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Saiba até que ponto apoiar a admiração do jovem por um ídolo

Rachel Perez acompanhou a filha, Lara, ao show do Justin Bieber - Arquivo Pessoal
Rachel Perez acompanhou a filha, Lara, ao show do Justin Bieber Imagem: Arquivo Pessoal

Ludmilla Paiva Ortiz

Do UOL, em São Paulo

11/07/2013 08h05

Sentir admiração por artistas famosos da música, da TV ou do cinema faz parte da vida de qualquer adolescente. “É saudável que o jovem procure referências fora do contexto familiar e inspiração na construção de sua identidade”, afirma a psicóloga Lídia Weber, professora da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e autora do livro “Eduque com Carinho”.

Se o comportamento faz parte da formação do adolescente, qual papel cabe aos pais?

“De vez em quando, é bacana que os pais acompanhem os filhos em seus interesses e participem da vida deles. O envolvimento parental é importante para demonstrar afeto. O problema está em gastar muito dinheiro com isso ou alterar, constantemente, o dia a dia da família por causa do ídolo”, diz a psicóloga Lídia, que, muitas vezes, acompanhou os filhos, quando adolescentes, a shows.

Para ela, existem quatro tipos de pais. Um deles é o permissivo, que dá muito afeto e poucos limites. “É o que pensa 'quero que meu filho tenha tudo o que não tive', prioriza a realização do filho e pode esconder um medo de não ser amado.”

O segundo tipo é o pai autoritário, que não dá muito afeto e proíbe tudo o que está ao seu alcance. O terceiro é o pai negligente, que não dá limite nem afeto. O quarto tipo, o participativo, é o ideal: envolve-se nos interesses do adolescente, ensina como o mundo funciona e impõe limites.

“Os pais colaborarem para que o filho vá a um show importante é saudável, mas ter os mesmos comportamentos fanáticos é ultrapassar a linha. Talvez sejam pais que sintam estarem perdendo a juventude. Talvez percebam que o filho está buscando uma referência externa e, com receio de não serem mais amados, querem estar por perto”, afirma Lídia.

De mãe para filha

A representante de vendas Rachel Perez, 39, tem coleções de vinis, CDs, DVDs, pôsteres e revistas da Madonna. Ela curte tanto a artista pop que sua filha, Lara Gonçalves, 12, também tomou gosto pela cantora. “Só que entre ela e o Justin Bieber, fico com o Justin”, diz a garota.

As duas foram juntas ao show da cantora, em dezembro de 2012, e também estiveram no de Bieber no Brasil, em 2011, ambos em São Paulo. “Chegamos cedo e esperamos algumas horas para ver ele entrar. Para que eu visse melhor o meu ídolo no palco, minha mãe me carregou nos ombros”, fala a menina.

Rachel teve um site sobre Madonna, mas o abandonou para se dedicar melhor ao trabalho. ”Sei como é ser fã e converso muito com a Lara sobre nossos ídolos. Sempre alerto sobre o que isso pode ocasionar, mas não crio limites porque, por enquanto, essa admiração pelo Justin Bieber não causa nenhum mal a ela”, diz a representante de vendas.

Fã empreendedora

Vera Bonafé, 49, e a filha, Marcela, 16, são companheiras de shows. Elas já viajaram para o Rio por causa da Katy Perry. Passaram horas na porta de um evento na cidade que a menina pudesse ver a cantora americana. Também foram a shows de Lady Gaga, Green Day, High School Musical, KLB, Justin Bieber, Jonas Brothers, Sandy & Junior, Bruno Mars, Roger Waters (ex-integrante do Pink Floyd) e Elton John. Só falta um nome na lista: a banda One Direction, que se apresenta no Brasil em 2014.

  • Arquivo Pessoal

    Vera Bonafé e a filha, Marcela, em festival de música, em março, em São Paulo

Marcela é tão fã dos artistas ingleses que toca um site sobre eles, com atualizações diárias. Vera sempre apoiou a filha. “Minha mãe sempre me incentivou a continuar com o site, bancava os custos com hosting (hospedagem) e ajudava a comprar coisas sobre eles”, diz a adolescente.

“O site trouxe muita coisa positiva para a Marcela. Funciona como uma empresa. Ela precisa administrar os problemas, gerenciar os custos e dividir as tarefas com a sua equipe, formada por outros jovens como ela. É uma aprendizagem muito grande”, afirma Vera, que é gerente de operações de uma produtora de cinema.

Para a psicóloga Mara Pusch, do Centro de Atendimento da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), quando o adolescente deixa de fazer suas atividades da escola, perde aulas por ficar horas acompanhando o ídolo nas redes sociais, só fala sobre o famoso ou se comporta e se veste exatamente como ele, imitando até os trejeitos, é sinal de que a linha tênue e quase invisível que separa a admiração e a obsessão está se rompendo.

“É ótimo quando os pais participam da vida do filho, só que adultos e adolescentes não podem se misturar. A relação não pode ser de simples amizade. Deve haver companheirismo, só que os pais não devem deixar de ter responsabilidades sobre a educação do filho”, declara.