Explorar os pés durante o sexo dá prazer para fetichistas e curiosos

Na China do século 10, muitas meninas eram obrigadas a imobilizar os pés com faixas de algodão ou seda a maior parte do tempo, até que eles se deformassem de modo irreversível. Na idade adulta, o chamado "pé de lótus" (por lembrar o formato da flor) media, no máximo, oito centímetros de comprimento. Quanto menores as dimensões, maior a excitação que provocariam –os pezinhos eram alvo de adoração e tesão dos homens, que os beijavam e os empregavam para massagear seus pênis.
Os costumes evoluíram. A trajetória das chinesas, porém, remete a um dos mais antigos fetiches cultivados pelo ser humano, e nas mais diversas culturas: a adoração dos pés e seu uso como componentes sexuais. Na psicologia, esse fetiche é considerado uma parafilia, nome dado ao padrão de comportamento sexual em que a fonte predominante de prazer não se encontra na relação em si, mas em outras atividades –como idolatrar determinada parte do corpo, como a podolatria.
Segundo a sexóloga Carla Cecarello, psicóloga e presidente da ABS (Associação Brasileira de Sexualidade), a diferença entre quem admira essa parte da anatomia e um podólatra é que, para o segundo, somente o pé é fonte de deleite. "Esse indivíduo obtém satisfação sexual através da sexualização dos pés de outra pessoa. E somente a observação, os toques e as carícias dessa parte do corpo são capazes de proporcionar prazer", explica ela.
De acordo com Carla Cecarello, a ligação da prática ao sadomasoquismo é bastante comum, devido à associação de submissão à adoração dos pés. Por esse motivo, e também pelo fato de a podolatria ainda não ser encarada como algo natural, muitos fetichistas costumam frequentar lugares específicos para praticar jogos sexuais. Um desses espaços é o Clube Dominna, em São Paulo.
"Trata-se de um ambiente libertário e acolhedor, visitado por pessoas que, compartilhando ou não os mesmos fetiches, respeitam e entendem as necessidades alheias. Elas podem vivenciar suas fantasias sem constrangimentos, desde que observadas as regras de que as atividades sejam sãs, seguras e consensuais, princípios básicos do universo BDSM", conta a promoter Narcisa Adrastea.
Frequentadores de espaços fetichistas, assim como pessoas que mantêm páginas na internet e perfis nas redes sociais para trocar ideias sobre o assunto, em geral, preferem se manter no anonimato e usar codinomes. Uma das razões é que os parceiros fixos nem sempre compartilham da mesma fantasia.
Para quem quer experimentar
"Casais não fetichistas podem e devem explorar melhor as sensações dos pés durante suas transas”, afirma a psicóloga Carla Cecarello. Uma dica é usar óleos de massagens nas trocas de carícias, estimulando sensorialmente a planta ou o peito do pé, os dedos, os vãos entre eles.
“É possível, também, brincar com diferentes temperaturas, passando gelo ou sorvete sobre a pele dos pés para causar arrepios para logo em seguida aquecê-los com beijos e lambidas. Vale utilizar cremes comestíveis ou polpa de frutas para lambuzar os pés e, em seguida, sorvê-los, brincar com texturas e fazer cócegas, deslizar os pés sob o corpo do outro. Tudo depende do gosto pessoal", explica Narcisa Adrastea.
Para o podólatra que usa o apelido FootLover, de Curitiba (PR), a masturbação com os pés é um tipo de preliminar extremamente quente. "Os dedos –principalmente o dedão– ajudam a estimular o clitóris ou a glande e também servem para fazer massagem nas nádegas", diz ele, que tem duas preferências peculiares: ver mulheres pisoteando frutas (e depois comê-las) e sentir o odor de pés femininos sem asseio.
Se não faz mal a ninguém...
A terapeuta sexual Valéria Walfrido afirma que o comum para uns pode causar estranhamento. "É difícil estabelecer parâmetros do que é normal ou não no comportamento sexual humano; não há limite ideal afixado ou tabelado; não é matematicamente explicado", diz. No entanto, se o fetiche começa a lesar a rotina social ou profissional, ao desviar a pessoa das responsabilidades, e a prejudicar a vida afetiva, limitando a escolha das relações, é hora de buscar ajuda profissional.
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