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Autora aborda o luxo no Brasil em trama com empresárias da moda, blogueira e assassinato

Capa do livro "Luxo & Crime", de Angela Klinke - Divulgação
Capa do livro "Luxo & Crime", de Angela Klinke Imagem: Divulgação

Adriana Terra

Do UOL, em São Paulo

18/11/2012 08h06

“O mercado de luxo está começando no Brasil, mas já tem muito significado, mexe com a vida de todo mundo”, diz Angela Klinke ao comentar a relevância do universo que retrata em “Luxo & Crime”, ficção lançada no começo de outubro. Com ares de novela policial, a trama escrita pela jornalista que há anos pesquisa o mercado do consumo envolve donas de boutique que atuam ilegalmente, uma blogueira de moda bem-nascida que só fala sobre o que compra, um senador que dá seu ‘jeitinho’ para livrar amigos de problemas judiciais, entre outros personagens fáceis de trazer para a nossa realidade.

“Eu digo que o livro é ambientado em fatos reais. Tinha muita preocupação em fazer o registro do país hoje. Ele se passa em lugares verdadeiros, o shopping Iguatemi, o restaurante D.O.M.. Queria que esta ficção fosse factível”, conta a autora. “O jogo é adivinhar o que é, ou não, real”, dá a dica.

A trama principal de “Luxo & Crime” corre em torno da prisão por sonegação fiscal de Brigite de Orleans, dona de uma boutique de luxo em São Paulo -- impossível não fazer a associação com a operação Narciso, ocorrida em 2005 na Daslu. Tramas paralelas ligadas a esta vão surgindo, como a da fiel empregada que acredita na honestidade da patroa corrupta, do ambicioso fiscal da Receita que quer namorar a filha do empresário poderoso ou do milionário culpado que mantém uma revista de viés esquerdista.

“A [editora] Leya queria um livro sobre luxo e deixou na minha mão como fazê-lo. Num primeiro momento, pensei num livro de negócios, mas tinha a questão comportamental que, se eu fizesse desse jeito, não iria abordar. Há muitos personagens neste universo”, diz Angela.

Para a autora, o modo como o luxo é consumido vem mudando, e ela procurou refletir isto na trama -- como ao abordar, por exemplo, o incômodo dos “velhos ricos” diante do poder de compra de quem prosperou. “O consumidor de luxo não tem um desenho só, não é uma coisa compacta, assim como a nova classe C tem mil facetas”, diz ela. “Antes, o luxo era símbolo de exclusividade, código de pertencimento. Hoje, não é mais assim. Uma pesquisa recente apontou que 40% do luxo vendido hoje é comprado por turistas. Ele se tornou global e inter-classe social. Quis tratar disso, e ainda mais num país que tem uma distribuição de renda ruim -- hoje melhor, mas ainda desigual --, [o assunto] faz total sentido”.

"Antes o luxo era símbolo de exclusividade, código de pertencimento. Hoje não é mais assim. (...) Ele se tornou global e inter-classe social"

Angela Klinke, autora de "Luxo & Crime"

A fim de evitar um tom moralista, Angela criou personagens que representam pontos de vista distintos dentro do setor, e ninguém (ou quase ninguém) é apenas bom ou mau, o que torna a narrativa mais saborosa. “Não queria fazer um livro que tivesse caráter punitivo. Hoje, o mercado de luxo é tratado com deslumbramento total ou como luta de classes”, acredita.

O embate entre a blogueira aspirante a jornalista Lulu e seu experiente colega de trabalho Ernesto na revista em que ela, a pedido do pai, faz estágio, representa bem a dicotomia citada pela autora. Empenhada na apuração do caso da boutique, a jovem que acha cafona usar bolsa Louis Vuitton durante viagens (“para quem eu vou me exibir, para a aeromoça?”) custa a acreditar que uma empresária que frequenta o mesmo círculo social que ela tenha feito algo pelo qual mereça ser presa. Já Ernesto, que ajuda Lulu na reportagem, desconfia de tudo relativo ao mundo do luxo, embora pouco saiba sobre ele.

Para compor a contemporânea personagem Lulu Peçanha, Angela seguiu blogs variados. “Acompanhei o que as blogueiras escrevem de uma forma geral, costurei muito mais do fluxo da informação que elas iam colocando no ar do que me inspirei em uma pessoa”, conta. 

Enquanto Lulu traz à tona o fenômeno da blogueira consumista, o veterano repórter Ernesto é porta-voz de informações que enriquecem bastante a história, seja ao explicar para a garota os diferentes graus de falsificação de bolsas ou ao falar sobre a sórdida relação entre a máfia italiana e as grifes, abordada no livro "Gomorra", de Roberto Saviano.

Em meio a corrupção, formação de quadrilha e outros crimes revelados conforme a “caixa-preta” da boutique é aberta, há ainda o assassinato de uma misteriosa jovem que prestava serviços para a loja. “Gosto muito de romance policial, e os bons romances policiais tratam de questões de seu país, de momentos importantes”, diz Angela. A autora brinca também que gostaria que o leitor “chegasse ao fim do livro” e, para isso, nada melhor que a solução de um crime.

“Luxo & Crime”
Angela Klinke
Ed. Leya, 192 páginas
R$ 34,90