Barriga de Ronaldo não é a única patrulhada; você passa por isso?
Há uma preocupação mundial com a obesidade, cujo índice não para de crescer. De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), atualmente, cerca de 1,6 bilhão de adultos está na faixa de obesidade. Em 2015, o número tende a subir para 2,3 bilhões, o que corresponderá a cerca de um terço da população mundial.
No Brasil, dados de 2012 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) informam que 50,1% dos homens e 48% das mulheres com mais de 20 anos está acima do peso. Especialistas são unânimes em afirmar que há uma pandemia mundial de obesidade.
Embora sejam muitos, os obesos ainda são tidos como "diferentes" e "fora dos padrões", o que faz com que o fato de ser gordo, hoje, tenha ainda mais barreiras do que há dez ou vinte anos.
Quem está acima do peso reclama que é vítima de uma patrulha constante. O ex-jogador de futebol Ronaldo, por exemplo, sempre é notícia quando aparece sem camisa (mesmo não sendo mais atleta e sua forma física não influenciar em nada a sua atual carreira, de empresário).
Para o psiquiatra Adriano Segal, diretor do Departamento de Psiquiatria e Transtornos Alimentares da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica), um dos fatos que explicam a vontade generalizada de emagrecer, em contrapartida aos ponteiros da balança que não param de subir, é que o baixo peso virou uma espécie de símbolo de status sócio-econômico. "Por isso é tão valorizado", diz.
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- http://mulher.uol.com.br/comportamento/enquetes/2013/07/24/voce-acha-que-as-pessoas-patrulham-a-sua-forma-fisica.js
"Os padrões tidos como ‘aceitáveis’ de magreza e obesidade estão muito mais estreitos hoje. Agora, a pessoa precisa ser muito mais magra para ser considerada doente e muito menos gorda para não se sentir excluída", afirma a psicanalista Joana de Vilhena Novaes, coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro).
As mulheres se tornaram ainda mais críticas, de acordo com a psicóloga Patricia Spada, doutora em Nutrição e Pós-Doutoranda em Ciências da Saúde pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), pois se ocupam primeiramente em observar mais as outras do que os homens no que diz respeito ao corpo.
"Nunca fui magra. Sempre tive altos e baixos. Às vezes, me sentia mal e começava uma dieta; em outras fases me sentia bem e desembestava a comer. Porém, sempre fiz os outros acreditarem que eu era bem resolvida, mesmo que estivesse desconfortável com meu peso. As pessoas acham que porque hoje há mais informação e academias todos deveriam ser magros. A cobrança é bem maior. Sem contar que se dão o direito de julgar os outros pelo peso. Todo mundo come batata frita, mas se ela está no prato do gordinho, é porque ele é desleixado. A patrulha vem de todos os lados. Na novela ‘Amor à Vida’, por exemplo, a desesperada para perder a virgindade é a gordinha. Muita gente acha que ser gordo é uma opção, mas há quem sofra com a compulsão alimentar, que é o meu caso. Sei que devo e quero emagrecer, mas por questão de saúde". Débora Cristina Guerra Cristofani, 31 anos, analista de negócios de São Paulo (SP).
Comer em público é um tormento para muitos obesos, que têm a impressão –na maior parte das vezes com fundamento– de que todo mundo fica de olho no que ele vai colocar no prato. E o olhar, em geral, é de reprovação. Segundo Joana, as pessoas acham que diante de tantas opções saudáveis de comida, os obesos deveriam saber escolher melhor.
Vários fatores interferem nessa condição, como alterações metabólicas e endócrinas, estilo de vida e até problemas emocionais, como ansiedade e insegurança, que levam a pessoa à compulsão alimentar. "E não podemos esquecer que o culto à forma física demanda tempo e dinheiro", diz Joana de Vilhena Novaes.
O poder dos estereótipos
"Gosto de mim do jeito que sou. Nunca tive problemas com meu corpo e quem se relaciona comigo também não. Sou bem casada e, antes disso, sempre fui muito namoradeira. Nunca reclamei ou reclamaram de nada! Só emagrecerei se for por problemas de saúde. Por enquanto, tirando uma dorzinha do joelho, a saúde vai bem. Não estou nem aí para o que o povo acha. A sociedade pode olhar torto, mas eu não presto atenção. Uma coisa que me incomoda é o tal do politicamente correto e o tal de ‘plus size'. 'Plus size' é o caramba! Eu sou gordinha, mesmo, e feliz". Nádia Argeri Burghi, 41 anos, ilustradora, de São Paulo (SP)
Na opinião dela, a pessoa deve procurar ajuda porque tem vontade de perder peso, porque ela se incomoda e quando se acha pronta para mudar, não por pressão.
Os homens são avaliados como preguiçosos, pouco enérgicos, lentos, desleixados, descontrolados e pouco confiáveis, segundo ela. "A sociedade se agarra a falsas crenças e as aceita como verdades absolutas, estigmatizando ainda mais quem tem excesso de peso. Muitas vezes, os próprios obesos acabam assumindo esses rótulos", afirma Luciana Kotaka.
"O que hoje chamam de bullying antes era tiração de sarro. Sempre tive bom humor. Acho que quem se preocupa com a aparência esquece daquilo que está por dentro. E eu sempre digo: gordo não é só gordura, é ternura, gostosura e cultura. Mas tudo é pensado para um padrão físico, desde as roupas até as cadeiras de cinema, poltronas de avião, catracas de ônibus... A sociedade deveria entender que somos iguais a eles, os magros, só ocupamos um espaço um pouco maior". Marcelo Lohmann, 39 anos, representante comercial, professor de dança de salão e enólogo, de Massaranduba (SC)
Defesa e decisão
"A obesidade é um fator de exclusão. Não dá para fechar os olhos e ignorar que ela prejudica várias esferas da vida, como a sociabilidade, a acessibilidade, o trabalho, a vida afetiva. Assumir uma persona ajuda a driblar as dificuldades, mas não a resolvê-las”, diz Joana.
"O sofrimento dependerá da condição psicológica de cada um, de como a pessoa se vê. A obesidade não impede a realização pessoal", afirma. O segredo para enfrentar qualquer adversidade está em reconhecer em nós mesmos as capacidades e os limites. Essas duas condições nos permitem ser quem somos em quaisquer circunstâncias, independentemente do que o outro pense.
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