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Marcas cariocas criam o novo básico masculino

Richards, Redley, Reserva, British Colony e Osklen são responsáveis pela repaginação do guarda-roupa masculino - Arte UOL
Richards, Redley, Reserva, British Colony e Osklen são responsáveis pela repaginação do guarda-roupa masculino Imagem: Arte UOL

POR RICARDO OLIVEROS

Colunista de UOL Estilo

12/01/2011 07h00

O Rio de Janeiro nas décadas de 70 e 80 foi um grande centro lançador de moda e contava com um grupo de estilistas e marcas cariocas responsáveis por difundir um estilo tropical, casual e elegante. No final dos anos 90, novas marcas surgiram, o calendário de lançamentos de coleção foi organizado e a moda masculina ganhou espaço neste cenário. Osklen, British Colony e Reserva, herdeiras diretas da Richards, mostram que é possível se vestir bem mesmo com um calor de 40 graus.

“O carioca evoluiu em muitos aspectos nos últimos dez anos, realizando mais intercâmbios com paulistas e gringos, abrindo restaurantes melhores, investindo em mais infraestrutura, a realização da próxima Copa e das Olimpíadas, e com todos estes fatores, o carioca melhorou seu nível de vestir. Quando um evento pedia traje passeio ou era um casamento de dia, por exemplo, ele nem sabia o que usar. Agora, blazer claro não é mais tabu”, reflete Maxime Perelmuter, criador da British Colony, sobre o novo estilo carioca.

Conheça mais sobre as marcas cariocas e seus estilistas, os quais fizeram do seu estilo de vida uma extensão para suas criações. Em comum, além de serem cariocas da gema, a criação de um novo básico, indo além do feijão-com-arroz monótono do guarda roupa masculino.


Richards: a pioneira do estilo “easy” no Brasil

“Nossa roupa é ampla, confortável, evoca a vida ao ar livre, o mundo de aventuras refinado e tropical. O estilo é casual, mas coerente com a filosofia da marca em sua refinada proposta”, foi a síntese feita por Ricardo Ferreira, fundador da Richards, durante o seminário realizado pela Folha de S.Paulo, "Construindo Marcas de Sucesso na Moda", no ano passado,

Ferreira, que nunca usou uma gravata na vida, foi mergulhador, pescador e surfista, começou aos 16 anos a fazer cintos artesanais para vender nas lojas bacanas de Ipanema. Dois anos depois, produziu com sucesso camisetas com estampa silkscreen. Em 1974, abriu sua primeira Richards com jeans desbotados que revolucionaram o mercado com o estilo desestruturado.

Em 2010, a empresa foi comprada pelo grupo Inbrands (que detém, entre outras, as empresas Luminosidade, Ellus, Isabela Capeto e Alexandre Herchcovitch) e pretendia faturar 250 milhões de reais no ano passado.

As peças clássicas que representam o estilo Richards são as calças chino, camisas de manga longa em cores claras e estampas suaves, as bermudas largas e confortáveis, assim como as peças em linho.
 

Osklen: o luxo do lifestyle carioca

  • Alexandre Schneider/UOL

    Oskar Metsavaht é o responsável pela Osklen que misturava roupas esporte, alfaiataria desconstruída, tecidos naturais e tecnológicos, silhueta confortável

Da loja que vendia roupas para neve em Búzios em 1989 para as atuais 55 lojas espalhadas pelo Brasil, o trajeto de sucesso percorrido pela Osklen parece que foi muito rápido. Em 1991, Oskar Metsavaht abriu sua segunda loja no Rio de Janeiro. Em 1992, fez seu primeiro desfile no Copacabana Palace, misturando socialites, surfistas, artistas e esportistas. Neste desfile já ficava claro a identidade da marca que misturava roupas esporte, alfaiataria desconstruída, tecidos naturais e tecnológicos, silhueta confortável.

Metsavaht conseguiu a façanha de suas peças serem reconhecidas a partir dos três ilhoses sempre localizados estrategicamente, muito mais eficientes que a própria logomarca em forma de coroa. Fez também que os homens adotassem sem medo a calça dhoti (com gancho mais baixo) e usar tênis do tipo flat no lugar de sapatênis.

Em suas coleções, o Rio de Janeiro é uma presença constante como inspiração, especialmente o bairro de Ipanema, que deu nome para a coleção de verão de 2007, United Kingdom of Ipanema (Reino Unido de Ipanema).

Em seus desfiles, sempre com sucesso de crítica, inclusive internacional, a Osklen mostra que o homem pode ser elegante sem precisar usar terno e gravata. Mesmo com uma pegada minimalista, sempre tem lugar para a inovação tanto na silhueta, quanto nos tecidos (com lugar especial para matérias primas orgânicas e ecologicamente corretas, como o couro de escama de peixe). As sobreposições também merecem um destaque especial.

Nas lojas da marca, é possível encontrar peças mais acessíveis em termos de moda. Um básico de cores claras, mas sempre com a aura cool. Osklen é uma marca que provoca desejo de compra, mesmo em quem não acompanha as temporadas de moda. E não é isso que todas as marcas querem?

British Colony: a fina reinvenção do básico

  • Divulgação

    Looks da coleção de Verão 2011 da British Colony, de Maxime Perelmuter

Reza a lenda que filho de peixe, peixinho é. Maxime Perelmuter é filho do lendário estilista carioca Georges Henry, que contribui para tornar as mulheres muito mais elegantes na década de 1980. Perelmuter herdou do pai o gosto pelo acabamento impecável e a alfaiataria.

Desde que surgiu em 2000, com a marca British Colony, quando venceu o concurso de novos talentos da Semana de Moda do Barra Shopping, Maxime Perelmuter foi um sucesso de crítica.  Um ano depois estava na programação oficial do mesmo evento, agora como estilista. Mas foi com a repercussão do desfile Primavera-Verão do Fashion Rio em 2002 que a British Colony começou a ficar conhecida nacionalmente.

Assim, em janeiro de 2003 a marca estreou no São Paulo Fashion Week causando impacto. A coleção de inverno apresentada foi a sensação da temporada. Após seu desfile de 2006 ficou quatro anos sem desfilar para reestruturação da marca e fez volta triunfal ano passado no Fashion Rio.

“Vivemos numa época de clichês: o melhor feijão-com-arroz, o melhor hambúrguer. O homem hoje não quer doses absurdas de inovações. É um período de afirmação da sua personalidade e suas escolhas. Ele trafega tanto pelo prato do boteco da esquina, quanto de um restaurante do Alex Atala. A roupa é uma extensão da sua personalidade e da sua expressão. Com o básico ele pode fazer suas próprias combinações ou dobrar um bainha de modo diferente dos outros”, explica Perelmuter sobre o significado de Novos Clássicos, presente como subtítulo da sua marca.

Para o Inverno 2011, a British Colony foi buscar inspiração na vida aquática. “Procurei manter aquilo que a marca conquistou nestes últimos anos e sair da minha zona de conforto com cores que não estou acostumado a trabalhar como o amarelo e vermelho. Trabalho também com diferentes texturas com tricôs que mesclam tranças e efeito canelado. A silhueta varia entre as soltas e as secas, mais rente ao corpo, mas conservando o aspecto de conforto”, adianta Perelmuter.

Redley: em busca da renovação constante

  • Divulgação

    Sandy Dalal, novo estilista da Redley, editou e direcionou a coleção, ou seja, vai funcionar como um preview do trabalho que ele vai desenvolver na marca

A marca completou 25 anos em 2010 com a vontade de se reinventar sempre. Quando surgiu na década de 80 conseguiu emplacar um clássico que virou febre: o tênis iate.

Em 2007 deu uma grande virada ao contratar Jüergen Oeltjenbruns, estilista alemão radicado em Nova York. Ele conseguiu aliar a história da marca e atualizá-la com as tendências internacionais masculinas que misturam as qualidades das roupas esportivas, especialmente o surf e o ciclismo (com o uso crescente do neoprene e do nylon) com uma pegada mais urbana, introduzindo elementos de alfaiataria, além de uma construção sofisticada da roupa feita por patchworks de tecidos.

Em 2010, Sandy Dalal, outro estilista internacional é chamado para continuar este caminho de sucesso apresentado pela marca. Ele é descendente de indianos, nasceu e cresceu em Nova York. Passou sua adolescência sempre próximo à indústria têxtil, da qual sua mãe fazia parte e desenvolveu um interesse pela moda que o levou a fundar Sandy Dalal Ltd em 1996 e a desfilar pela primeira vez em Nova York em 1997, antes de se formar em comércio internacional e finanças na Universidade de Pensilvânia.

Sua característica mais forte é dar um toque moderno às formas clássicas de alfaiataria através da utilização de cores e tecidos. Sandy recebeu prêmios por seu trabalho, incluindo o prestigioso “Perry Ellis Award” de moda masculina do Council of Fashion Designers of America (CFDA) em 1998. Isso aconteceu quando ele tinha apenas 21 anos – ele continua sendo o estilista mais jovem a já ter ganhando o prêmio.

As coleções da marca Sandy Dalal já foram vistas em muitos do universo da música e do entretenimento, incluindo Beck, Aerosmith, Chris Rock, Wyclef Jean, The Foo Fighters, Maxwell, John Cusack e Alan Cumming. Em setembro de 2000, a revista Details nomeou Sandy um dos “100 homens mais dinâmicos” de Nova York.

Para o Inverno 2011, o tema da Redley é Evolução. Dalal editou e direcionou a coleção, ou seja, vai funcionar como um preview do trabalho que ele vai desenvolver na marca. Quem assina é a equipe de estilo da Redley, que conta entre outros, com as estilistas Emilene Galende e Julia Valle.

Reserva: moda feita para gente de bom humor

  • Divulgação

    A Reserva é a caçula entra as marcas cariocas mais descoladas e foi criada em 2003 por Diogo Mariani (à direita), Rony Meisler (centro) e Fernando Sigal (à esquerda)


Criada em 2003 por Rony Meisler, a marca carioca Reserva é uma das responsáveis por um jeito descolado e bem humorado de vestir do homem urbano.

“O  homem carioca está acostumado a usar pouca roupa. Na busca da liberdade ele acaba investindo em um estilo mais despretensioso. É exatamente isso que a Reserva faz, roupas despojadas para serem usadas em qualquer ocasião”, resume Rony Meisler sobre o estilo da marca.

Um dos motivos do sucesso da Reserva é manter acesa a chama do imaginário que os estrangeiros e outros brasileiros têm do Rio: um ar relaxado, e ao mesmo tempo cool, o jeito de andar que se reflete nos cortes e caimentos das suas roupas.

“Acredito que o mercado masculino só não se expande mais pelo fato de que as marcas estão mais preocupadas com a concorrência e em estereotipar o cliente, do que em criar roupas para pessoas normais que buscam na moda mais uma representação do seu estilo de vida. Nesse sentido criamos moda para todo tipo de consumidor. Somos contracultura, despretensiosos, bem humorados e profundamente felizes. Isso se reflete nas roupas. A Reserva, bem como nossos amigos (ou clientes), é um estado de espírito, não um personagem”, reflete Meisler sobre o sucesso da marca.

Para o inverno 2011 a Reserva brinca com o fato de que a moda é cíclica. “Levantamos o velho questionamento de que o que hoje é moda já foi bacana há muito tempo atrás. O clássico é um novo velho”, se diverte Rony Meisler com um dos clichês dos textos de moda. O desfile da Reserva acontece dentro da programação do SPFW.