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Culpa ao deixar a casa dos pais é comum; lide com ela para ter relações familiares saudáveis

De acordo com psicólogos, a melhor forma de lidar com a distância dos pais é dialogando - Thinkstock
De acordo com psicólogos, a melhor forma de lidar com a distância dos pais é dialogando Imagem: Thinkstock

Rafael Roncato

Do UOL, em São Paulo

08/09/2012 07h15

Mais cedo ou mais tarde, chega a hora de sair da casa dos pais e ter uma vida independente. Nessa fase, a preocupação com os filhos não diminui. Pode até aumentar. Para quem acaba de ganhar o mundo, o que fica é a culpa --frequentemente alimentada pelos pais-- por não poder manter contato tão próximo. Com o início da vida profissional, dos relacionamentos ou a chegada dos filhos, as visitas diminuem ainda mais, mas o peso na consciência e as chantagens emocionais não necessariamente são menos intensas.

"O fato de o filho sair de casa não significa que ele deixou de ser filho", explica psicóloga Cynthia Boscovich. "Essa relação deve continuar sendo o mais natural possível, com respeito à individualidade e ao espaço de cada um", diz.

A psicóloga Fernanda Mion afirma que toda a família tem de se adaptar à nova realidade, que será mais fácil ou mais difícil de acordo com a dinâmica estabelecida. "Acredito que o segredo de uma relação sadia está no respeito. Por sua individualidade, seus valores, crenças e atitudes". Se pais e filhos tiveram uma relação equilibrada desde o início, mais fácil será viver esse momento de mudanças: quando os mais velhos voltam a ser apenas um casal dentro de casa e os mais novos exploram experiências inéditas. 

Sentimento de culpa

O sentimento de culpa pode invadir a relação e afetar ambos os lados da família. "Há pessoas que se sentem culpadas por terem saído da casa dos pais e começam a tomar conta deles além do necessário", explica Juliana Bento, psicóloga da Clínica de Especialidades Integrada. Segundo ela, há também pais que se sentem culpados pela mudança do filho e passam a agir como se ele não tivesse condições de lidar com as dificuldades do dia a dia.

"O ideal é que todos entendam que cada um tem sua própria casa. Essa mudança significa, na maioria das vezes, a conquista da liberdade. Mas, para que isso seja real, é preciso que cada um administre sua vida pessoal e financeira", diz Juliana. "Quando as relações estão sadias, se tem certeza do que quer, os pais respeitam as vontades ou necessidades dos filhos. Assim, o sentimento de culpa será minimizado ou nem existirá", explica ela.

Cobranças

A distância exagerada, porém, pode não ser benéfica, dando margem às cobranças. "Em casos extremos, pais acham que o filho é ingrato e acabam não respeitando um processo natural da vida. Então, fazem cobranças, pois acreditam que esse amor se perdeu. Esquecem que existem formas diferentes de amar quando não se está próximo", diz Cristina Freire, psicóloga da área de infância e adolescência da Unifesp.

Para Cristina, tanto os pais quanto os filhos devem entender a fase de cada um. Os mais velhos devem notar que o filho seguiu por um novo rumo e está se adaptando à outra realidade.  Entretanto, os mais jovens também podem errar ao se distanciar demais, recorrendo a eles apenas quando surge um problema. "Quando isso acontece, as cobranças e discussões são muito prováveis. Com isso, o relacionamento que deveria ser prazeroso passa a ser desgastante", diz Fernanda.

Quando o incômodo e as cobraças surgirem por falta de tempo ou atenção, a orientação dada aos filhos pela psicóloga é escutar mais do que falar. Isso fará com que o filho consiga entender melhor o lado dos pais, facilitando a comunicação. "Em vez de se defender com ataques, você se mostrará receptivo e passará a imagem que respeita o ponto de vista deles e ainda poderá dizer o seu. Tendo calma e respeito, dificilmente a cobrança se transformará em uma discussão", diz a psicóloga.

Diálogo

Segundo especialistas, a melhor forma de lidar com a distância e os problemas que com ela surgem é o diálogo. É através dele que pais e filhos poderão ter um relacionamento melhor. Cada família terá sua forma de lidar com a situação, por isso os especialistas acreditam que não há uma fórmula para saber quantos dias falar ao telefone ou quando fazer uma visita aos pais. Basta ter bom senso.

"Ligue quando houver necessidade, quando sentir saudades, mas o telefone não pode ser uma desculpa para cuidar da vida do outro", explica Fernanda. Para ela, os filhos podem visitar os pais todos os fins de semana, desde que isso não seja uma regra. Segundo Cristina, a falta de conversas e as cobranças afastam as pessoas, pois ninguém quer se relacionar com alguém que exija atenção.

Nem sempre é possível fazer visitas com a frequência desejada, mas o celular e a internet, por exemplo, possibilitam interagir com outras pessoas mesmo que à distância. Ainda assim, a melhor forma para equilibrar o relacionamento é a conversa franca, para que todos procurem entender a situação atual de cada um e se adaptar a ela da melhor forma possível.