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Escondido dos pais, jovem pagou faculdade com dinheiro de site pornô

Aleo Gerez, 33 anos, é gerenciador e editor de conteúdo erótico na web - Arquivo Pessoal
Aleo Gerez, 33 anos, é gerenciador e editor de conteúdo erótico na web Imagem: Arquivo Pessoal

Amanda Serra

Do UOL, em São Paulo

22/06/2017 16h25

O publicitário Aleo Gerez, 33, era jovem quando criou seu primeiro site pornô e percebeu que podia ganhar dinheiro com conteúdo adulto. Com a grana, em dólar, na época, o jovem não só conseguiu custear uma boa parte do curso de Publicidade e Propaganda, na Universidade Presbiteriana Mackenzie (atualmente o valor da mensalidade é de R$ 2.213), como desfrutou de uma precoce independência financeira. 

“Na época, comprei videogames, jogos, roupas. Foi muito dinheiro que ganhei e muito dinheiro que gastei, mas uma parte foi destinada ao sonho de fazer uma boa faculdade. Nada foi poupado. No início, meus pais me ajudavam com as mensalidades, que assumi alegando que recebia bolsa de estudos”, conta o jovem, que até hoje não revelou para os pais sua história. "Eles só sabem que com 18 eu gerenciava um site adulto".

“Acredito que meus pais ficariam preocupados, mas não bravos, se eu tivesse contado. Um adolescente recebendo conteúdo pornográfico amador de estranhos? Eles me fariam parar imediatamente. Esconder foi natural da minha parte. Mas confesso que foi um meio de sentir orgulho de mim mesmo e de dar valor para o que estava conquistando.”

Por que conteúdo sexual?

“Depois de tanto fuçar, estragar computadores baixando vírus e removendo arquivos, aprendi a mexer com uma ferramenta de edição, que usei para criar meu primeiro site, sobre skateboard. Com ele, eu participava de concursos e acabava ficando em primeiro lugar na categoria de esportes. Mas o prêmio era muito inferior em relação aos sites que ganhavam na categoria ‘geral’ --todos eles eróticos. Foi aí que resolvi ingressar no meio.

Com a página no ar e já como destaque no top ‘geral’ e ‘erótico’, o dinheiro começou a entrar. O site era em ‘portuglês’, uma mistura de português e inglês, para conseguir um volume maior de visitas de gringos. Foi justamente aí que percebi que o brasileiro, na época, tinha muito medo de usar cartão de crédito online. Já os estrangeiros não temiam consumir pornografia e pagar com cartão.

Entrei para grupos de afiliados de grandes sites pornográficos americanos e passei a vender senhas. Mensais, elas custavam em torno de US$ 100 e, se o usuário ficasse dois meses, eu ainda recebia metade do outro mês, ou seja, 50 dólares. Eram US$ 150 dólares por cada usuário, que foram se multiplicado por milhares de pessoas ao longo de meses.

Depois de formado, entrei para o 'Sweetlicious.net', que é um site erótico e pornô que tem como linha de conteúdo a pornografia como notícia, com listas curiosas sobre atrizes pornôs, flagras, bastidores, cenas inusitadas e novidades do mercado.

A posição de gerenciador e editor de conteúdo erótico ainda me rendeu o título de autor da ‘Bíblia do pornô nacional’, uma lista em que aparecem cenas de filmes pornôs brasileiros existentes com o nome de cada atriz e o link de cada material.

O apoio da namorada

Quando conheci minha namorada, expliquei que tinha uma página pornô e ela apenas questionou: ‘Você ganha dinheiro com isso?’ Disse que sim e ela completou: ‘Então, tudo bem’. É um trabalho que se tornou hobby e já me fez assistir cerca de 20.000 cenas adultas.

Já aconteceu, por exemplo, da minha namorada receber em um grupo de WhatsApp um link do site com 17 gifs de ‘homens caindo de boca’ e uma amiga comentar que o autor deveria ser premiado. Fiquei orgulhoso de mim mais uma vez, pois sei que as mulheres aproveitam pouco da pornografia dos filmes, que ainda são feitos para o público masculino.

Assistir a um filme pornô é um momento íntimo da pessoa, no qual ela pode deixar tudo o que significa para a sociedade e escolher o que satisfaz seus fetiches. Ainda há preconceito e tabu em trabalhar com pornografia, seja como diretor, ator, atriz, produtor... Muitas vezes essas pessoas são vistas como marginais. No mundo afora, a classe de profissionais da pornografia é mais estruturada, respeitada e os atores são tratados como verdadeiras celebridades. No Brasil, ainda esperamos que o jogo vire e todos tenham o devido respeito."