Creche na empresa dá segurança aos pais e facilita amamentação
De 2003 a 2013, a participação do sexo feminino na força de trabalho do país passou de 43% a 46%, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), considerando algumas das principais capitais. O crescimento, porém, não tem sido acompanhado por um processo de adequação das empresas em diversos quesitos, como a oferta de creches internas.
A volta ao trabalho após o fim da licença-maternidade costuma tirar o sono de muitas mulheres ainda durante a gestação. Como vou conseguir amamentar o bebê? Quem vai cuidar dele enquanto eu estiver fora? Meu expediente começa muito cedo, onde vou encontrar um berçário que funcione no mesmo horário?
Em resposta, muitas novas mães apresentam queda na produtividade ou seguem dando conta de suas tarefas, mas enfrentam problemas emocionais, sentem-se culpadas por não estarem cuidando do filho como desejam. Outras pedem demissão para se dedicarem, exclusivamente, à criança.
Empresas com mais de 30 funcionárias com idade superior a 16 anos precisam manter um local no qual as mães possam dar assistência aos seus filhos no período de amamentação ou pagar auxílio-creche, valor destinado a arcar com parte dos custos que as famílias têm ao matricular a criança em um estabelecimento desse tipo. A primeira opção, ainda que pouco utilizada pelas companhias –que alegam falta de espaço e alto custo de manutenção– alia benefícios para adultos e crianças.
Os berçários –terceirizados ou geridos pela própria empresa– são considerados departamentos da companhia e precisam ser autorizados e constantemente fiscalizados pela Vigilância Sanitária. No entanto, não existe dado oficial sobre a quantidade de empresas no país que tenham creches. Levantamento da consultoria Hewitt, de 2011, mostra que menos de 5% das companhias no Brasil oferecem esse benefício.
“É cada vez mais presente na vida das corporações a ideia de que o capital mais importante que elas têm é o humano”, afirma Danielle Wolff, sócia-fundadora do Ceduc, empresa prestadora de serviços educacionais, especializada na criação e gestão de creches no interior de empresas.
Amamentação prolongada
A Natura oferece o serviço de berçário, diariamente, das 5h20 às 20h, na unidade de Cajamar, na Grande São Paulo; e das 7h45 às 20h, na capital paulista, 100% subsidiado. “Assim, a mãe pode acompanhar e participar da educação do filho na primeira infância realmente de perto, dos quatro meses até os três anos”, afirma Fátima Rosseto, diretora de desenvolvimento e educação da empresa. Embora itens como produtividade e clima empresarial não sejam mensurados oficialmente em relação ao benefício, ela reconhece que a oferta é um fator de atratividade e retenção de talentos.
“O benefício do berçário reflete um cuidado macrossocial: o reconhecimento que a criança é um compromisso não só da família, mas da sociedade”, diz Anna Chiesa, consultora técnica do Programa Primeira Infância da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal e professora doutora da Escola de Enfermagem da USP.
Para Anna, é vital que as empresas aprendam a se moldar à realidade de ter mais mulheres no quadro de funcionários. “Se antes elas ficavam em casa, hoje são requisitadas pelo mercado, então, o ambiente de trabalho precisa considerar isso. É tudo uma questão de adequação.”
Na Unilever, que mantém um berçário em sua unidade de São Paulo para crianças de até dois anos, o benefício é concedido também para os pais. Homens e mulheres têm uma coparticipação que varia de acordo com o salário, respeitando um limite de valor. “O espaço funciona das 7h às 19h, para que os familiares das crianças possam fazer seus horários, adequando o ritmo de vida à carga de trabalho”, diz a diretora de RH Claudia Cavalcante. Além de visitar os filhos durante o expediente, eles podem participar do momento das refeições também.
Há 23 anos, a Embraco, em Joinville (SC), também mantém um berçário e se orgulha de ter entre as mães uma taxa de absenteísmo no trabalho menor do que as das mães de outras empresas da região.
Segundo a gerente de recursos humanos Adriana Horbatiuk, a funcionária pode começar a trabalhar 30 minutos mais tarde para amamentar o filho. No meio da jornada, é chamada novamente para tal atividade e, ao final, liberada 20 minutos mais cedo, novamente para garantir o leite materno. Além desse tempo todo, tem a possibilidade de ir ao espaço durante o intervalo para o lanche.
O espaço na Embraco fica sob responsabilidade do Sesc Escola do município e, tal como os outros berçários citados nesta reportagem, conta não só com cuidadores, mas com educadores, responsáveis por atividades realizadas durante todo o tempo em que as crianças lá estão. O benefício é gratuito para quem tem crianças de até um ano. Funcionários do sexo masculino também podem contar com o berçário, mas, para eles, há um custo desde o início.
Passar mais tempo com a criança, ainda que fracionado ao longo do dia, é uma maneira de garantir a amamentação exclusiva até, pelo menos, os seis meses, e a extensão da oferta do leite materno por mais tempo (a Organização Mundial da Saúde recomenda amamentar até os dois anos ou mais).
Outro ganho é a prorrogação do que os especialistas chamam de cordão umbilical psicológico entre mãe e filho. “A necessidade emocional da mulher de prover o filho é bem maior que a dele. Na realidade, se o bebê estiver sendo bem cuidado por um adulto, estará bem, com suas necessidades básicas garantidas”, fala Anna.
De acordo com Lucília Santana Faria, pediatra e coordenadora da UTI pediátrica do Hospital Sírio-Libanês, na capital paulista, ao ser amamentado por mais tempo, os ganhos para a saúde do bebê são importantíssimos –para o crescimento, ganho de peso, qualidade da dentição, entre outros. No mais, ela diz que, ao ter o filho por perto, a mulher tem condições de acudi-lo caso aconteça algo, o que dá mais segurança e tranquilidade a ela no dia a dia.
Outro ganho –este mensurável– para as famílias tem a ver com a redução de custos com itens de higiene, por exemplo. Tal como outras empresas, a Avon arca com as fraldas, itens de higiene e a alimentação. “As crianças podem ficar dos seis meses –quando as mães retornam da licença-maternidade– até dois anos”, diz Marcio Castilho, gerente sênior de RH da empresa.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.