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Romina Ashrafi: o assassinato de menina de 14 anos pelo próprio pai em 'crime de honra' que choca o Irã

Romina Ashrafi disse que temia por sua vida, mas foi levada de volta à sua casa - Twitter
Romina Ashrafi disse que temia por sua vida, mas foi levada de volta à sua casa Imagem: Twitter

Da BBC

29/05/2020 08h45

Romina Ashrafi, uma adolescente de 14 anos, fugiu de sua casa na província iraniana de Guilán com seu namorado de 35 anos depois que o pai dela se opôs ao casamento deles.

No entanto, o casal foi encontrado pela polícia e Romina foi levada de volta à sua casa, apesar de ter dito que temia por sua vida.

E os temores dela tinham fundamento. Ela foi morta na semana passada por seu próprio pai.

O homem decapitou sua filha com uma foice e, depois de se render à polícia, disse que era um "crime de honra", uma prática que persiste em vários setores da sociedade iraniana e é praticada por familiares que alegam que as vítimas danificaram o prestígio ou a honra da casa.

O caso teve grande repercussão nos meios de comunicação do país.

No Irã, as mulheres vivem sob rígidos códigos morais e de vestuário - AFP - AFP
No Irã, as mulheres vivem sob rígidos códigos morais e de vestuário
Imagem: AFP

Sociedade patriarcal

O portal de notícias Gilkhabar.ir informou que o pai de Romina cometeu o assassinato e saiu para o pátio de sua casa ainda com a foice manchada com o sangue da filha.

O homem confessou o crime sem hesitação e apontou que se tratava de um "crime de honra", e que o cometera porque sua filha o desobedeceu e traiu sua família.

O caso ecoou por jornais iranianos, com vários órgãos lamentando o fracasso da legislação do país em proteger mulheres e meninas.

A hashtag #Romina_Ashrafi foi usada mais de 50 mil vezes no Twitter por usuários iranianos e a maioria deles condenou o assassinato e a natureza patriarcal da sociedade iraniana em geral.

Shahindokht Molaverdi, ex-vice-presidente para Assuntos da Família e da Mulher e atual secretária da Sociedade para a Proteção dos Direitos das Mulheres do Irã, escreveu: "Romina não é a primeira nem será a última vítima de crimes de honra".

Ela acrescentou que esses assassinatos continuarão "enquanto a lei e as culturas dominantes nas comunidades locais e globais não forem suficientemente dissuasivas".

Os crimes

O Código Penal Islâmico do Irã reduz medidas punitivas para pais e outros membros da família que são condenados por assassinato ou agredir fisicamente crianças em casos de violência doméstica ou "crimes de honra".

Se um homem for considerado culpado de assassinar sua filha em tais situações, a punição é de entre 3 e 10 anos de prisão, em vez da habitual sentença de morte ou do pagamento de diyeh (dinheiro de sangue, que é o pagamento à vítima ou herdeiros de uma vítima nos casos de homicídio, lesões corporais ou danos materiais) por assassinato.

Não há estatísticas sobre o número de "crimes de honra" que ocorrem no Irã, mas ativistas de direitos humanos relataram no ano passado que eles continuam a ocorrer, principalmente entre populações rurais e tribais.

Assassinatos e crimes de honra ocorrem em outros países do Oriente Médio e no sul da Ásia, embora esses crimes também tenham sido relatados em alguns países da Europa.

A maioria deles ocorre com a justificativa de que a vítima desobedeceu ou desonrou a família, manteve relações homossexuais ou sexo antes do casamento, entre outras.