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Novo bebê real: regras e cuidados para se ter um parto em casa, como Meghan

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Imagem: Getty Images

Mariana Lenharo

De Nova York para a BBC News Brasil

07/05/2019 17h37

No Reino Unido, o parto domiciliar é amparado por diretrizes formuladas por entidades médicas locais. Aqui, mesmo sem esse tipo de suporte, a busca pela modalidade tem crescido, segundo a percepção de profissionais da saúde com experiência na área.

Os detalhes sobre o nascimento do mais novo bebê real nesta segunda-feira estão sendo mantidos em sigilo. Mas o fato de os tabloides britânicos terem relatado que a duquesa de Sussex, Meghan Markle, planejava dar à luz em casa foi o suficiente para criar interesse em torno do parto domiciliar.

No Reino Unido, a decisão pelo parto em casa não é nenhuma surpresa. Diretrizes elaboradas pelo Instituto Nacional de Saúde e Excelência Clínica (NICE) afirmam que mulheres saudáveis com gravidez de baixo risco podem se beneficiar da escolha pelo parto domiciliar ou em casas de parto, em vez do hospital.

Para elaborar a recomendação, publicada em 2014, o NICE analisou os resultados de partos de baixo risco em hospitais, casas de parto e em casa. A conclusão foi de que partos domiciliares ou feitos em casas de parto são tão seguros quanto os hospitalares, e até vantajosos, já que a taxa de intervenções registradas nesses locais é menor do que em hospitais.

No contexto brasileiro, as entidades médicas não dão esse tipo de suporte à realização do parto domiciliar. Ainda assim, a busca por essa modalidade tem crescido, segundo a percepção de profissionais da saúde com experiência na área.

Quais são as regras para parto domiciliar no Brasil?

No Brasil, o Conselho Federal de Medicina (CFM) recomenda que o parto seja feito em ambiente hospitalar. Na mesma linha, a Diretriz Nacional de Assistência ao Parto Normal, de janeiro de 2016, afirma que o parto domiciliar não está disponível no sistema de saúde brasileiro e que, portanto, não pode ser recomendado. O mesmo documento, no entanto, afirma que não se deve desencorajar o planejamento do parto no domicílio, desde que as mulheres que fizerem essa opção tenham acesso em tempo hábil a uma maternidade se houver necessidade de transferência.

A médica Maria Rita de Souza Mesquita, vice-presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do estado de São Paulo (Sogesp), afirma que o posicionamento do conselho é motivado pela falta de uma estrutura adequada para transportar e receber rapidamente uma gestante em uma eventual situação de emergência.

"Infelizmente, não temos uma estrutura de saúde como a da Inglaterra, por exemplo, por isso o CFM recomenda que os partos sejam feitos em centros hospitalares que possam dar assistência imediata em caso de complicações", diz a médica.

Mesquita acrescenta que as entidades médicas não impedem que os obstetras façam partos domiciliares e defendem que a mulher seja livre para escolher o local do parto, porém, caso ocorram complicações durante o procedimento, o profissional não terá respaldo do CFM.

Por causa do posicionamento do conselho, médicos obstetras que costumam realizar partos domiciliares preferem ser discretos quanto a sua atuação, afirmou uma médica obstetra que realiza partos domiciliares há mais de 25 anos em São Paulo. Ela preferiu não ter seu nome divulgado.

No Rio, o Conselho Regional de Medicina (Cremerj) emitiu nota em 2012 prometendo coibir a participação de médicos em partos domiciliares, alegando defesa "da saúde e da vida dos pacientes", medida que à época foi considerada "arbitrária" por outras entidades de saúde.

O procedimento não está previsto pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e também não é coberto por planos de saúde. O custo do procedimento pode variar entre R$ 5 mil e R$ 10 mil no Brasil.

O que motiva a escolha de dar à luz em casa?

A escolha por um parto domiciliar muitas vezes começa a partir da busca pelo parto natural.

"A princípio, nem tinha pensado em parto domiciliar. Queria um parto normal", diz a advogada Deborah Giovanini, de 25 anos, que deu à luz em casa em janeiro deste ano.

Quando começou a pesquisar sobre o assunto e soube, por exemplo, que em muitos casos de parto normal em hospitais a mulher é submetida à episiotomia (corte para aumentar o tamanho do canal do parto) sem sua autorização, começou a entender por que algumas mulheres escolhiam ter parto em casa. Depois de participar de vários grupos de gestantes e buscar médicos com experiência na área, tomou a decisão.

A relações públicas Viviane Moreira de Sousa Oliveira, de 35 anos, conta que chegou a fazer uma visita um hospital, mas não se sentiu bem. "Achei tudo muito mecânico, não gostei da proposta, não queria que as coisas fossem impostas."

Ela conta que seu médico obstetra, com experiência em parto natural e domiciliar, apresentou informações que desmistificaram conceitos que ela tinha sobre o parto. A decisão pelo parto domiciliar, que teve o apoio total do marido, veio um mês antes do parto, que aconteceu em fevereiro de 2017.

Mesmo depois de 21 horas de trabalho de parto, Viviane conta que a experiência foi melhor do que ela imaginava. Estar em casa, ao lado do marido, da cachorra e de uma de suas melhores amigas no momento do parto foi especial. "Acabou virando uma celebração", conta. Também estavam presentes seu obstetra, um pediatra, uma enfermeira obstétrica e uma doula.

Para a enfermeira obstétrica Iara Silveira, o que mais motiva essa escolha é a possibilidade de se vivenciar o parto de forma mais natural, sem intervenções desnecessárias.

Ao lado da também enfermeira obstétrica Ana Cyntia Paulin Baraldi, Iara fundou a Luz de Candeeiro, um espaço em Brasília que oferece atendimento ao parto domiciliar. "Mulheres que optam pelo parto domiciliar planejado, nos grandes centros urbanos, estudam, se informam e arcam com a responsabilidade dessa escolha, sabendo que o parto assistido por profissionais qualificados no ambiente do lar pode, sim, ser seguro", diz.

Quem pode se submeter a um parto domiciliar?

O primeiro pré-requisito é ter uma gestação de baixo risco, ou seja, que nem a gestante nem o bebê tenha qualquer patologia diagnosticada. O segundo é que ela também tenha um parto de baixo risco. A gestante deve ser encaminhada para um hospital diante de qualquer sinal de que o parto possa não seguir o curso normal. Segundo a médica que preferiu não se identificar, a grande maioria das gestantes se enquadra nessa descrição de baixo risco.

Além disso, é importante que a casa da gestante seja próxima de um hospital, de modo que ela possa ser transportada e chegar à unidade em cerca de 20 minutos caso haja uma intercorrência, a médica acrescentou.

"Durante o acompanhamento pré-natal, além de monitorar o bem-estar da gestante e do bebê, o casal recebe todas as informações para tomar uma decisão segura e responsável sobre o local do parto. Questões logísticas como encaminhamento para o hospital em caso de necessidade e distância da instituição também são discutidas e decididas durante o pré-natal", afirma a enfermeira obstétrica Iara.

Quem são os profissionais habilitados?

A equipe capacitada para fazer um parto domiciliar deve ter um profissional de saúde para cuidar da gestante e outra para cuidar do bebê, além de um terceiro para dar assistência aos outros dois. A obstetra entrevistada pela BBC afirmou que sua equipe sempre conta com um médico pediatra. A equipe deve levar todos os materiais necessários para dar a primeira assistência ao recém-nascido e à mãe e, se necessário, fazer a transferência segura a um hospital.

Iara lembra que enfermeiras obstétricas, obstetrizes e parteiras também estão habilitadas a realizar o parto domiciliar, porém no caso de necessidade de intervenções farmacológicas, como analgesia e indução medicamentosa, ou instrumentais, como cesariana por exemplo, o parto passa a ser um evento que necessita da intervenção médica e, portanto, deve ser encaminhado ao hospital.

Sem a possibilidade de anestesia nos partos domiciliares, algumas alternativas para aliviar o desconforto em casa são banho de imersão, chuveiro, massagem, movimentos na bola, hidratação e alimentação adequada.

Para a artesã Daniela Rymer, de 32 anos, a água quente do chuveiro ajudou a aliviar a dor nos momentos mais difíceis. Ela acredita que ter praticado ioga e meditação também ajudou a manter o controle. Ela ressaltou a importância de escolher profissionais com quem a gestante se identifique. Além da obstetra e de um pediatra que estavam ali no dia do parto, a presença da doula foi essencial.

Daniela deu à luz em abril, depois de 4 horas de trabalho de parto. "Acho que é uma conexão muito diferente ter (o bebê) em casa do que ter no hospital. Tive minha filha no meu quarto, foi uma experiência transformadora para a qual eu me preparei durante a gestação inteira. É uma volta às origens, antigamente todo mundo tinha em casa e isso me atraiu."

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