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Amendoim faz bem para bebês antes dos seis meses de idade, diz estudo

Amendoim ode ajudar a diminuir número de crianças que desenvolve alergias alimentares  - iStock
Amendoim ode ajudar a diminuir número de crianças que desenvolve alergias alimentares Imagem: iStock

Do UOL

25/01/2017 04h04

O novo guia do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, divulgado em janeiro, recomenda dar pó ou extrato de amendoim para as crianças, misturado à comida, antes que elas completem seis meses de vida. A medida, segundo os representantes do órgão, pode ajudar a diminuir drasticamente o número de crianças que desenvolve um dos tipos de alergias alimentares que mais mata naquele país.

Por muitos anos, a Academia Americana de Pediatria aconselhou as mulheres a evitarem amendoim durante a gravidez e a amamentação, sob a suspeita de que o hábito elevasse o risco de o bebê desenvolver alergia alimentar. Em 2008, a recomendação foi derrubada por falta de comprovação científica. No entanto, permaneceu a crença de que o mais seguro era esperar pelo menos até os 3 anos da criança para introduzir esse alimento.

A conclusão que levou à nova diretriz é que, quando a criança entra em contato com a proteína do amendoim, em vez de criar um mecanismo de sensibilização, desenvolve tolerância. Mas será que essa medida faz sentido para prevenir casos de alergia alimentar no Brasil também?

A médica Renata Cocco, professora de alergia e imunologia infantil da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), diz que da forma como é sugerido pelo Instituto Nacional norte-americano, não. “A nossa recomendação de aleitamento materno é diferente. Por aqui, fazemos um esforço tamanho para a mãe conseguir amamentar exclusivamente durante seis meses”, diz. “Ainda temos mais estudos comprovando os benefícios do aleitamento materno exclusivo do que pesquisas a respeito da prevenção de alergia a amendoim”, explica.

No Brasil, a alergia infantil a amendoim não tem a mesma proporção e nem o mesmo impacto observado nos Estados Unidos e também na Europa, afirma Renata. Somente nos casos em que a mãe não consegue amamentar exclusivamente por seis meses é que o amendoim deve ser inserido na alimentação sólida, conforme afirma a médica Fernanda Luiza de Almeida, do Serviço de Alergia e Imunologia do Hospital do Servidor Público Estadual, em São Paulo.

As profissionais concordam que não há razão para protelar a introdução do alimento. A partir dos seis meses, a criança pode experimentar um pouco de tudo. “Inclusive ovo e peixe, que as pessoas têm medo de dar. Não precisa apresentar tudo à criança em uma mesma semana, mas não há razão para adiar”, diz Renata Cocco.

Os campeões de alergia
São oito os alimentos responsáveis por 90% das alergias alimentares: leite, ovo, soja, trigo, amendoim, castanhas, peixes e frutos do mar. A alergia mais grave, com risco de edema de glote e anafilaxia (reação alérgica generalizada, que pode levar à morte) usualmente se restringe a um ou dois alimentos. Porém, bebês podem ter sintomas menos graves – como reações de pele, diarreia e vômito – relacionadas a diversos alimentos.

O diagnóstico depende de análise clínica minuciosa. “É fundamental que os pais forneçam detalhes dos alimentos ingeridos rotineiramente ou eventualmente pela criança”, diz Fernanda. “Em algumas situações é possível relacionar o surgimento dos sintomas com o consumo de um alimento, mas não é sempre”, explica. Testes cutâneos e exames de sangue também podem ser feitos, mas sozinhos não são suficientes para fechar o diagnóstico.

“Exame positivo não significa que eu preciso tirar o alimento da dieta”, diz Renata. “O diagnóstico só vem quando, ao restringir alérgenos suspeitos, os sintomas melhoram. Mas depois ainda é preciso avaliar o que acontece ao inseri-los novamente à dieta”, explica a médica.

O tratamento consiste, basicamente, na exclusão total do ingrediente que causa a alergia das refeições. “A alergia alimentar por leite de vaca, ovo, trigo e soja desaparece, geralmente, na infância. Diferente da alergia a amendoim, castanhas e frutos do mar, que pode ser mais duradoura e, em alguns casos, persistir por toda a vida”, esclarece o pediatra Davisson Tavares, especialista em alergia e imunologia clínica pela Sociedade Brasileira de Alergia e Imunopatologia.