Topo

Racismo em livro escolar não é único desafio da mãe que fez denúncia

Atividade do livro didático que o filho caçula de Aline teve de fazer - Reprodução/Facebook
Atividade do livro didático que o filho caçula de Aline teve de fazer Imagem: Reprodução/Facebook

Adriana Nogueira

Do UOL

09/06/2017 14h38

Branca e mãe de duas crianças negras, Aline Lopes, de Recife (PE), usou seu perfil no Facebook, na semana passada, para chamar atenção para uma tarefa da escola do filho caçula, Nauã, 3 anos, que ela considerou racista. O exercício pedia que três pessoas fossem ligadas a suas profissões. A resolução era feita com base em objetos que elas carregavam. Coube ao único negro, a função de faxineiro.

Além de postar no Facebook (foram quase 500 compartilhamentos), Aline conversou com a direção do colégio, uma instituição particular em Recife (PE).

"A escola não vai trocar o livro [têm contrato com a editora até 2018], mas, pelo menos, não negou o racismo contido na atividade. A direção disse que não compactua com nenhuma visão preconceituosa e que faria um trabalho pedagógico com todas as turmas para resgatar e discutir essas questões."

Constrangimentos rotineiros

Não foi a primeira que vez que a mãe se deparou com questões envolvendo racismo que a fizeram sofrer. Por ser branca, ela conta que "as pessoas sempre perguntam duas vezes se são meus filhos. Quando respondo sim, devolvem: ‘É mesmo? Puxaram ao pai, né?’".

Para ela, criar Aymê, primogênita, de cinco anos, e Nauã tem sido muito mais doloroso do que supunha que seria. "Chega a ser cruel a forma como isso se apresenta a eles, desde muito cedo. Na antiga escola, a professora prendia o cabelo ‘black power’ da minha filha sem ela pedir. Eles ainda não percebem quando são alvos de racismo, mas estão em um processo de afirmação da identidade bem bacana, mas que foi difícil construir", conta a mãe.

Quando Aymê estava com cerca de três ou quatro anos, a menina teve uma crise de identidade difícil. "Ela queria ter o cabelo igual ao meu. Dizia que não gostava do dela, que achava o meu, que é liso, mais bonito", conta Aline.

"Ela chorava falando para eu alisar. Tive de pedir ajuda para as minhas amigas negras lindas e incríveis, para começar a construir um novo padrão de beleza na cabeça dela, onde ela se enxergasse. Deu certo. Hoje, ela ama o próprio cabelo, ama o que vê no espelho. E já se vê em outras negras com seus cachos enormes na rua.”