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Adquirir móveis usados exige "olhar de garimpeiro" e clareza na compra

Devido à variedade e disposição desordenada dos itens, vá à uma loja de usados com uma peça em mente - Getty Images
Devido à variedade e disposição desordenada dos itens, vá à uma loja de usados com uma peça em mente Imagem: Getty Images

Karine Serezuella

Do UOL, em São Paulo

13/11/2013 07h10

De acordo com a ideia sustentável do reúso, os móveis e objetos usados carregam também histórias e incorporam personalidade a qualquer estilo de decoração. Peças antigas ou apenas de segunda mão são encontradas em antiquários, lojas de usados (das de alto padrão às mais simples), bazares beneficentes ou mesmo feiras de bairro.

No entanto, certos cuidados devem ser tomados para que a “garimpagem” do item desejado seja um sucesso, sem transtornos posteriores à compra. Veja as dicas e renove o ambiente com elementos de épocas passadas.

Exercite o olhar

Cogitar comprar um móvel usado, com imperfeições na madeira ou no tecido, por exemplo, pode levar à primeira impressão de que aquilo não tem beleza ou valor. Mas, de acordo com o arquiteto Vitor Penha, é uma questão de enxergar a possibilidade de recompor a peça. “É aceitar que o que é velho pode ficar bonito”, defende Penha, que costuma reutilizar em seus projetos itens de segunda mão, com as “marcas da memória”, sem muita intervenção.

O arquiteto Gustavo Calazans, também adepto dos elementos reaproveitados, afirma que esses móveis tendem a levar personalidade aos ambientes, porque podem dizer respeito a algo que vivemos no passado. Porém, somente com um olhar curioso e cuidadoso é possível discernir, por exemplo, que aquele sofá usado pode ser repaginado para o novo e pretendido uso. “Às vezes, você vê uma peça com um desenho que ultrapassou o tempo e enxerga a durabilidade do móvel acima de qualquer tendência”, diz Calazans.

Para que esse tipo de julgamento seja mais certeiro, uma dica é aumentar o repertório sobre o universo do reúso: vasculhe revistas de decoração, sites e blogs que tratam sobre o tema e converse com pessoas que já investiram em peças usadas.

Elementos "das antigas" cabem no décor clássico e até moderno

  • Divulgação

É comum que, ao entrarmos pela primeira vez  em uma loja que vende mobiliário de segunda mão, a quantidade, a variedade e a disposição aparentemente desordenada dos produtos cause espanto.

Para não se perder nesses mares de tampos, pés, espaldares e estofamentos e acabar desistindo da compra, Penha aconselha aos compradores de primeira viagem ir em busca de um tipo específico de peça. “É bom ter um foco, mas conforme você vai treinando o olhar na 'garimpagem', começa a ver possibilidades em tudo”, pondera.

Examine bem

Outra recomendação, importante aos inexperientes na aquisição de objetos usados, é ter cautela na procura e clareza na negociação. Existem lojas que trabalham com garantias de qualidade do produto, no entanto, em muitas delas, a única saída é confiar no lojista. Por isso, um com conselho é ir a locais indicados por profissionais, amigos ou familiares.

Ao escolher um móvel ou objeto, especialmente caso ele esteja posicionado no alto de prateleiras ou pilhas de móveis, peça ao vendedor para que desça o item desejado. Com um olhar atento, verifique a integridade do elemento. Por exemplo: abra e feche cada gaveta existente, retire cada uma delas e as examine minuciosamente; olhe sempre embaixo da peça, qualquer que seja sua natureza; sente e teste a estrutura dos assentos (cadeiras, poltronas, bancos e sofás); confira se estruturas como pés, espelhos e prateleiras estão fixas. E atenção: “Em casos de mobiliário de madeira, pergunte se o item passou por tratamentos para a eliminação de cupins e se há garantia quanto a isso”, indica Penha.

Essa avaliação da estrutura do móvel é essencial para negociar o valor final do objeto/móvel. Para Calazans, mesmo para peças de época que podem até ter um valor agregado por sua raridade, há sempre uma elasticidade no custo, por isso, sempre barganhe o preço.

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  • Fernando Donasci e Leonardo Soares/UOL

Outro cuidado ao fechar o negócio é confirmar o que está incluso no valor a ser pago. Por exemplo, se o custo cobre o conserto de determinados defeitos. Caso eventuais reparos não estejam inclusos no custo bruto da peça, negocie previamente os valores e registre-os em contrato, discriminando os materiais e serviços a serem feitos.

Para móveis de madeira, segundo Calazans, dificilmente há comprovação da tipologia e da procedência do material por parte das lojas. “Se você quer saber se aquela poltrona é de determinado design original, uma pesquisa na internet pode ajudar, mas conhecer a madeira que está adquirindo depende do atestado de um profissional, o que é mais complicado”, salienta.

Recompondo o objeto

Todavia, não pense que todos os elementos de segunda mão demandam restauração ou reparo. Esses itens são muitas vezes comercializados em bom estado de conservação e mesmo as pequenas imperfeições podem dar um charme a mais à peça. Por outro lado, dependendo do uso na decoração da casa, você pode recompor o objeto. “Existe a possibilidade de forrar gavetas, colocar um novo tampo em uma mesa, laquear ou pintar a madeira, trocar o tecido do estofado”, elenca Penha.

Muitas lojas vendem as peças como estão, mas há lugares que prestam serviços de reforma e restauro. Se a intenção é mesmo repaginar o móvel, não deixe de pesquisar também os preços em marcenarias e tapeçarias. Porém, Calazans ressalta que a mão de obra desses serviços pode ser cara, por isso, sugere que em casos mais simples os reparos e repaginações sejam  feitos no clima “faça você mesmo”.

No caso de alguns eletrodomésticos usados, como geladeiras e fogões, é preciso ter consciência de que, por serem antigos, podem não apresentar as facilidades de produtos novos, como o degelo e o acendimento automático, respectivamente, além da probabilidade de consumirem mais energia. “Mas com esse novo olhar, você pode enxergar outro uso para a peça. Eu mesmo tenho em casa uma geladeira que era da minha avó e que hoje funciona como um bar”, conta Calazans.