Como em "Amor Eterno Amor", muitas mulheres vivem o drama de buscar um filho desaparecido
A trama da novela "Amor Eterno Amor", da Rede Globo, mostrou nos primeiros capítulos o drama de Verbena (Ana Lúcia Torre), uma mulher cujo filho desapareceu quando criança e a busca incansável dessa mãe, por três décadas, a fim de descobrir o paradeiro do rapaz. Verbena, empresária bem-sucedida, fundou uma ONG para encontrar desaparecidos e confiou que iria encontrar o filho Rodrigo (Gabriel Braga Nunes).
Uma Verbena da vida real se chama Ivanise Esperidião Silva Santos, 50 anos, que, desde 23 de dezembro de 1995, procura saber o que aconteceu com a filha Fabiana que, aos 13 anos, sumiu.
A garota foi vista pela última vez por uma colega, com quem voltava da residência de outra amiga. Ambas se separaram no caminho, a cerca de 120 metros de onde Fabiana morava, em Pirituba, na capital paulista, e a jovem nunca mais foi vista.
Mãe e filho, Verbena (Ana Lúcia Torre) e Rodrigo (Gabriel Braga Nunes) se reencontram após 30 anos separados na novela "Amor Eterno Amor"
“Assisti apenas ao primeiro capítulo da novela, mas chorei muito. Preferi não ver para não reviver minha história. Eu me identifiquei com a Ana Lúcia Torre, que representou muito bem e mostrou o medo que tinha de morrer e não rever o filho. Isso também me apavora: morrer sem saber de minha filha. O resto, tiro de letra. Mas se perder a convicção de que vou encontrar minha filha, morro”, diz Ivanise, que viu seu drama ser mostrado para o Brasil quando falou de sua dor em depoimento para a novela Explode Coração, de Glória Perez, alguns meses após o desaparecimento de Fabiana.
Outras mães que passavam pelo mesmo problema a procuraram e assim nasceu a Associação Brasileira de Busca e Defesa a Criança Desaparecida ou, simplesmente, Mães da Sé. Para Ivanise, a trama poderia ajudar de forma mais efetiva as famílias que procuram parentes desaparecidos. "Muitas mães me ligam perguntando se não poderíamos divulgar alguns desaparecidos como fez a Gloria Perez. Isso ajuda muito”, diz a presidente da entidade.
Entidade quer mobilizar sociedade para o desaparecimento de pessoas
Mais de 23 mil desaparecidos
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A ONG presidida por Ivanise completa 16 anos neste sábado (31), último dia da Semana de Mobilização Nacional para Busca e Defesa da Criança Desaparecida, e ela pretende fazer uma mobilização na data, às 14h, na Praça da Sé, com presença de familiares de desaparecidos e autoridades para chamar a atenção da sociedade para o problema.
“Quero conscientizar todos que um filho desaparecido é pior que a morte e que essa situação precisa mudar. Criança desaparecida não é prioridade no nosso país. O que as autoridades têm feito ao longo desses 16 anos? Nada. Queremos que as pessoas acordem e percebam que ninguém está livre disso. Não queremos piedade da sociedade e, sim, parceria”, diz Ivanise.
A Ong Mães da Sé, com sede no centro da capital paulista, é também local de apoio psicológico e afetivo para essas mulheres. “Uma fortalece a outra e nos alegramos a cada pessoa encontrada. É uma a menos sofrendo”, conta Ivanise, que a cada dois domingos se reúne um grupo de mães que sentam silenciosas nas escadarias da praça da Sé, com cartazes e fotos de seus filhos, na esperança de que alguém possa dar alguma pista de seus paradeiros.
As pessoas que chegam à instituição para cadastrar os desaparecidos assinam termo de autorização de veiculação de imagem para que comece o trabalho de divulgação no site e também em jornais, revistas, TVs e empresas que têm parceria com a entidade. Até dezembro de 2011, os números mostravam que nesses 16 anos de atuação da entidade, 2.657 pessoas foram encontradas vivas (entre filhos e outros parentescos) e localizadas outras 209 que estavam mortas.
“Não vou dizer que choro todo dia, mas tem dias que é pior. Quero encontrar minha filha no metrô, no ônibus, na rua. Eu a procuro. Ao ver a tristeza no rosto dessas mães percebe-se que falta algo muito importante em suas vidas: são os nossos filhos, que não sabemos se estão vivos ou mortos, que não enterramos. É uma eterna dúvida, uma dor muito solitária”, diz ela que, de tempos em tempos, pesquisa para saber se algum documento foi emitido em nome de sua filha. A resposta, há 16 anos, tem sido negativa.
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