Cães e gatos ajudam na recuperação de crianças internadas
O momento da visita é sempre sinônimo de alegria, em qualquer tipo de hospital. Porém, quando os visitantes têm quatro patas e chegam dispostos a doar e receber amor, o ambiente se transforma completamente. “Todo mundo se contamina com o alto-astral dos bichos, o clima do hospital inteiro muda”, diz a psicanalista Silvana Fedeli Prado, fundadora da ONG Patas Therapeutas, de São Paulo, que atua com TAA (Terapia Assistida por Animais) nos hospitais infantis Darcy Vargas e Menino Jesus e no setor pediátrico da Irmandade Santa de Misericórdia, todos na capital paulista.
Segundo o médico Sérgio Sarrubbo, do Departamento de Emergência e Cuidados Hospitalares da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), a Terapia Assistida por Animais é muito comum na Europa e nos Estados Unidos e, por aqui, vem conquistando cada vez mais espaço. “A condição da doença, o fator de limitação e os procedimentos com agulhas e medicamentos causam muito sofrimento, elevando o estresse e provocando falta de estímulo para a recuperação das crianças”, afirma o médico.
A chegada dos animais, em geral cães e gatos, funciona como uma espécie de contraponto, motivando a criançada a seguir firme no tratamento. “A sensação de prazer provocada pelo contato com os bichos contribui para a liberação de hormônios como a endorfina e a dopamina na corrente sanguínea, que minimizam a dor”, diz Sarrubbo. Em contrapartida, essa interação ajuda a diminuir o cortisol circulante, o hormônio do estresse, acalmando os menores.
Para Silvana, as reações emocionais e fisiológicas que os bichos provocam nas crianças ajudam a melhorar a resposta do sistema imunológico delas. “Isso pode contribuir para diminuir o tempo de permanência no hospital”, declara a psicanalista.
A visita dos animais assegura momentos mais brandos e descontraídos e, muitas vezes, serve de estímulo para uma criança acamada, por exemplo, ter vontade de levantar e passear um pouco pelos corredores, segurando o animal pela guia. “Nos dias de visita, até os procedimentos médicos são aceitos de forma mais tranquila”, fala o pediatra.
Benefícios
E mesmo quem não conhece os efeitos fisiológicos desse tipo de terapia complementar garante que a interação surpreende pela emoção e alegria que proporciona às crianças. “Meu filho deu uma gargalhada tão boa quando viu o cachorro que eu me surpreendi”, conta Marcia Mendonça Martins Bruno, 45 anos, mãe de Gabriel Felipe Bruno.
Na ocasião, o menino de cinco anos estava internado no Hospital da Criança, em São Paulo. Ela comenta que o contato com o cão deixou o filho mais animado, fez com que ele parasse de reclamar da internação. “Vê-lo feliz também ajudou a aliviar a minha angústia”, diz. Para Gabriel, acariciar o bicho foi uma diversão. “Fiz carinho, cócegas na barriga dele, dei água e comida e, depois, até passeamos juntos”, fala o garoto.
Segundo Nadia Tadema, assistente do Projeto de Humanização e Responsabilidade Social do Hospital da Criança, essa interação com os animais ajuda a mudar a visão que os menores constroem acerca do ambiente hospitalar, onde acabam enfrentando procedimentos invasivos e são obrigados a conviver com o medo e a dor. Nesse contexto, é natural que o local não lhes pareça seguro. “A Terapia Assistida por Animais busca reverter esse clima de tensão, eliminando sentimentos negativos e deixando o paciente mais acessível, alegre e receptivo ao tratamento.”
Os animais que participam desse tipo de projeto têm de cumprir uma série de exigências. “Eles devem seguir um protocolo rígido de saúde que inclui: vacinação em dia, controle de pulgas e carrapatos, orelhas limpas, dentição sem tártaro, vermifugação e higienização completa, incluindo as patas. Além disso, devem apresentar comportamento afetivo e serem adestrados, para não reagirem mal ao barulho ou aos carinhos das crianças”, afirma a psicanalista Silvana Fedeli Prado, da ONG Patas Therapeutas.
Também é fundamental que o médico autorize a participação do paciente nesse tipo de terapia. “Crianças que estão isoladas, devido a alguma doença contagiosa, com infecções graves ou em recuperação de cirurgia, por exemplo, não podem participar desse tipo de atividade”, afirma Nádia.
Para Sérgio Sarrubbo, a terapia com animais vem se multiplicando em diversas instituições porque os resultados realmente aparecem. “Ela efetivamente colabora com o tratamento e a recuperação do paciente, mas é importante que a criança tenha predisposição a receber o animal, embora isso aconteça, em geral, de forma muito espontânea”, diz.
Bichos de estimação
No Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, o bicho de estimação do próprio paciente pode ser autorizado a visitar o dono. “O setor pediátrico é um dos que mais encaminha solicitações”, diz Rita Grotto, gerente de atendimento ao cliente e responsável pelas ações de humanização desenvolvidas na entidade. “Essa é uma experiência muito agradável. Receber a família e os amigos –entre eles, os animais– é essencial para o processo de cura”, afirma.
Os animais de pequeno e médio porte podem ir até o quarto visitar o dono. Já os grandes são recepcionados em um espaço destinado para esse fim. “No entanto, é fundamental que o pediatra autorize esse contato, e que o animal esteja higienizado e com a vacinação em dia”, explica Rita.
As visitas podem ser contínuas, desde que haja acompanhamento da hospitalidade, setor do hospital responsável por esse tipo de ação. E, até hoje, vários cães, gatos e coelhos já foram liberados para visitar seus donos. “O objetivo é transformar esse período no ambiente hospitalar em um momento de bem-estar, facilitando a cura”, comenta Rita.
Segundo ela, tais reencontros são emocionantes e, muitas vezes, proporcionam uma recuperação mais rápida e mesmo a alta precoce. “O simples fato de estar em contato com o bicho de estimação remete ao aconchego do lar, aliviando o estresse, elevando a autoestima e quebrando a rotina do clima de hospital.”
Conheça entidades que trabalham com Terapia Assistida por Animais
Medicão (SP)
Projeto Pêlo Próximo (RJ)
Pet Terapeuta (RS)
Religare (MG)
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