Ingerir menos carboidratos e tomar sol podem turbinar a fertilidade

Fernanda Carpegiani
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Sabia que é possível dar uma forcinha para o organismo feminino e aumentar as chances de ter um bebê? Segundo especialistas em fertilidade, fazer acupuntura, dar preferência a alimentos orgânicos e ingerir menos carboidratos podem ajudar. "Quando a mulher não está conseguindo engravidar, tudo vale a pena e qualquer detalhe é importante", afirma Arnaldo Schizzi Cambiaghi, especialista em medicina reprodutiva e diretor do centro de reprodução humana do IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia). Veja a seguir quatro maneiras de turbinar a fertilidade.

Dieta balanceada

Equilíbrio é a palavra-chave da alimentação. Um estudo do Instituto de Medicina Reprodutiva Delaware, em Nova Jersey, nos Estados Unidos, avaliou a dieta de 120 mulheres que estavam fazendo tratamento de fertilização in vitro e concluiu que, quando a ingestão de proteína era superior a 25% da dieta e a de carboidratos inferior a 40%, a taxa de gravidez clínica subia para 80%. Mas, cuidado, cortar totalmente os carboidratos também não é saudável.

"Uma dieta balanceada é o ideal. Reduzir carboidrato e gordura pode ajudar aquela mulher com obesidade e sobrepeso a ovular melhor e engravidar", afirma Alfonso Massaguer, ginecologista e obstetra, professor responsável pelo curso de reprodução humana da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas) e diretor clínico da Clínica Mãe, ambas em São Paulo.

Estar em dia com a balança é importante para quem quer engravidar. "Existe uma relação entre quantidade de alimento disponível e fertilidade. Quando há excesso ou falta de alimento, há um desequilíbrio do organismo, e os hormônios da ovulação não são produzidos adequadamente. Perder 5% de peso já gera um impacto positivo", afirma Gustavo Arantes Rosa Maciel, ginecologista do laboratório Fleury Medicina e Saúde.

Alimentos orgânicos

Quanto mais natural melhor, porque alimentos que contêm agrotóxicos e outras substâncias químicas e industrializadas podem piorar a fertilidade. Um estudo da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, feito com mais de 18 mil mulheres, mostrou que, para cada 2% de aumento no consumo de gorduras trans, houve um aumento de 73% no risco de infertilidade ovulatória.

Anônimas e famosas contam como enfrentaram a dificuldade para engravidar

"Quando decidi engravidar já tinha passado dos 40 anos. Ficamos algum tempo nas tentativas caseiras até que resolvemos fazer exames para ver se estava tudo bem. Com 41 anos, meus óvulos não estavam tão animados e começamos a fazer tratamento com hormônio. Optamos por uma gravidez assistida, tomei uma série de hormônios, injeções e outras medicações. Ficamos muito focados. Em momento algum, passou pela nossa cabeça desistir de sermos pais. Se não desse certo dessa forma, iríamos adotar. Na terceira tentativa, deu certo. Foi maravilhoso. Depois que Marco e Massimo nasceram, nada do que imaginamos e fantasiamos era perto do que é na realidade. Ser mãe é deslumbrante." Suzy Rêgo, 46 anos, atriz, mãe dos gêmeos Marco e Massimo, 3 anos | Depoimentos dados a Cris Oliveira - Do UOL, em São PauloManuela Scarpa/Foto Rio News
"Meu maior sonho era poder ser mãe. Na adolescência, descobri que tinha ovário policístico. Ouvi que muitas mulheres que tinham esse problema engravidavam, nunca me preocupei. Em 2008, meu marido e eu resolvemos ter um filho. Comecei a ir a médicos, mas os tratamentos recomendados não adiantavam. Depois de várias consultas e uma cirurgia de videolaparoscopia, o médico sugeriu a fertilização in vitro. Tive 15 óvulos, dez foram fertilizados e apenas sete fecundados. Quinze dias após esse procedimento, fui fazer o exame para ver se tinha conseguido engravidar, mas deu negativo. Quis desistir, mas meu marido não deixou. Tentei novamente e, quando fui buscar o resultado, não acreditei, era positivo!" Amanda Verzimiase Gyurkovits, 31 anos, empresária, mãe de Bianca Verzimiase Gyurkovits, 1 ano.Arquivo Pessoal
"Desde 2009 tentava engravidar e não conseguia. Em 2010, fui a um especialista e descobri que tinha endometriose no útero e nas trompas. Em novembro do mesmo ano, operei e, em fevereiro de 2011, fiz minha primeira fertilização. Implantei dois embriões. Não deu certo. A segunda fertilização fiz em maio e meu único embrião restante era minha princesa. Bárbara nasceu em 1º de março de 2012. Em maio, inicio outro tratamento. Estou torcendo para dar certo na primeira tentativa." Lucia Rogeria Dorta Pompeu, 35 anos, zootecnista, mãe de Bárbara Orsini, 1 ano.Arquivo Pessoal
"Quando decidi engravidar, já tinha 37 anos, tentei por um ano e meio e nada. Até que os exames revelaram o motivo: uma trompa obstruída. Começamos a monitorar o período de ovulação e namorar nos dias mais propícios. Seis meses se passaram e nada. Cheguei a engravidar duas vezes, mas não conseguia segurar os fetos. Iniciei o tratamento de fertilização in vitro, mas as três tentativas fracassaram. Descobri que tinha déficit de progesterona, o que corrigi com 17 injeções, uma por dia. Após remédios, injeções na barriga e altas doses de hormônio, fiquei grávida! Tive alguns problemas durante a gestação, mas, aos oito meses, em 4 de janeiro de 2011, o tempo parou para eu ouvir o choro de Benjamin e Lara." Rosana Jatobá, 42 anos, jornalista, mãe dos gêmeos Benjamin e Lara, 2 anos.Reprodução/Contigo
"Comecei a tentar engravidar em 2006, quando tinha 33 anos. Como minha irmã havia engravidado muito rápido, achei que também aconteceria comigo. Não foi assim. O ano de 2007 foi terrivelmente frustrante, pois era uma espera todos os meses. O começo de 2008 não foi melhor que isso. Meu marido começou a fazer exames e o forte estresse em que ele estava acabou se revelando em uma contagem baixa de espermatozoides. Optamos então por uma fertilização in vitro. Tive um problema durante a gestação, uma sépsis (infecção generalizada), na metade do sexto mês de gestação. Meu bebê nasceu prematuro e ambos corremos sério risco de morrer. Só o conheci quatro dias depois do nascimento. Felizmente, saímos os dois muito bem disso tudo e muito unidos, os três." Nikelen Acosta Witter, 39 anos, historiadora e escritora, mãe de Miguel Witter Farinatti, 4 anos.Arquivo Pessoal
"Casada há sete anos, por dois anos, tentamos sem sucesso a tão sonhada gravidez. Em 2011, marquei uma consulta com uma médica especialista em reprodução humana e endocrinologia. Meu quadro era de ovário policístico, hipertireoidismo e, na consulta, descobrimos um septo no útero. Saí do consultório com medo e angustiada. Tentamos o coito programado sem indução, e depois partimos para a introdução dos remédios no ciclo. Em agosto de 2011, a médica sugeriu uma inseminação. A primeira tentativa não deu certo, chorei muito, foi horrível. Na segunda, em setembro do mesmo ano, o teste deu positivo, estava finalmente grávida. Tive alguns problemas durante a gestação, que foi de risco. Alice nasceu com 36 semanas, ficamos 17 dias na UTI. Mas não mudaria nada. Ter ela foi uma felicidade que não cabia em mim." Sandy Bahia, 39 anos, designer, mãe de Alice, 11 meses.Nathália Peçanha
"Por seis meses, tentei engravidar naturalmente e não consegui. Como sabia que tinha ovário policístico, decidi procurar um médico. Durante alguns exames, constatou-se que minha produção de óvulo não estava muito boa. O médico sugeriu que eu tomasse um indutor de ovulação durante três ciclos. Estava com muito medo de ter de ficar anos tentando engravidar, mas, na primeira tentativa, consegui! Durante as primeiras semanas, fiquei com medo de dar alguma coisa errada com a gravidez, então fiquei tensa até ouvir o coração bater. Depois disso, relaxei e minha gestação foi maravilhosa, nem enjoo eu senti! Foi tudo perfeito até o Eduardo nascer." Andréia Robert Bebiano Montini Gava, 29 anos, mãe de Eduardo Robert Bebiano Gava, 1 ano.Arquivo Pessoal
"Em menos de dois anos, tentei por sete vezes engravidar fazendo fertilização in vitro. Depois de algumas tentativas sem resultado, você começa a se sentir uma fracassada e vai tentando como uma maluca. Nesse processo, quase morri, meus triglicerídios subiram muito e meu fígado aumentou dez centímetros. Nada disso me fez desistir do sonho de ser mãe, vou realizar esse sonho sim. Tenho total certeza de que nasci para ser mãe. Já queria ser mãe quando era criança! Entrei com o processo para adoção. Estou calma, esperando que uma criança me escolha." Christiana Guinle, 47 anos, atriz.Reprodução/Facebook
"A ansiedade adiou minha gravidez. Em abril de 2011, comecei a me preparar para engravidar. Como não fazia uso de anticoncepcionais, tinha certeza de que logo engravidaria. Nas primeiras tentativas, não conseguimos, mas continuamos. O tempo passou e me angustiei. Então, em novembro de 2011, depois de três alarmes falsos, eu desisti! Já cheia de dúvidas sobre a minha saúde ou do meu marido, resolvi abandonar o projeto. No final do ano, em 30 de dezembro, com a menstruação atrasada por alguns dias, fiz o teste de farmácia sem nenhuma esperança e deu positivo. Chorei! Alice está hoje com oito meses e não sei como seria minha vida sem ela." Claudia Behr Valente, 30 anos, pedagoga, mãe de Alice, 8 meses.Arquivo Pessoal
"Após um ano de casados, meu marido e eu resolvemos aumentar a família. Procurei um ginecologista e fui diagnosticada com endometriose. Após finalizar o tratamento, continuei sem conseguir engravidar. Procurei um especialista em reprodução humana que recomendou a fertilização. Como o tratamento era caro, resolvemos dar um tempo para nos prepararmos financeiramente. Foram mais dois anos de espera. Já estávamos desanimados e havíamos desistido de tentar naturalmente. Há um mês, descobri que estou grávida. Meu maior sonho está sendo realizado." Gizeli Cristina, 29 anos, advogada, grávida de 37 semanas.Arquivo Pessoal
"Aos 40 anos, resolvi engravidar, procurei meu médico. Meu marido (o ator Paulo César Grande) e eu fizemos exames e estava tudo certo. Depois de algumas tentativas sem sucesso, resolvemos consultar um especialista. Ele sugeriu que fizéssemos a fertilização, mais pelo avançado da idade. Não tive o estresse que muitas pessoas têm quando passam por esse tratamento. Não consegui engravidar na primeira fertilização. Na segunda tentativa, no dia em que fui fazer o exame para saber se tinha dado certo, sangrei e fiquei um pouco grilada. Mas para minha felicidade, o resultado foi positivo. Quando soube que esperava gêmeos, foi uma grande alegria. Vale muito a pena fazer todo procedimento, é a realização de um sonho." Cláudia Mauro, 44 anos, atriz, mãe dos gêmeos Pedro e Carolina, 2 anos.J. Humberto/Agnews

No caso dos produtos com agrotóxicos, o problema são as dioxinas, presentes em herbicidas e inseticidas. "A dioxina afeta a fertilidade, isso é comprovado cientificamente. Os alimentos orgânicos têm um espaço interessante, porque não contêm substâncias presentes naqueles produzidos em larga escala com agrotóxicos", diz Gustavo Arantes Rosa Maciel. O preço desse tipo de produto ainda é elevado no Brasil, mas uma boa alternativa é comprar diretamente dos produtores.

Acupuntura

Usada de rotina em outros países, essa terapia complementar ajuda a aliviar as tensões de quem está tentando engravidar e, consequentemente, tem um impacto positivo na fertilidade. "A ansiedade e o estresse aumentam a quantidade de cortisol no sangue, o que prejudica o perfil ovulatório", declara Gustavo Arantes Rosa Marciel. Uma pesquisa do Instituto Christian Lauritzen, na Alemanha, acompanhou 160 mulheres em tratamento de reprodução assistida e constatou que 42,5% das que fizeram acupuntura conseguiram engravidar. No grupo das que não fizeram, apenas 26,3% engravidaram.

A prática também pode melhorar a vascularização do útero. "Estudos clínicos demonstraram que pacientes portadoras de infertilidade primária, com síndrome de ovários policísticos e com aumento do nível de testosterona, após o tratamento de três meses com acupuntura, tiveram melhora do fluxo menstrual e aumento da espessura do endométrio, demonstrando o efeito da técnica no eixo hipotálamo-hipófise-ovário", afirma Arnaldo Schizzi Cambiaghi em seu livro “Fertilidade Natural” (LaVidapress).

Sol (vitamina D)

Muitas pesquisas já mostraram que a vitamina D, presente nos raios solares, tem uma função importante na concepção. Um estudo feito no Hospital Maggiore Policlinico, na Itália, neste ano, avaliou o sucesso da fertilização in vitro em 181 mulheres com níveis bons de vitamina D e 154 mulheres com níveis baixos da vitamina e concluiu que o primeiro grupo tinha quase o dobro de chance de engravidar do que o segundo.

"A vitamina D é necessária para a produção de hormônios responsáveis pela ovulação e por isso  afeta a fertilidade", diz Gustavo Arantes Rosa Maciel.