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Como três mulheres criaram o movimento global Black Lives Matter a partir de uma hashtag

Alicia Garza, Patrisse Cullors e Opal Tometi tiveram a ideia do Black Lives Matter em 2013 - MARÍA ESME DEL RÍO, GIO SOLIS, O"SHEA TOMETI
Alicia Garza, Patrisse Cullors e Opal Tometi tiveram a ideia do Black Lives Matter em 2013 Imagem: MARÍA ESME DEL RÍO, GIO SOLIS, O'SHEA TOMETI

Redação - BBC News Mundo

21/12/2020 11h04

Alicia Garza, Patrisse Cullors e Opal Tometi criaram o Black Lives Matter (vidas negras importam) em 2013 e em pouco tempo o movimento se tornou uma causa global. Elas estão entre as 100 mulheres inspiradoras escolhidas pela BBC em 2020.

Das muitas causas pelas quais o ano de 2020 será lembrado, uma é a ascensão do movimento Black Lives Matter (vidas negras importam) não apenas nos Estados Unidos, mas em todo o mundo.

Seus apoiadores lideraram grandes manifestações e campanhas notáveis contra o racismo e a brutalidade policial contra pessoas negras.

Mas poucos sabem que o BLM, em portugês "vidas negras importam", foi uma ideia criada por três mulheres.

E a BBC as escolheu entre as 100 mulheres mais inspiradoras de 2020.

Alicia Garza, Patrisse Cullors e Opal Tometi fundaram um movimento baseado em uma hashtag das redes sociais, transformando a política. Uma hashtag é uma forma de ressaltar ideias e juntar publicações sobre um tópico.

Em 2013, quando George Zimmerman, homem acusado de matar o adolescente negro Trayvon Martin, foi considerado inocente na Justiça, Alicia Garza fez uma postagem indignada no Facebook. Seu texto, em que ela dizia estar passando por um luto, incluía a frase "black lives matter". Foi uma faísca.

Sua amiga Patrice Cullors leu a publicação e escreveu uma resposta, transformando a expressão de Garza em uma hashtag: "#blacklivesmatter".

Opal Tometi, Patrisse Cullors e Alicia Garza foram reconhecidos com vários prêmios desde 2013 - Getty Images - Getty Images
Opal Tometi, Patrisse Cullors e Alicia Garza foram reconhecidos com vários prêmios desde 2013
Imagem: Getty Images

Com a hashtag se popularizando no Facebook e no Twitter, Garza, Cullors e outra amiga ativista, Opal Tometi, criaram uma rede com o nome Black Lives Matter, que logo foi adotada em protestos pelos Estados Unidos. O movimento se espalhou no mundo inteiro. O Brasil tem seu próprio "Vidas Negras Importam", por exemplo.

"Os negros, junto com nossos aliados, se levantaram para mudar o curso da história. E nós vencemos", diz Garza.

Em 2020, foi o assassinato de George Floyd que levou as pessoas novamente às ruas. Em maio, um policial colocou o joelho em seu pescoço, sufocando Floyd durante uma detenção na cidade de Minneapolis.

"O Black Lives Matter, depois de 7 anos, está realmente no DNA e na memória muscular deste país", afirma Garza.

"Todos nós vimos como membros de nossa comunidade, nossa família, são mortos diante das câmeras."

Mas, para ela, a grande mídia continua focada na coisa errada.

"De forma recorrente, o peso e a responsabilidade pela violência recaem sobre nossos ombros, mas ninguém fala sobre a violência que nossas comunidades estão sofrendo, tanto por negligência do governo quanto pelas mãos da polícia", diz.

2016 também viu uma onda de manifestações Black Lives Matter por causa dos homicídios de homens negros por policiais - Getty Images - Getty Images
2016 também viu uma onda de manifestações Black Lives Matter por causa dos homicídios de homens negros por policiais
Imagem: Getty Images

"Agora temos um novo elemento, que é a violência dos justiceiros e da supremacia branca."

Livros de história

Apesar da direção que o movimento tomou, as fundadoras do BLM estão cautelosamente otimistas, especialmente ao falar sobre a derrota de Donald Trump na eleição.

As mulheres negras, em particular, foram creditadas com um papel significativo na vitória do presidente eleito, o democrata Joe Biden.

Garza, Cullors e Tometi agradeceram o reconhecimento de Kamala Harris, que fez história como a primeira mulher e a primeira negra eleita vice-presidente.

Mas disseram que iriam pressionar para que ela não fosse apenas um "símbolo", mas alguém "que lute por nossas comunidades".

"Estou animada em ver a maneira como o movimento BLM, junto com outros movimentos, tem se apresentado diante da situação e gerado ações políticas e que realmente refletem o que temos de melhor", diz Tometi.

"Acho que nossos movimentos estão mostrando que pode haver uma alternativa completamente diferente, e estou muito emocionada e grata por estar viva em um momento como este."

Garza diz que o BLM está fazendo mais e mais conexões ao redor do mundo, incluindo o apoio a protestos como #EndSars contra a violência policial na Nigéria.

"Estamos transformando a política como a conhecemos, mas estamos muito focados em transformar o poder, a forma como ele funciona e em garantir que haja mais poder nas mãos de mais pessoas", diz.

Cullors diz que os feitos do BLM em 2020 entrarão nos livros de história.

"O que me emociona é que meu filho pode dizer que sua mãe, junto com outras corajosas mulheres negras, fizeram tudo que podiam - e nós pudemos - para melhorar este lugar."

Diferentes gerações participam dos protestos pelas vidas negras - Getty Images - Getty Images
Diferentes gerações participam dos protestos pelas vidas negras
Imagem: Getty Images

"Estou animada com a história que está sendo contada."

Como as 100 mulheres foram escolhidas?

A equipe BBC 100 Women elaborou uma lista de nomes que foram adicionados a partir de sugestões de diferentes serviços de língua da BBC World Service.

Procurávamos candidatas que chegaram às manchetes ou foram influentes nos últimos 12 meses. Também aquelas que tinham histórias inspiradoras para contar ou que alcançaram algo significativo, mesmo que não necessariamente tivesse aparecido no noticiário.

O conjunto de nomes foi então avaliado com base no tema deste ano, "Mulheres liderando a mudança", e a representação e imparcialidade foram examinadas antes da escolha dos nomes finais.