Drible a areia, a maresia e o vento e cultive um jardim na praia

Simone Sayegh
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Quem tem casa na praia sabe que muitas plantas perfeitamente adaptadas às condições urbanas “distantes do mar”, não aguentam o solo arenoso, a maresia ou o vento marítimo. Além disso, as espécies ideais para um jardim no litoral do nordeste podem não ser as mesmas indicadas para o cultivo no extremo sul do país.

Assim, a regra é optar por plantas nativas da respectiva região para a composição de um jardim litorâneo. Desta forma, coníferas, azaleias, rododendros, hortênsias, íris, glicínias e todas as variedades típicas de climas frios devem ser evitadas, pois terão seu desenvolvimento prejudicado, com floração menos expressiva, por exemplo. Outra dica é eleger espécies com florada no verão, para que se possa apreciar a beleza das flores na época em que mais se desfruta das praias.

Veja boas espécies para um jardim à beira-mar e saiba como cultivá-las

Alamanda (Allamanda cathartica): trepadeira com flores amarelas, nativa das regiões norte, nordeste e sudeste. É considerada uma planta tóxica e por este motivo deve-se mantê-la longe de crianças e animais de estimação. O cultivo é a pleno sol, em solo fértil e com regas regulares. Devido ao peso, evite seu uso em treliças e cercas mais frágeis, porém seu crescimento é moderado. Adapta-se ao clima de todos os estados brasileiros, mas prefere o calorGetty Images
Alpínia vermelha (Alpinia purpurata): herbácea muito indicada para plantio junto a muros, tem flores também usadas para corte. Aprecia solos ricos em matéria orgânica e irrigações regulares. Deve ser cultivada a pleno sol ou meia sombra, multiplica-se por mudas que se formam nas brácteas (folhas modificadas) ou por divisão das touceiras. Atenção! A variedade não é resistente ao frioGetty Images
Bananeiras de jardim (Heliconia sp.): as muitas variedades conhecidas como bananeiras de jardim compreendem várias espécies de herbáceas nativas do Brasil. Muito rústicas, têm maioria adaptada à meia sombra, com resistência ao calor e à umidade tropicais. As adubações ricas em fósforo e potássio, além das reposições de matéria orgânica estimulam a folhagem exuberante e a floração mais abundanteGetty Images
Beri ou bananeirinha de jardim (Canna x generalis): a herbácea é resultante de vários cruzamentos da original Canna indica, nativa do Brasil, com algumas outras espécies. Muito florífera, com flores vermelhas, amarelas, laranjas ou rosas, adapta-se a locais bastante úmidos e ao sol pleno, bem como áreas adjacentes a lagos e fontes. Deve ser cultivada sob sol pleno ou meia-sombra, em solo rico em matéria orgânica e regados com freqüência. Tipicamente tropical, tal planta não tolera frio ou geadaGetty Images
Bulbíne (Bulbine frutescens): de baixo porte, aparência delicada e florescimento intenso e perene, a bulbíne deve ser cultivada a pleno sol ou sob sombra parcial, em solo fértil, bem drenável e enriquecido com matéria orgânica. A variedade aprecia regas periódicas, porém é tolerante à seca e a uma ampla faixa climáticaGetty Images
Clúsia (Clusia fluminensis): arvoreta nativa do litoral tem exemplares vistos do Rio de Janeiro à Bahia. É cultivada nos jardins como um arbusto desenhados pelas podas frequentes. Pode ser plantada sob sol pleno, bem como à meia sombraAndré Guimarães/ Divulgação
Coqueiro (Cocos nucifera): nossa mais tradicional palmeira chega a atingir 30 metros de altura e é muito adaptada à salinidade do solo. O tipo gigante é a palmeira original, muito alta e adequada para a produção do coco seco. A cultivar anã (Cocos nucifera "Dwarf") é apropriada para a exploração do coco verde, não ultrapassa três metros e vive cerca de 20 anos. O terceiro grupo inclui as plantas híbridas, resultantes do cruzamento entre anãs e gigantes, com características intermediárias. O coqueiro é cultivado sob sol pleno, em solos arenosos ou areno-argilosos, profundos, férteis e irrigados a intervalos regularesGetty Images
Grama esmeralda (Zoysia japonica): esta grama rústica com folhas finas tem crescimento moderado e forma gramados bem macios, mas deve ser aparada sempre que alcançar dois centímetros. Muito interessante para os jardins no litoral, não tolera sombreamento, sendo indicada apenas para sol pleno e solos férteis, com adubações semestrais e regas regularesGetty Images
Hibisco (Hibiscus rosa sinensis): arbusto com flores simples ou dobradas em várias cores (branco, amarelo, vermelho, laranja e rosa), produz a flor símbolo do Havaí e deve ser plantada preferencialmente sob o sol. A floração estende-se por todo o ano e as flores são sempre solitárias. De característica tropical, o hibisco precisa ser cultivado em solo fértil, enriquecido com matéria orgânica, portanto, exige adubações periódicas para exibir floração exuberante. Não tolera geadas, todavia suporta a salinidade e o sombreamento parcialGetty Images
Íris da Praia (Neomarica candida): com flores muito delicadas e ornamentais que se renovam diariamente, esta planta é muito rústica e pode ficar à meia sombra, sol pleno ou sombra clara, em solo fértil, enriquecido com matéria orgânica e irrigado regularmente. Precisa de luz solar direta ao menos algumas horas por dia e aprecia a umidade tropicalTau'olunga/ Commons
Ixora (Ixora coccinia): é um arbusto muito florífero com exemplares vermelhos, róseos ou amarelos, porém há no mercado uma variedade "compacta" com flores vermelho-alaranjado ou brancas. A ixora gosta de sol e dispensa maiores manutenções, mas deve ser regada a intervalos regulares. Costuma ser usada em maciços, pois esconde muretas e murosGetty Images
Jasmim manga (Plumeria rubra): esta árvore de pequeno porte possui flores perfumadas vermelhas ou róseas, com o centro branco, além da variedade com flores brancas. É uma planta especial, sua floração inicia-se no fim do inverno e permanece através da primavera, por isso, deve ser tratada com destaque no jardim. Cultivado à pleno sol, em solo fértil, leve e bem drenado, o jasmim deve ser mantido longe de quartos, pois possui um perfume intensoGetty Images
Lágrima de cristo (Clerodendrumthomsoniae): embora não seja nativa, a lágrima de cristo é facilmente encontrada nos jardins do litoral, adequada para a formação de caramanchões e a cobertura de pergolados. Floresce na primavera e no verão e pede solo fértil e sol pleno, além do amparo de suportes. As podas devem ser evitadas, pois tendem transmitir doenças que apodrecem as extremidades dos ramosGetty Images
Oleandro ou espirradeira (Nerium oleander): planta de cultivo tradicional, como arvoreta ou cerca-viva de grande porte, tem florescimento bastante intenso. A espirradeira atinge 4,5 m de altura e é usada, também, para arborização de parques e jardins. Suas folhas, flores e sementes são bastante tóxicas, portanto, evite o uso dessa espécie em locais onde haja crianças ou animais domésticosGetty Images
Pândano espiral (Pandanus utilis): planta de grande beleza pelas folhas que se desenvolvem em espiral, é utilizada como destaque no paisagismo. Atinge até dez metros de altura e quando tem seus galhos podados, eles não tornam a brotar, reduzindo parte do potencial ornamental do exemplarGetty Images
Primavera (Bougainvillea glabra): variedade mais indicada para o sul. Embora sejam arbustos, as primaveras são conduzidas como trepadeiras e encontram-se por todo o país. A glabra é nativa do sul, tem mais espinhos e não é colorida como a spectabillis, que é nativa das regiões leste e nordeste brasileiras e, também, pode apresentar flores dobradas. Devem ser cultivadas em solo fértil, sempre a pleno sol. Requer podas de formação e de manutenção anuais, para estimular o florescimento e renovar parte da folhagemGetty Images
Primavera (Bougainvillea spectabilis): mais indicada para o nordeste. Embora sejam arbustos, as primaveras são conduzidas como trepadeiras e encontram-se por todo o país. A spectabilis é colorida e muito vista no nordeste brasileiro. Tais plantas exigem solos férteis e pleno sol. Requerem podas de formação e de manutenção anuais, para estimular o florescimento e renovar parte da folhagemGetty Images
Quaresmeira (Tibouchina granulosa): esta árvore nativa do Brasil possui flores roxas ou rosas. Em regiões de clima quente como no litoral, pode chegar a florescer duas vezes ao ano (junho-agosto e dezembro-março). Atinge de oito a 12 metros de altura e deve ser cultivada sob sol pleno, em solo fértil, profundo, drenável, enriquecido com matéria orgânica e irrigado regularmente no primeiro ano após o plantio ou o transplanteGetty Images
Sapatinho de judia (Thunbergia mysorensis): trepadeira com inflorescências pendentes indicada para cobrir caramanchões, onde as flores possam ficar dependuradas à sombra, o sapatinho de judia demanda cultivo a pleno sol ou meia sombra, em solo fértil e enriquecido com matéria orgânica, com regas regulares. Tipicamente tropical, esta variedade não tolera o frioGetty Images
Tamareira das canárias (Phoenix canariensis): considerada a mais nobre das palmeiras, a tamareira das canárias é robusta e muito rústica, podendo alcançar 20 metros de altura. Devido a seu porte, não é indicada para pequenos ou médios jardins residenciais e, sim, para parques, avenidas e grandes espaços. Exigem cultivo sob sol pleno, em solo enriquecido com matéria orgânica e com regas regulares durante o crescimento. Tolerante à seca e à salinidade do solo, deve ter as folhas inferiores podadas para estimular o crescimento apical (do ápice) e reduzir o volume da copaGetty Images
Vedélia ou wedelia (Sphagneticola trilobata): herbácea nativa do Brasil é perfeita para jardins de praia, por ser muito rústica e suportar secas e, também, excesso de água. É muito utilizada como forração, atinge 50 cm de altura e possui flores amarelas e folhagem decorativa. É encontrada em todo o litoral e sua floração ocorre durante todo o ano. Pode embelezar canteiros e bordaduras, assim como vasos e jardineiras. Devem ser cultivadas a pleno sol ou meia sombra, em solo fértil, regada a intervalos regularesGetty Images
Vinca ou boa noite (Catharanthus roseus): embora perene, geralmente é cultivada como bianual, com florescimento bastante intenso. Também tóxica, não deve ser ingerida e precisa ser cultivada sob pleno sol, em solo fértil, com regas regulares. Recomenda-se a troca dos exempares a cada dois anos, pois as plantas perdem a beleza inicialGetty Images

O local onde o jardim será implantado também é importante: terrenos baixos, que podem ser invadidos pela maré, comprometem o resultado final, sendo necessário elevá-los e /ou dotá-los de elementos de contenção. Além disso, adequações do substrato podem ser necessárias, bem como do regime de regas e adubação.  

Solo arenoso

Em princípio, quando falamos de jardins à beira-mar, tratamos de solos arenosos. Portanto é mais adequado dar preferência a espécies que sejam bem adaptadas a este tipo de substrato ou, ao menos, tolerantes a tal condição. Para cultivar plantas que preferem terrenos argilosos, deve-se substituir o solo das áreas de plantio - o que tem custos financeiro e ambiental muito maiores e resultado estético potencialmente inferior.

Alternativas são a adição de terra argilosa e muita matéria orgânica para manter a umidade por mais tempo e, em conjunto, aplicar adubos que contenham macros e micronutrientes com o cálcio (Ca) já disponível. Assim o próprio insumo promove a correção do pH.

Vento salino

Há grande variação da incidência de ventos nas diversas regiões do litoral brasileiro, mas onde as rajadas são mais intensas, as plantas devem estar mais preparadas para essa condição, pois a exposição ao vento pode provocar rápida desidratação em plantas não-adaptadas, com um agravante: o “spray” salino (maresia) intensifica processo da perda de água.

Espécies que se adaptam ao vento litorâneo geralmente apresentam camada de cera protetora nas folhas; espessamento da estrutura (para maior acúmulo de água em seu interior); forma mais compacta/ modificada e/ou a redução da superfície foliar (folhas pequenas).  Portanto, observe tais características ao escolher os espécimes.

Regime de baixa manutenção

Muitas vezes os jardins à beira-mar são instalados em casas de veraneio e a manutenção tende a ser menos frequente e as inspeções mais esparsas. Nesse caso, plantas delicadas ou mais exigentes quanto ao zelo não são recomendáveis. O uso de variedades mais rústicas facilita o trato cotidiano e previne danos maiores se houver interrupções imprevistas dos cuidados com o jardim, mesmo que mais prolongadas.

Fontes: Heloiza Rodrigues, bióloga e paisagista, e Marcos Malamut, paisagista.