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Brasileiros pagam até 64 mil reais para ter filho em Miami

André Vaz (à esq.), a mulher, Cíntia, com a filha deles, Beatriz, que nasceu em Miami, e o pediatra Wladimir Lorentz - Arquivo pessoal
André Vaz (à esq.), a mulher, Cíntia, com a filha deles, Beatriz, que nasceu em Miami, e o pediatra Wladimir Lorentz Imagem: Arquivo pessoal

Melissa Diniz

Do UOL, em São Paulo

22/06/2016 14h48

Com o objetivo de garantir um futuro melhor para os filhos, longe da crise política, da instabilidade financeira e do vírus da zika, casais de brasileiros estão investindo até R$ 64 mil para ter seus bebês em Miami, nos Estados Unidos.

Foi assim com a personal trainer Cíntia Canineo, 35, e seu marido, o empresário André Vaz, 43, de Jundiaí (SP). Eles contrataram a empresa Ser Mamãe em Miami --clínica especializada em atender estrangeiros-- para realizar, em solo americano, o parto da filha deles, Beatriz, hoje com três meses.

“Morei em Nova York em 2006 e temos muitos amigos lá. Pretendemos nos mudar para o país no futuro e achamos que, se nossa filha tivesse cidadania americana, tudo seria mais fácil”, conta Vaz.

O casal, que já possuía visto americano para negócios e turismo, decidiu que a filha nasceria nos Estados Unidos ao visitar o país no terceiro mês de gestação para comprar o enxoval. “Quando voltamos, comecei a pesquisar a melhor maneira de viabilizar o plano. Foi aí que achamos a empresa. O que mais me chamou a atenção foi a possibilidade de planejar os custos com antecedência”, afirma.

Ao todo, eles investiram 22 mil dólares (cerca de 74,8 mil reais), entre passagens, acomodação, alimentação, aluguel de carro, seguro-viagem e o parto normal em um hospital particular de Miami. Cíntia viajou na 36ª semana de gestação, com autorização de seu obstetra, e só retornou ao Brasil 40 dias após o parto.

Por conta do trabalho, André precisou permanecer no Brasil, mas passou alguns períodos com a mulher até o nascimento da filha. “O momento mais difícil para mim foi após o parto, não só pela questão hormonal, mas por estar em um país diferente e longe da minha família, da minha casa e do meu cachorro”, conta Cíntia.

Apesar dessas dificuldades, ela afirma que faria tudo de novo. “Sei que no futuro isso fará muita diferença na vida da minha filha”, fala. Por ser nascida nos Estados Unidos, Beatriz poderá residir no país, ter acesso facilitado a empregos federais e ao sistema de ensino superior a taxas menores, entre outros benefícios.

De acordo com Vaz, registrar a filha no país estrangeiro foi muito fácil. “Tiramos as certidões de nascimento americana e brasileira nos Estados Unidos, e o passaporte americano saiu no mesmo dia. O documento brasileiro chegou 20 dias depois pelo correio. Fiz todo o processo sozinho, com ajuda de um GPS para achar os lugares certos”, diz.

Segundo Ingrid Baracchini, advogada especializada em imigração, optar por ter o filho nos Estados Unidos sendo estrangeiro não fere as leis americanas, desde que os pais retornem ao país de origem dentro do prazo legal. Na opinião da especialista, o processo se torna mais fácil para quem já possui visto e tem boa condição financeira.

“Quem vai solicitar o visto pela primeira vez estando grávida corre o risco de não conseguir. Mesmo assim, aconselho sempre falar a verdade na entrevista e mostrar toda a documentação de contratação da empresa médica”, diz.

A advogada explica que o visto de turista permite que o viajante fique apenas seis meses corridos nos Estados Unidos. “É importante ter renda comprovada e vínculos no Brasil para conseguir”, explica.

As vantagens da cidadania não se estendem aos pais, porém, aos 21 anos, o filho pode pleitear que eles se tornem residentes no país.

Como funciona o serviço

Criada pelo pediatra brasileiro Wladimir Lorentz (formado nos Estados Unidos), a clínica oferece médicos bilíngues para atender as gestantes a partir da 32ª semana de gravidez e seus bebês. Até lá, é preciso que a grávida faça o pré-natal em seu país e leve consigo todos os exames, além da documentação necessária.

Os valores cobrados das estrangeiras são os mesmos oferecidos às americanas na rede privada e variam dependendo do tipo de parto e do hospital escolhido. O pacote mais barato para parto natural no Palmetto General Hospital, na Grande Miami, por exemplo, sai por US$ 9.740 dólares (R$ 33,1 mil, aproximadamente), incluindo atendimento pré-natal, exames de rotina do terceiro trimestre, ultrassonografias, anestesia peridural, teste de audição do recém-nascido e três consultas pediátricas, sendo a primeira em domicílio, além da primeira série de vacinas do bebê.

Cesarianas e partos de múltiplos são mais caros. Para ter gêmeos no Mercy Hospital, que dispõe de UTI neonatal e tem uma localização melhor, é necessário desembolsar US$ 18.880 dólares (cerca de R$ 64 mil reais). No entanto, este valor, não inclui as diárias de internação na UTI e procedimentos de urgência.

Ao fazer o planejamento de gastos, é preciso considerar também os custos de viver nos Estados Unidos por, pelo menos, quatro meses. A clínica recomenda que os bebês não viajem de avião antes de dez dias após tomarem as primeiras vacinas, aplicadas até a sexta semana de vida.