Medo e testosterona: Herchcovitch brinca com a morte e a sedução
Dentes enormes abrem um grande sorriso entre debochado e estarrecedor. É o sorriso da morte na maquiagem (impressionante, diga-se de passagem) que transformou a cara dos modelos em caveiras no desfile masculino de Herchcovitch. Ai, que medo destes homens. Em corpos esguios, eles desfilaram determinados, com a mesma segurança sombria com que a morte em “O Sétimo Selo”, pacientemente, apostou a vida do protagonista do filme sabendo já sabendo que iria ganhar. Ai, que homens sedutores são estes, alinhados e rebeldes, sexy e assustadores.
"Caveiras" de Herchcovitch desfilam coleção inspirada em filme de Bergman, no SPFW
A obra-prima do diretor sueco Ingmar Bergman serve apenas de ponto de partida para a coleção que culmina em casacos estonteantes, com jeito de capa com zíperes que abrem e deixam os braços soltos. No mesmo modelo, o zíper também acompanha a coluna vertebral e acaba fechado no capuz. Os cintos que acinturam só um lado do corpo nestes mesmos casacos também são um detalhe precioso de moda.
Astutamente, Herchcovitch, para os homens, soube na maioria das peças ser criativo exatamente nestes detalhes que, bem colocados, fizeram toda a diferença nas peças. Outras propostas do estilista são as calças curtas em alfaiataria, com pregas duplas na parte de trás dando um caimento mais amarfanhado interessante, além das golas bem pequenas das camisas e do tricô masculino com brilho, em preto e prata. Destaque, nesta série, para o colete e o comprido pullover que também pode ser interpretado como vestido masculino.
O kilt, a saia escocesa, apareceu no xadrez vermelho e preto clássico (que também é usado no punk) mas virou só uma graça perto da série final realmente matadora em termos de imagem e de roupa de moda: os já citados casacos pretos. Na cartela de cores, o preto, o cinza, o xadrez vermelho e preto e a combinação de preto e branco.
Muito acertada, a coleção tem o mérito de agradar não só iniciados da moda. “Foi a coleção até agora que eu mais gostei. Usaria várias peças do desfile”, disse um dos fotógrafos no final da apresentação. Fica a dica, ou melhor, o apelo ao estilista, para que não deixe de produzir as peças (em quantidade razoável) para vender em sua loja (o que muitas vezes não acontece) e assim turbinar o guarda-roupa de nossos homens.
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