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"Não consigo sair sozinha", diz aluna da USP após nova ameaça de estupro

Praça do Relógio e ao fundo prédio da nova reitoria, na Cidade Universitária - Eduardo Knapp - 15.jan.2014/Folhapress
Praça do Relógio e ao fundo prédio da nova reitoria, na Cidade Universitária Imagem: Eduardo Knapp - 15.jan.2014/Folhapress

do UOL, em São Paulo

30/10/2015 20h05


A aluna do curso de geografia da USP (Universidade de São Paulo) Luisa Cruz, 25 anos, que sofreu uma tentativa de estupro dentro do campus, em 2014, voltou a ser ameaçada na instituição nesta semana. Em sua página no Facebook, ela relatou o que vem passando desde o ano passado, em um post que já tem 17 mil curtidas e mais de 6.000 compartilhamentos. A estudante disse acreditar que a divulgação do fato pode ajudar na sua proteção.

No meio deste mês de outubro, ao sair de uma aula, a universitária encontrou no para-brisa do seu carro um bilhete que dizia "enquanto você estiver aqui, estarei”. Uma semana após a mensagem, ela recebeu um e-mail enviado de sua própria conta, que foi hackeada, contendo ameaças e condenando o envolvimento dela com outras mulheres que sofreram agressões dentro da universidade.

Em contato com o UOL por telefone, Luisa disse que os amigos estão fazendo rodízio para que ela consiga sair para trabalhar e seguir sua rotina --que já não inclui ir até a Cidade Universitária, pois não se sente segura no local. "Não consigo nem ir comprar um pão sozinha."

Sobre a expectativa em relação a medidas que a universidade possa tomar, a estudante afirmou que não espera nenhum apoio. "As mulheres que passam por assédio na USP são abandonadas, pois apenas medidas burocráticas são colocadas em prática."

Segundo Luisa, pelo menos, cinco mulheres do seu convívio sofreram assédio dentro da Cidade Universitária, que também foram seguidos de ameaças, e nada foi feito. A estudante contou ainda que uma sindicância já foi aberta a pedido dos agressores identificados, que contestaram as denúncias, mas não houve conclusão a respeito.

"O meu caso é só mais um de milhares que não ganham visibilidade. As mulheres têm medo dos agressores e, muitas vezes, são repreendidas pela própria universidade. A inversão do papel de vítima em culpada é algo comum", declarou.

A reportagem procurou a USP, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. No site de imprensa da instituição, existe uma nota de "Esclarecimento da Reitoria sobre o Caso da Aluna Luisa Cruz".

No texto --que pode ser visto na íntegra abaixo--, a universidade diz que tomou conhecimento do fato desta semana por meio das redes sociais e agendou uma reunião para quarta-feira (4) com a estudante, encontro que Luisa diz desconhecer.

De acordo com USP, Luisa não teria entregado o boletim de ocorrência da primeira agressão, sofrida em 2014, fato que a universitária desmente.

"Estou sendo assessorada por um advogado e, na próxima semana, vou levar todos os novos documentos, pois será quando terei acesso ao novo boletim de ocorrência", contou. 

Leia abaixo o comunicado oficial da USP

"A Reitoria informa que, por iniciativa da Comissão de Direitos Humanos da USP, que tomou conhecimento do assunto pelas redes sociais, a aluna de geografia Luísa Cruz foi convidada a participar de uma reunião com representantes da Comissão, da Superintendência de Segurança e da Ouvidoria da Universidade, na próxima quarta-feira, dia 4/10 (sic), para avaliar que tipo de medidas podem ser tomadas no caso. Além disso, a Superintendência de Tecnologia da Informação está investigando a origem e autoria das mensagens eletrônicas relatadas pela aluna. Importante destacar que, em outubro do ano passado, a Superintendência de Segurança recebeu a aluna, o pai e o namorado dela. Após o levantamento das informações, foi solicitada à estudante uma cópia do boletim de ocorrência registrado para dar encaminhamento ao caso. Depois disso, a Superintendência não foi mais procurada."