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"Hypes", trailers são usados como anexo da casa e têm decoração elaborada

Trailers antigos restaurados tornam-se febre, este é dos anos 1960, mas tem "decór 50" - Tony Cenicola/ The New York Times
Trailers antigos restaurados tornam-se febre, este é dos anos 1960, mas tem "decór 50" Imagem: Tony Cenicola/ The New York Times

Steven Kurutz

The New York Times, em Nova York (EUA)

13/12/2014 09h00

Sentada na pequena sala revestida por madeira cor de mel, em uma tarde chuvosa, Kelle Arvay demonstrava contentamento: “É difícil descrever a sensação de estar aqui dentro. É confortável. É um espaço que realmente passa uma sensação de segurança”. Arvay não estava descrevendo seu sobrado ao norte de Toledo, Ohio. Ela tinha convidado um visitante para o seu pequeno refúgio doméstico: um trailer Bellwood (1955). O trailer com quatro metros de comprimento está estacionado sob uma cobertura no quintal lateral da casa de Arvay. Seu revestimento de alumínio arredondado exemplifica a elegância e a robustez do design dos anos 50.

“Dormir em um destes é ótimo”, afirma ela, aninhada na pequena sala de jantar do trailer, que tem assentos de cabine e uma mesa dobrável que se converte em cama. “Especialmente à noite, quando começa a chover. É um som maravilhoso, o da chuva no telhado”, completa.

Arvay comprou o Bellwood por US$ 3,5 mil de alguém do Arizona e o veículo foi enviado para sua casa. Seu interesse em trailers começou há seis anos, quando adquiriu um Shasta Compact (1968) de um casal em Indiana. Ela havia planejado comprar um novo “motor home” para acampar com seu marido e seus três filhos, mas as dimensões reduzidas do Shasta (apenas três metros de comprimento) e seu estilo “vintage”, instantaneamente chamaram a atenção.

Não demorou muito até que ela estivesse negociando mais trailers para reformar e decorar (e, às vezes, vender) e narrando tudo em seu blog: littlevintagetrailer.com. Entusiastas dos trailers passaram a escrever para fazer perguntas, compartilhar histórias ou postar anúncios dos modelos à venda. Assim, uma comunidade foi formada e Arvay, ao que parece, tornou-se uma das pioneiras no que recentemente se configura como uma mania por "trailers de viagem".

Hipsters?

Atualmente os blogs sobre design estão cheios de fotos de trailers antigos brilhando ao sol, decorados em estilos que vão desde o "high-end" moderno ao "kitsch" retrô. No Pinterest, um trailer em particular - um Sprite (1957) pintado de branco e verde e fotografado em um jardim inglês - alcançou o status de objeto de desejo, aparecendo em dúzias de "pinboards" de usuários.

Originalmente concebidos para o "camping", esses veículos antigos estão sendo reutilizados de diversas maneiras: como estandes de padaria nas estradas, como casas de veraneio em um rústico pedaço de terra ou como estúdios no jardim para pintar ou escrever.

J. Wes Yoder, escritor que vive em Nashville, Tennessee, comprou um Shasta (1963) no eBay por US$ 1.900, o consertou e estacionou em seu quintal para utilizá-lo como uma pequena pousada. Ele começou a anunciar o trailer para alugar no site Airbnb e o lugar está sempre cheio. “Muitas pessoas que ficam aqui falam sobre o quão simples é. Sem TV, sem internet. É algo diferente”.

Anna Scribner, de 38 anos, que dirige a Flyte Camp, uma loja de restauração de trailers vintage baseada em Bend, Oregon, com o marido, Justin, credita ao movimento da casa minúscula – que cresceu por causa da crise financeira – em parte, o retorno aos trailers. “As pessoas amam a ideia de que possuem algo que ninguém pode tomar delas, não importa o quão pequena seja esta coisa”, afirma Scribner.

Pequenas e antigas moradas

Arvay, que possui uma propriedade de férias ao norte de Michigan que contém três pequenas casas, também vê similaridades entre as micromoradas e os trailers de viagem. “Tem a ver com a sensação aconchegante que eles lhe dão”, defende. Com seus fogões a gás, camas suspensas e mini refrigeradores, os trailers fazem uso inteligente do espaço limitado. “Tudo o que você iria precisar se vivesse nele, está lá”, resume.

Recentemente, em um sinal de popularidade renovada, a Shasta reeditou seu AirFlyte (1961), um modelo muito conhecido entre os aficionados por trailers por suas asas cromadas e seu formato de “presunto enlatado”. A empresa atualizou a aparelhagem e acrescentou um banheiro (muitas 'casas móveis' mais velhas e menores carecem de um vaso sanitário), mas preservou o estilo clássico, disse Mark Lucas, presidente da companhia.

Isto porque, para muitas pessoas, trailers antigos (ou com aparência “vintage”) são algo como uma capsula do tempo. “Estão tentando replicar o estilo de vida no qual cresceram ou voltar a uma época mais simples”, diz Lucas. Foi assim, aliás, que Scribner e sua esposa entraram no nesse mundo. Justin Scribner cresceu acampando com sua família em trailers e, logo após o casamento em 1998, ele surpreendeu a mulher com um Shasta AirFlyte (1958).

“Eu não tinha certeza se a surpresa era boa ou ruim, eu achava que trailers eram um lixo”, relembra Anna Scribner. Contudo, ela sempre apreciou o design retrô e, muito rapidamente, confessa: “Eu me apaixonei pelas linhas bacanas. Ele tinha puxadores de gaveta incríveis e o estofamento em ambos os assentos era original”.

Reformas

Reformar um trailer antigo pode ser bastante fácil ou um trabalho duro e intenso. Pete Whitley descobriu isso depois de ter visto um anúncio no Craiglist de um Shasta AstroFlyte, 1964 (que é semelhante ao Airflyte, mas com uma cana sobre a cabine) e pagado US$ 1 mil, sem tê-lo visto pessoalmente.

Até mesmo trailers bem preservados podem ter marcas na carroceria e ferrugem causadas por pausas prolongadas. Contudo, quando o novo trailer de Whitley chegou a sua casa perto de Atlanta, ele afirma: “Havia ratos mortos nas gavetas e danos onde a água havia infiltrado pela janela traseira. Eu peguei um pé de cabra e comecei a arrancar camada por camada de madeira podre. Quando percebi, tinha arrancado toda a parte traseira”.

Whitley, mecânico da Delta Airlines de 50 anos, consultou fóruns online como o “Repairing Yesterday’s Trailers”, e conseguiu reproduzir a coloração "áqua" original da Sherwin-Williams. Um ano e meio e US$ 6 mil depois, ele, sua esposa e seus dois filhos estavam levando ao casa sobre rodas para viagens de acampamento ao norte da Geórgia.

No fim das contas, defende Whitley, seu Shasta foi mais barato de restaurar do que um carro antigo teria sido e provoca mais olhares de admiração nas rodovias. “Trailers são como uma pequena casa – nada é tão caro assim. Além disso, você vê muitos carros antigos por aí. Isto ainda é uma peça incomum”.

Arvay, a blogueira que comprou, restaurou e vendeu diversos trailers ao longo dos anos, comprou recentemente outro Yellowstone (1963). Enquanto ela manteve seu Bellwood 55 vago e com aparência original, ela decorou de forma chamativa o seu Yellowstone um pouco maior, instalando um piso de cerâmico com estilo retrô e enchendo o trailer com acessórios populares como uma lata de presunto em conserva.

Seu filho Trace, de 5 anos, ama tanto o trailer, que os dois vão passar uma noite de sábado lá. “Nós vamos levar o Kindle, assistir um filme e acampar”, conta Arvay. Parada em frente a sua mais recente aquisição, ela admite que não foi fácil manter seu desejo de compras sob controle. “A graça salvadora é que eu não tenho mais qualquer espaço. Então, dois são o meu limite”.

Tradutor: Melissa Brandão Gubel (tradução) e Daiana Dalfito (edição)