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Casas deslumbrantes: conheça algumas das obras do chileno Mathias Klotz

BIANCA ANTUNES

Colaboração para o UOL

19/01/2011 18h32

 

 

O projeto de uma residência é, na maioria das vezes, o primeiro da vida profissional de um arquiteto. Na casa é possível experimentar, criar, lidar com o anseio do cliente, com seu desejo e seus sonhos -e, ao mesmo tempo, com os próprios desejos e sonhos de um profissional recém-formado.

O primeiro projeto do arquiteto chileno Mathias Klotz foi uma casa: a casa Klotz (1991), na costa chilena. O revestimento de madeira pintado de um branco desbotado toma as cores da paisagem, fazendo com que a edificação torne-se parte dela, apesar de sua volumetria forte e retangular.

Já nesta primeira obra, notam-se três características importantes que irão acompanhar a carreira do arquiteto: a forma retangular da caixa, a construção elevada do solo (como se, em algum momento, ela pudesse ser retirada dali para se refazer a paisagem original) e o aproveitamento da paisagem natural como parte integrante do projeto.

Terrenos complicados em paisagens maravilhosas

Desde esta casa da praia, Mathias Klotz se mostrou mestre em oferecer soluções exatas para situações adversas, como um terreno em declive no qual parece impossível construir ou uma edificação de 486 m² e seis quartos, e ainda dar a todos os cômodos vista para o mar: essa é uma breve descrição da casa 11 Mujeres, também na costa chilena, projetada para um casal com 11 filhas.

Klotz acumula mais de 20 casas em seu currículo, muitas delas com prêmios internacionais, como a casa Reutter (1998), implantada de frente para o Pacífico, um projeto finalista do prêmio Mies van der Rohe para a América Latina, um dos mais respeitáveis do mundo.

As casas que projeta não são, em sua maioria, grandes mansões. São espaços simples, com cerca de 200 m², nos quais a leveza dos materiais e da organização dos espaços fluidos assume papel importante. A amplitude das casas fica lá fora: é a vista para o entorno. Klotz sabe como aproveitar bem a vista das montanhas, do mar ou da cidade, e faz dela uma extensão do espaço da casa. A residência acolhe, mas também inclui o mundo lá fora. Sem deixar a privacidade de lado.

Klotz e suas caixas

A forma da caixa é sua preferida. Há quem brinque com essa predileção lembrando que a palavra "klotz", em alemão, significa bloco. Suas primeiras residências eram caixas retangulares puras, em um volume simples. Aos poucos, o arquiteto foi modificando os volumes: suspendeu-os, colocou um sobre o outro e até inverteu a ordem normal das coisas, como na casa Reutter, em que a entrada é feita por uma ponte que passa por entre as copas das árvores para chegar ao terraço com vista para o mar e, daí, descer até os cômodos na “caixa” abaixo.

Uma de suas últimas casas, a Raúl (2009), reforça o trabalho da caixa e dos ambientes fluidos. Às margens da Lagoa Aculeo, a 70 km de Santiago, no Chile, sua implantação no alto de um morro permite a visualização de 180 graus do entorno -com vista da lagoa e da Cordilheira dos Andes ao fundo. Com baixo orçamento, o arquiteto especificou materiais básicos, principalmente madeira, e projetou espaços amplos com portas de correr que abrem e fecham ambientes e, assim, transformam o interior da residência.

Mas a protagonista mais uma vez é a paisagem que penetra pela casa como se fizesse parte dela. E cada canto foi pensado para melhor admirá-la: uma sacada coberta para os dias de inverno; os balanços instalados no espaço em que a casa se eleva do solo.

 

  • Divulgação

    Autor de mais de 20 casas, Mathias Klotz diz que tenta transformar o cliente em coautor do projeto

Mathias Klotz tem hoje 45 anos. Nasceu em Viña del Mar, Chile e se formou arquiteto em 1991 pela Pontifícia Universidad Católica do Chile. Lecionou em diversas universidades chilenas e tem obras construídas no Chile, Argentina, Uruguai, Espanha, China e no Líbano. Leia abaixo trecho de entrevista com o arquiteto.

Onde você construiria a casa de seus sonhos?
Na Lua, para ver muitos pores de Terra.

O que prefere: viver na cidade ou em um bairro longe do centro urbano?
Prefiro viver na cidade.

Qual a primeira pergunta que você faz a um cliente antes de começar o projeto da casa dele?
Qual é a casa dos seus sonhos?

Em que detalhes de uma casa de deve estar "a cara" do morador: apenas na decoração, nas cores, nos materiais escolhidos, nas dimensões dos ambientes?
Deve estar em tudo. O arquiteto precisa transformar o morador em um cúmplice coautor da residência.

O que não pode faltar no projeto de uma casa?
Um bom construtor.

O Chile esteve na mídia internacional por duas tragédias em 2010: o terremoto em fevereiro e o soterramento dos mineiros em setembro. Como essas duas questões foram vividas no Chile? Como está acontecendo a reconstrução do país no caso do terremoto e como a população viveu a tragédia e o resgate dos mineiros?
Ainda não se está fazendo nada de concreto no primeiro caso. E, no segundo caso, se por um lado valorizo todos os esforços feitos no resgate, me incomoda cada vez mais a mediatização e aproveitamento político que o governo fez com a desgraça alheia.

Bianca Antunes é editora de AU-Arquitetura & Urbanismo/PINI