"Sou uma sugar baby para pagar minha faculdade"
Penny* vive em uma república de estudantes em péssimo estado. O carpete da sala está com uma infiltração. Há partes do piso da cozinha faltando. O fogão não funciona. O aquecimento é tão ruim que, às vezes, fica tão frio dentro de casa que é possível ver sua respiração.
"Moro longe da universidade, então, preciso gastar dinheiro com transporte até lá. Mas é o que posso pagar na verdade", ela explica.
Se ela contasse apenas com o dinheiro que recebe de seu empréstimo estudantil, ela mal conseguiria pagar suas contas todo mês. Mas, em vez de ter um emprego tradicional, ela preferiu, assim como um número crescente de estudantes, se tornar uma sugar baby para complementar a renda.
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"Para muitos empregos, você precisa ter experiência, mas, para ter experiência, você precisa primeiro ter um emprego. Então, decidi procurar outras coisas."
O termo sugar baby não é uma novidade - ele existe ao menos desde os anos 1920. Como uma sugar baby, Penny aceita ter relacionamentos com homens mais velhos e ricos, os sugar daddies, com quem ela passa algum tempo em troca de "presentes", algumas vezes em dinheiro.
Penny faz isso há seis meses e diz que busca um "sugar daddy que seja muito rico".
Muitas mulheres jovens como ela conhecem pessoas por meio de redes sociais exclusivas para esse tipo de relacionamento, enquanto outras recorrem a outros serviços, como Twitter e Instagram, onde recebem mensagens de homens em busca de uma "sugar baby genuína" ou uma "sugar baby para encher de mimos".
Esse tipo de relacionamento está aparentemente em alta. Ainda que não haja dados precisos, um popular site para isso afirmou nesta semana que há 2 milhões de sugar babies no Reino Unido. E, nos Estados Unidos, eventos atraem mulheres em busca de dicas para encontrar homens mais velhos e endinheirados.
Ser 'sugar baby' é prostituição?
Há uma polêmica sobre se a prática pode ou não ser equiparada à prostituição. Algumas sugar babies fazem sexo como parte do acordo, mas outros serviços são oferecidos, como fazer companhia aos interessados.
Penny já ouviu histórias de sugar daddies que ajudaram outras estudantes com seus estudos. "Uma delas disse que ele pagou sua matrícula", explica.
O mais recente sugar daddy de Penny pagou pelo primeiro encontro em drogas: "Ele me deu 80 libras em cocaína".
Mas os presentes podem ser de vários tipos. Se, por um lado, há quem leve sua sugar baby para jantar em restaurantes caros ou pague uma mesada, por outro, há sugar babies que dizem que isso está longe da realidade e que alguns homens às vezes somem do mapa quando elas deixam claro que não estão dispostas a transar com eles.
"Prefiro ter um encontro e sair para comer do que apenas ir para um hotel para fazer sexo com eles. Não gosto disso, porque é como se prostituir", diz Penny.
Ela está, no entanto, considerando fazer sexo com seu mais novo sugar daddy. Eles vêm conversando há meses, mas ela só se encontrou com ele uma vez até agora.
Ela decidiu que vai passar a noite com ele no próximo encontro e, ainda que esteja na expectativa por isso, confessa que está um pouco nervosa. Como ele ainda é basicamente um estranho para ela, não é difícil ver como ela pode ficar vulnerável em uma situação assim.
"Normalmente, bebo antes de um encontro, para acalmar a cabeça. Isso me ajuda", afirma.
Quando ela está a caminho de um encontro, a ficha costuma cair. "Olho pela janela [do trem] e tento não pensar sobre isso. Quando finalmente o vejo, eu penso 'é, realmente estamos fazendo isso'."
Atividade pode ser arriscada
Não há pesquisas sobre os riscos de ser uma sugar baby. Mas um estudo com profissionais do sexo do Reino Unido aponta que quase metade é vítima de crimes durante o trabalho. Então, há um claro sinal de que oferecer sexo em troca de presentes pode ser perigoso.
Ainda assim, não há leis sobre esse tipo de atividade. Quando sexo é oferecido em troca de algum pagamento, isso estaria teoricamente sob a alçada de leis de prostituição e, portanto, seria uma atividade legal na Inglaterra, na Escócia e no País de Gales. Sites para estes relacionamentos não oferecem meios de pagamento, o que significa que eles não podem ser considerados bordéis virtuais.
O foco de Penny está no dinheiro que ganha como sugar baby, que pode chegar (segundo um destes sites) a 2.730 libras (cerca de R$ 13 mil) por mês, mas ela ignora o possível impacto que isso pode ter sobre sua saúde mental.
"Não sei o que estou fazendo com a minha vida. Tenho crises, mas sei que [se eu fizer isso] minha dívida com o empréstimo estudantil não vai crescer ainda mais."
Mesmo que o mercado de empregos esteja melhorando, Penny não tem muita esperança para seu futuro. Ela espera ser uma sugar baby mesmo depois de concluir a universidade.
"Duvido que consiga um bom emprego em que eu seja bem paga, então, vou simplesmente continuar a fazer isso."
*O nome da entrevistada foi alterado.
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