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Ídolos digitais são efêmeros, mas têm função importante para adolescentes

O humorista Whindersson Nunes está entre as personalidades mais admiradas por adolescentes, segundo pesquisa - Divulgação
O humorista Whindersson Nunes está entre as personalidades mais admiradas por adolescentes, segundo pesquisa Imagem: Divulgação

Do UOL

07/10/2016 07h05

Das 20 personalidades mais admiradas por adolescentes de 14 a 17 anos, dez são criadores de conteúdo no YouTube, segundo pesquisa do Google em parceria com o jornal “Meio & Mensagem”, divulgada em setembro. Nesta semana, o humorista do Piauí Whindersson Nunes, 21, superou o canal do grupo Porta dos Fundos e passou a liderar o ranking brasileiro de canais no site de vídeos, com o maior número de inscritos, mais de 12 milhões de pessoas.

Tanto a pesquisa quanto a ascensão de Whindersson jogam luz sobre o novo perfil de ídolos dos jovens. Eles gostam mais de pessoas com idade próxima a deles, que vivem experiências parecidas e que sobretudo demonstram originalidade e autenticidade.

“A juventude deixou de ser uma etapa da vida para se tornar um valor. Jovens cultuam jovens. Em outros momentos históricos, isso não acontecia, os adolescentes achavam que as pessoas mais velhas eram mais interessantes”, diz a socióloga Stella Christina Schrijnemaekers, professora da Fundação Escola de Sociologia de São Paulo.

Se cultuam outras pessoas tão jovens quanto eles, ainda assim os adolescentes precisam de ídolos? “Sim, porque ídolos são meios para o adolescente desenvolver aspectos que ele tanto deseja: sedução, simpatia, vaidade, desempenho atlético, por exemplo. Ao se identificar com alguém, o jovem constrói a representação de si mesmo”, declara a psicóloga Marcela Ranier, mestre em psicologia pela Universidade Federal do Ceará e autora de artigos científicos sobre o papel do ídolo na juventude.

“A função do ídolo na vida do adolescente é mostrar que é possível escapar da solidão, ter o que se quer e ser querido por inúmeras pessoas. Um ídolo abre caminhos”, diz o psicólogo especializado em adolescentes Miguel Perosa, professor de psicologia da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo.

Os adolescentes estão em um processo de socialização e formação mais intenso do que os adultos, por isso eles ainda são os mais influenciados por essas figuras. Contudo, o impacto dessa influência varia de acordo com a personalidade.

“Muitas vezes, querer viver a vida do outro é o que faz as pessoas seguirem seus ídolos”, diz Stella. “Em outras ocasiões, um adolescente pode gostar de uma determinada pessoa porque ela apresenta uma imagem reconfortante do que ele gostaria de ser”, fala a socióloga.

Por que os youtubers?

Para o consultor de comunicação Dado Schneider, doutor na área pela PUC do Rio Grande do Sul, há duas razões que ajudam a explicar a ascensão desses ídolos do meio digital.

“A primeira é que é hoje é legal aparecer on-line, ter seguidores, ser popular. E não só no Youtube, mas no Facebook, no Snapchat e em qualquer outra plataforma”, afirma.

Quem faz sucesso com vídeos na internet também passa a impressão errônea de que é fácil ganhar fama e dinheiro dessa forma, diferentemente dos músicos, apresentadores de TV ou jogadores de futebol.

“A cultura do atalho está na geração Y [dos nascidos entre o fim da década de 1970 e início de 1990] e também na Z [dos nascidos após 1990]. Esses jovens são pautados pelo prazer e não pelo senso de dever. Tudo o que der para fazer com menos esforço e mais resultado, será visto com mais interesse”, diz Schneider.

Ser efêmero é algo intrínseco a esses ídolos e ao próprio ambiente digital, o que tem um lado negativo. “Na rede, as características do ídolo ganham enorme repercussão, até mesmo as que são mais patéticas e precárias. Isso empobrece a capacidade criativa e de reflexão do adolescente”, afirma Marcela.

O ideal seria que o adolescente enxergasse a razão pela qual cultua determinada pessoa. “Muitas vezes, valoriza-se a fama pela fama, sem uma preocupação com o que a pessoa pensa. Vale provocar a reflexão sobre de que maneira o ídolo está agregando algo à vida do adolescente”, diz a socióloga Stella Christina Schrijnemaekers.