Drinques semanais podem afetar a fertilidade de homens e mulheres
Consumir álcool com frequência pode ser um problema para casais que querem engravidar. A principal razão para isso é a influência que a bebida alcoólica exerce na produção de hormônios femininos e masculinos.
“Nas mulheres, o álcool em excesso altera o processo ovulatório e a qualidade dos óvulos. Já nos homens, reduz os níveis de testosterona e modifica o volume, concentração e mobilidade dos espermatozoides”, diz o ginecologista e obstetra Mario Cavagna, diretor do Centro de Reprodução Humana do Hospital Pérola Byington e presidente da SBRH (Sociedade Brasileira de Reprodução Humana).
Pesquisas internacionais confirmam a fala de Cavagna. Um estudo de 1998, divulgado no “British Medical Journal”, avaliou, durante seis meses, 430 casais com idades entre 20 e 35 anos que desejavam engravidar pela primeira vez. Após descartar outras variáveis do processo, como peso, hábito de fumar, concentração de esperma e doenças nos órgãos reprodutores femininos, verificou-se que mulheres que ingeriam de um a cinco drinques por semana tinham 39% menos chance de engravidar do que as que não bebiam. Quando esse número aumentava para mais de dez drinques semanais, a chance tornava-se 66% menor. Nesse estudo, não houve relação entre a ingestão de álcool e a fertilidade dos homens.
Outra pesquisa mais recente, publicada em 2014, no mesmo veículo médico, apontou a influência do álcool na qualidade e na quantidade do sêmen. O estudo analisou amostras de 1.200 homens entre 18 e 28 anos. Os efeitos foram evidentes a partir do consumo de cinco latas de cerveja por semana e preocupantes para os que consumiram mais de 25. Os que chegaram a 40 latas no período tiveram uma contagem de espermatozoides 33% mais baixa do que os que tomaram menos de cinco. No primeiro grupo, mais da metade das amostras de esperma também tinham aparência diferente da considerada normal.
Não é o que, é quanto
De acordo com especialistas, o tipo de bebida não influencia. No primeiro estudo, por exemplo, as mulheres consumiam vinho, cerveja e destilados. O que importa mesmo é a quantidade. “Se o consumo for de um a dois drinques por semana, o álcool vai possuir discreta ou nenhuma ação sobre as funções reprodutivas sexuais”, diz o médico Arnaldo Schizzi Cambiaghi, diretor do Centro de Reprodução Humana do IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia).
O ginecologista Luiz Fernando Dale, diretor do Centro de Medicina da Reprodução no Rio de Janeiro, concorda e alerta que, para mulheres, o prejuízo pode ser maior. “Os hormônios da mulher dependem de um ajuste fino para que a ovulação aconteça. Se algo interrompe a produção ou se o metabolismo está alterado por qualquer fator, ela pode não ovular”, declara. “Já no homem, ainda que a produção de espermatozoides diminua, ela dificilmente fica prejudicada, já que são fabricados milhões. E basta que um espermatozoide chegue às trompas e encontre o óvulo para fecundá-lo”, fala.
A recomendação de uma dieta sem nem uma gota de álcool só é feita a casais que buscam tratamento para engravidar . “Nesse caso, são pessoas que já têm problemas e o consumo de álcool, em qualquer quantidade, apenas representaria mais um”, diz Cavagna. Quando o álcool altera somente os óvulos e os espermatozoides, a abstinência por três meses pode ser suficiente para normalizar os níveis hormonais, afirma Cambiaghi.
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