Comportamento humano pode impactar nas reações e até na saúde do cão

Luna e Zig, cães da raça Shihtzu, com três anos e meio, eram bastante ansiosos: latiam muito, destruíam a casa e acordavam toda madrugada. Sua dona, a médica Thaís Traple Villas Bôas, sofria com a rotina de tensão com os bichos. "Com a ajuda da Larissa [veterinária da Luna e do Zig e especialista em comportamento animal], percebi que, na verdade, eu determinava as ações dos cachorros, meu modo de agir provocava esses transtornos nos animais", conta Thaís.
Esse mesmo estado ansioso atrapalhou o dia a dia da Kiky, uma cachorra da raça Old English Sheepdog, com sua dona, a educadora física Flavia Kroschinsky. As ações rotineiras como passear viravam um tormento. "Era um desastre. Kiky não deixava colocar a coleira e a guia, ela latia e pulava muito. Antes mesmo de sair, eu já estava estressada. O passeio era tenso e Kiky puxava e não obedecia. Minha ansiedade para que tudo desse certo piorava a situação", diz Flavia.
O cão é espelho do dono?
Segundo a bióloga especialista em comportamento animal, Helena Truksa, os cachorros são muito propensos a experimentarem tanto emoções positivas, quanto negativas originadas no ambiente familiar. Isso ocorre porque esses animais são altamente sociais e precisam viver em grupos, no caso, as pessoas e/ou outros cães. Além disso, eles são capazes de ler com habilidade as expressões corporais e faciais do homem.
O pesquisador em psicologia animal e professor da Faculdade de Ciências da Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - campus Assis), Carlos C. Alberts, explica que a capacidade do cachorro "sentir" o que o dono sente e prever o que ele quer ou não quer está ligada à empatia, função atribuída, entre outros, aos componentes cerebrais conhecidos como neurônios-espelhos, também presentes no homem. "Se algum comportamento na família se alterar, isso afetará a maneira de viver do cão. Se os cuidadores forem ansiosos, é possível que o animal seja ansioso. Se há agressividade, o bicho pode ficar agressivo ou virar um cachorro medroso e estressado", esclarece Alberts.
Como lidar?
No caso da Thaís e seus cães Luna e Zig, a criação de uma rotina de passeios, alimentação e brincadeiras e pequenas mudanças na interação estão ajudando a melhorar o convívio. "A Larissa me orientou como agir para que não gerasse a ansiedade nos cachorros. Por exemplo, ao sair e entrar em casa, eu fazia 'aquela cena'. Hoje ajo com mais calma, sem aquela agitação excessiva", exemplifica Thaís.
Por sua vez, no atendimento à Flavia e a sua Kiky, a especialista Helena Truksa diz que após a Flavia assumir uma conduta mais relaxada e tranquila, o comportamento da Kiky durante os passeios melhorou substancialmente. "Às vezes a Kiky sai puxando ou tenta morder a guia. Quando isso acontece procuro manter a calma, não brigo com ela e sigo as orientações", conta Flavia.
Os sinais que o cão dá
Os cachorros que convivem com donos ansiosos podem:
- Ter propensão a morderem objetos e móveis.
- Latir mais do que o normal.
- Ter dificuldade de ficar sozinhos, mesmo por um curto período de tempo.
- Desenvolver quadro de lambedura compulsiva motivada pelo estresse gerado pela ansiedade crônica.
Os cães que vivem em ambientes conturbados, com alta carga de agressividade e brigas frequentes entre os membros da família, podem demonstrar:
- Agressividade.
- Insegurança e/ou medo, procurando locais para se esconder.
- Dificuldade de se relacionar com outras pessoas e animais.
Vale ressaltar que, além do comportamento do dono refletir nas ações do cão, a carga genética e o histórico de como o filhote foi mantido antes de chegar a casa possuem também papel determinante na conduta geral do animal adulto.
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