Topo

Seu chefe é incompetente? Aprenda a lidar com ele

Pesquisa revela que 60% dos brasileiros estão insatisfeitos com seus chefes - Getty Images
Pesquisa revela que 60% dos brasileiros estão insatisfeitos com seus chefes Imagem: Getty Images

Juliana Zambelo

Do UOL, em São Paulo

13/11/2013 07h11

Em uma pesquisa divulgada em agosto deste ano, a empresa de recrutamento Vagas revelou que 60% dos brasileiros estão insatisfeitos com seus chefes. Na enquete, respondida por mais de dez mil trabalhadores, a maioria dos gestores são descritos como bipolares, autoritários, inseguros ou enroladores. Além disso, 36% dos que opinaram na pesquisa consideram pedir demissão por causa de seu superior.

Segundo especialistas ouvidos por UOL Comportamento, o alto nível de insatisfação pode ser consequência de diferenças na forma de trabalhar, de se relacionar, dificuldade de entender os desafios daquele cargo e reconhecer os méritos do superior ou até mesmo inveja. Mas o problema, muitas vezes, está mesmo com quem está ocupando o cargo mais alto. Para os especialistas, de fato, existem muitos chefes incompetentes e despreparados para a posição que ocupam.

Clara Linhares, professora da Fundação Dom Cabral com experiência em desenvolvimento gerencial e de pessoal, afirma que o tipo mais comum de chefe incompetente é o que não tem preparo para gerenciar. “O chefe não precisa ter conhecimento de tudo, ele precisa liderar a equipe”, diz.


Edilberto Camalionte, sócio da empresa de treinamento corporativo Atingire, concorda que o profissional que não sabe chefiar é facilmente encontrado no mercado. “A pessoa tem um bom desempenho técnico e vira chefe por isso, mas é um péssimo gestor. Não sabe delegar, resolver conflitos, dar feedback”. Para ele, esses casos são consequência da falta de visão da empresa, que não sabe identificar se o bom funcionário tem perfil para o cargo de liderança.

Outro tipo comum de chefe incompetente é aquele que não conhece o trabalho e não tem qualidades para gerir pessoas, mas foi promovido por ter boas relações pessoais. “A colocação dele como chefe pode ser porque ele é amigo ou parente de alguém", fala Beto Ribeiro, autor do livro "Eu Odeio Meu Chefe" (Universo dos Livros). 

Você está com inveja?

Reclamar de chefe é comum no ambiente de trabalho, mas, em alguns casos, não passa de implicância, imaturidade e inveja por parte do funcionário.

“Muitas vezes a pessoa tende a achar que chefe não faz nada, que quem faz tudo é ela. Pode ser uma questão de inveja profissional, porque o chefe conseguiu algo que aquela pessoa ainda não conseguiu”, diz o escritor Beto Ribeiro, autor de "Eu Odeio Meu Chefe" (Universo dos Livros).

Para Edilberto Camalionte, especialista em treinamento de profissionais, o funcionário deve ter maturidade para entender que o chefe representa os interesses da empresa, e que nem sempre isso casa com o seu interesse.

Clara Linhares, que trabalha com desenvolvimento de pessoas, afirma que quem critica o seu chefe sem ter razão não será vista com bons olhos no trabalho.

“Você não precisa ocupar o lugar do seu chefe o desqualificando. Precisa mostrar quem é você”, diz.

Mau exemplo

Um chefe incompetente não atrapalha apenas o humor do funcionário. Ele pode desestabilizar uma equipe e afastar bons profissionais e, com isso, trazer prejuízos à empresa.

Clara Linhares afirma que, quando o líder é ruim, a equipe fica desmotivada e trabalha menos. O chefe incapaz abafa os talentos dos seus funcionários por insegurança. “Ele pode dificultar o crescimento dos profissionais, não permitindo que as pessoas se desenvolvam para que elas não se sobressaiam diante dele”.

Esse profissional pode criar climas ruins no ambiente de trabalho por não saber liderar. Ele pode cometer injustiças e tratar funcionários de formas distintas, jogando as pessoas umas contra as outras, ou assumir um papel autoritário e agressivo, fazendo com que as pessoas fiquem com medo.

“Quando um funcionário se sente ameaçado, fica paralisado e começa a pensar em como fazer para sair daquela empresa. E esse mal-estar contagia a todos”, fala Edilberto.

Outra consequência ruim é fazer com que se crie a impressão de que, para crescer naquela empresa, é preciso agir da mesma forma que seu mau gestor. “O funcionário começa a pensar que, se aquela pessoa é chefe, para chegar a um cargo de chefia ela deve ser igual a ele”, diz Edilberto.

Livre-se dele

Quando se trata de chefes incompetentes, os especialistas são unânimes em um ponto: se seu chefe é assim, o mais sensato é sair. Primeiro, verifique na empresa se há possibilidade de uma mudança. Se não tiver, é importante pensar em trocar de empresa. "O chefe pode ficar ali muito tempo, dependendo no nível de poder e conveniência à empresa”, diz Clara.

Esperar que a empresa reconheça as falhas do gestor pode causar apenas a frustração e descontentamento. “A empresa percebe, recebe informações, mas pode ser estratégico deixar aquela pessoa lá. Há sempre algum interesse por trás”, fala Clara.

Enquanto a oportunidade de trocar de equipe ou emprego não surge, alguns cuidados devem ser tomados no dia a dia. Um deles deve ser o de se diferenciar do chefe, tentando mostrar para outros gestores que a incompetência é do líder, e não de toda a equipe.

Clara aconselha a não ficar falando sobre sua insatisfação com colegas de trabalho, porque a conversa pode cair no ouvido do superior, que poderá usar seu poder para prejudicar o funcionário. Outro conselho: estar atento para que ele não se aproprie indevidamente de seus projetos e sugestões. “Quando for falar de suas ideias, divida-as com mais pessoas”.

Caso o chefe seja do tipo que não assume suas responsabilidades, avalie se deve fazer isso por ele. Para Edilberto, essa atitude só vale a pena se o funcionário acreditar que seu esforço será visto por outros gestores e que, com isso, terá melhores chances de crescer. “Deve-se pensar quais são os prós e os contras de fazer o trabalho e carregar o chefe nas costas. Vai depender muito. O chefe, além de incompetente, pode ser mau caráter e, percebendo isso, começar a apresentar o trabalho do funcionário como dele mesmo”.

Clara Linhares sugere cautela. “O funcionário tem de assumir a responsabilidade do seu trabalho, mesmo que o chefe não o cobre por isso. Se você sabe qual é a sua função, faça-a. Mas não abrace as tarefas do chefe, ou ele pode pensar que você está querendo passar por cima dele”.