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Atleta musculosa aos dez anos surpreende; veja riscos da atividade física excessiva na infância

Adriana Nogueira

Do UOL, em São Paulo

10/11/2012 10h02

No dia 8 de novembro, a ginasta Jade Barbosa publicou em seu Twitter uma foto sua aos dez anos –ela se iniciou na ginástica olímpica aos cinco– ostentando um corpo visivelmente musculoso que suscitou uma pergunta: seria a modalidade que ela pratica prejudicial ao desenvolvimento de uma criança?

  • Reprodução/Twitter

    Jade aos dez anos: acompanhamento especializado é fundamental para não prejudicar a criança

Para Ricardo Barros, pediatra e coordenador do grupo de trabalho em medicina esportiva da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), a ginástica olímpica pode ser praticada por crianças, desde que sob uma supervisão rigorosa que envolva treinador, pediatra e nutricionista para que o atleta-mirim não sofra de “over training” (em tradução livre do inglês, excesso de treinamento).

"Teoricamente, o indivíduo só deveria treinar mais de duas horas por dia de uma mesma modalidade –o que já o enquadra em um nível de competição– depois dos 13 anos. Mas é possível que esse treinamento comece a partir dos oito, desde que a criança seja bem orientada”, afirma Barros.

De acordo com o especialista, as equipes olímpicas dos Estados Unidos só começam o treinamento visando competição a partir dos 13, idade em que a pessoa já desenvolveu as competências exigidas para a prática de esportes, como flexibilidade.

César Barbosa, pai de Jade, disse em entrevista ao UOL Gravidez e Filhos que foi ele mesmo quem tirou a foto da filha e que, naquela época, Jade já tinha um esquema de treinamento parecido com o de hoje, aos 21 e atleta do Flamengo, no Rio. “Ela já treinava em dois períodos. Algo como das 8h às 12h e depois das 18h às 20h.”

Sinais

Barros fala que não existe um número de horas em que a prática da ginástica olímpica comece a oferecer risco para a saúde, mas é necessário que os adultos em torno da criança fiquem atentos a sinais que podem ser confundidos, à primeira vista, com “preguiça”.

“A criança pode reclamar de cansaço tanto ao acordar quanto na hora de dormir, e os pais acharem que ela está querendo escapar de ir à escola no dia seguinte. São pequenos sinais que podem indicar que ela está sofrendo de ‘over training’”, declara o pediatra.

Filumena Gomes, pediatra do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, diz que a criança leva para o esporte o mesmo instinto de praticar no limite, como quando está apenas brincando. “Ela entra em exaustão com mais frequência do que um adulto justamente por causa disso. O adulto tem capacidade de identificar a hora de parar, coisa que a criança não possui.”

Segundo Barros, da SBP, uma criança que participe de competições precisa ser acompanhada por um médico com uma frequência maior do que uma que pratique o esporte sem esse compromisso. “O ideal é ir ao pediatra de três em três meses”. Ele afirma que toda prática intensa de atividade física implica em perda de gordura corporal, que, se não for monitorada adequadamente, pode interferir no crescimento.

Nessas idas ao consultório médico, o pequeno atleta terá de se submeter a exames de sangue para verificar os níveis de ferro, cálcio e zinco em seu organismo. “Diminuição de ferro causa anemia. O cálcio vai dizer sobre a saúde dos ossos. Nos dias de hoje, em que a criançada não consome leite adequadamente, poderá ser necessário fazer suplementação da substância. Já queda de zinco pode prejudicar o crescimento.”

Estirão

Filumena fala que outra fase delicada para a prática competitiva de esportes é o chamado estirão da adolescência, quando o indivíduo chega a crescer de oito a dez centímetros em um curto período de tempo. “Assim como em crianças abaixo dos sete anos, no estirão na adolescência, a pessoa volta a ter uma certa fragilidade nas articulações e nos músculos, por isso é preciso ter um acompanhamento de perto por uma equipe especializada.”

De acordo com a especialista, por ser um esporte de impacto, ao ser praticada na fase do estirão, a ginástica olímpica pode levar a microfraturas nas cartilagens e nos ossos e assim prejudicar a estatura final do jovem. Ela afirma, ainda, que é importante considerar os aspectos emocionais quando uma criança entre sete e dez anos está envolvida em competições. “É preciso avaliar as condições física e emocional dela e considerar sua vontade de praticar o esporte. O apoio de um psicólogo também é necessário.”

Tradutor: Atleta musculosa aos dez anos surpreende; veja riscos da atividade física excessiva na infância