamento em uma mesa colocada bem em frente a pedaços de couro secando ao vento. A noiva vestia uma blusinha branca e shorts jeans, enquanto o noivo desistiu na última hora de usar a camisa comprada especialmente para a ocasião. Casou só de bermuda, exibindo o peito molhado de suor e a marca da regata usada no dia anterior.
Dress code: bermuda e chinelo
Apesar de a Áustria ser um país cristão como o Brasil, eles optaram por uma festa capaz de fazer qualquer casamento pretensamente despojado no Brasil parecer o mais tradicional dos eventos. A fazenda em Burgenland, região pouco povoada da Áustria colada na fronteira com a Hungria, recebeu cerca de 60 convidados. Idosos e casais com crianças pequenas ficaram em quartos na casa de hóspedes. O restante, como em um festival de música europeu, dormiram em barracas que já os aguardavam devidamente montadas. O dress code era exatamente o seguido pelo noivo: chinelo, bermuda, regatas e no máximo um moletom.
Mostrando que a opção pela simplicidade era sincera, os noivos também dormiram em uma barraca. Não fugiram para dentro da casa nem com o frio próximo de 10 graus da madrugada ou com o temporal que caiu na manhã pós-comemorações. A barraca do casal, claro, era especial: uma espécie de grande tenda nupcial parecida com estruturas montadas em campos de refugiados.
Festa no porão
O responsável pela “decoração” de peles de animais é Alex Siebnaller, padrasto de Eva e sósia do ator Hugh Jackman. Depois de trabalhar 20 anos como jornalista, hoje se dedica a produzir couro, ofício que levou dois anos para aprender. Ele recebe as peles – de cervos, porcos e outros animais – e faz todo o processo na fazenda. Cozinha-as em grandes panelas e depois as deixa secando em cavaletes de madeira no galpão onde antigamente a família criava porcos. Ele revende o couro para artesãos locais: uma jaqueta feita do material pode custar até mil euros.
Na primeira noite e na tarde seguinte, o ex-chiqueiro foi o salão de festas do casamento. Música eletrônica, rock e rap sérvio, já que o noivo é descendente de sérvios, e até Tim Maia integraram a setlist. Um dos irmãos da noiva, porém, ficou preocupado com o incômodo que o som alto poderia causar nos vizinhos. A vila é tão pacata que mesmo durante o dia é difícil avistar uma pessoa sequer na rua.
A solução foi levar todo o sistema de som para o porão da fazenda, um lugar apertado, empoeirado, cheio de teias de aranha e com o teto tão baixo que qualquer pessoa com mais de 1,75 m corria o risco de bater a cabeça em uma viga. Aliás, isso aconteceu com o noivo.
Casamento "legalize"
A mãe da noiva passou boa parte do tempo de pernas para o ar. Era possível encontrá-la em diferentes pontos da fazenda -- na sala, no jardim, ao lado da fogueira -- quase sempre com a perna para cima. Friederike Keindl quebrou o dedão um dia antes do casamento e não pôde nem engessá-lo, de tão inchado. Mas ela não parecia preocupada com a possibilidade iminente de um festeiro embriagado terminar de esmigalhar seu dedo. Entre um descanso e outro, circulava entre os convidados. Perguntada se estava tomando algum remédio, respondeu “só aquele que o médico indicou: álcool.”
Carnes de cervo e porco selvagem, além de gigantescas salsichas, iam para a grelha várias vezes ao dia. Vodca, uísque, gim, tequila, licor de café e muita cerveja acompanhavam o churrasco. A equipe de catering não apenas servia os convidados, como também consumia boa quantidade das bebidas, acompanhadas por enormes baseados, sem cerimônia, em meio aos convivas. “Já fiz muitos casamentos e nunca foi como isso aqui. Aproveito a festa enquanto trabalho, isso é muito bacana”, diz a bósnia Adisa Fejzíc.
A mistura de diversão e trabalho, no entanto, não terminou bem. A noiva ficou nervosa com os serviços prestados, deixou isso claro, e na manhã pós-festa simplesmente toda a equipe havia desaparecido da fazenda. Largaram entulho e sujeira espalhados pelo lugar, incluindo uma bacia de plástico que foi colocada na grelha e, claro, derreteu. A noiva e os parentes tiveram de arrumar a bagunça. A cozinha tinha uma grande mancha, aparentemente de sangue, em uma de suas paredes. “É que nós matamos um animal aí”, explica Alex.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso do UOL.