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Celulares e tocadores de mp3 poderão ser recarregados por camiseta

22/02/2008 12h09

Por Paula Gil São Francisco, 22 fev (EFE) - Parece ficção, mas algum dia usaremos roupas fabricadas com tecidos tecnológicos que, ao serem vestidas, produzirão energia suficiente para recarregar um tocador de mp3 ou um telefone celular.

Um grupo de cientistas do Instituto de Tecnologia da Geórgia, nos Estados Unidos, está trabalhando em um sistema para fabricar tecidos que geram eletricidade quando forem vestidos, friccionados ou simplesmente movidos pelo vento.

O estudo, publicado na última edição da revista "Nature", se baseia no chamado efeito piezoelétrico (eletricidade de pressão), conhecido no século XIX, mas que está sendo redescoberto agora em vários projetos que visam à geração de energias limpas.

As ferrovias japonesas, por exemplo, estão fazendo pesquisas com tapetes que transformam a pressão originada pelas pisadas dos milhões de viajantes que circulam pelas estações em eletricidade.

A "Nature" explica que a equipe do Instituto da Geórgia, liderada pelo professor Zhong Lin Wang, cobriu fibras de tecido com nanofibras de óxido de zinco 1.800 vezes mais finas do que um cabelo humano.

Depois essas fibras foram alternadas com outras recobertas de ouro. O atrito entre elas gera uma carga piezoelétrica que é captada pelas fibras cobertas de ouro e transferida a um circuito.

A equipe do professor Lin Wang calcula que um metro quadrado deste material pode gerar em torno de 80 miliwatts de eletricidade, energia suficiente para recarregar um aparelho eletrônico pequeno como um tocador de mp3.

A roupa fabricada com este material não será mais pesada do que as que usamos, e para gerar energia não será preciso fazer nada em especial: simplesmente vesti-la, movimentar-se e respirar.

O material pode ser usado também para fabricar cortinas ou estruturas como barracas que gerem eletricidade ao captar o movimento do vento ou a vibração do som, acrescenta a "Nature".

Os tecidos terão também várias aplicações no campo militar - o estudo é parcialmente financiado pelo Governo americano - e poderão ser usados para recarregar sensores químicos ou de gás.

Os pesquisadores do Instituto Tecnológico da Geórgia ainda não confeccionaram artigos feitos com o novo tecido, e acreditam que a roupa coberta com nanofibras deve demorar ainda algum tempo para aparecer no mercado.

"Damos um prazo de cinco anos ou mais" reconheceu à Agência Efe o professor Wang. "Ainda há muitos desafios a superar e um monte de trabalho a fazer", afirmou.

Um deles, por exemplo, é conseguir um preço aceitável para estes tecidos. A equipe de Wang utilizou ouro para recobrir parte das nanofibras, mas afirma que outros metais mais baratos poderiam funcionar da mesma forma.

Porém, nem tudo são flores. O principal problema, por enquanto, é a água. As nanofibras de óxido de zinco não podem ser molhadas e a camiseta geradora de energia perderia sua utilidade após a primeira lavada.

"Estamos desenvolvendo estratégias para resolver este problema", disse Wang, afirmando que tem certeza de que sua equipe encontrará uma boa solução.