Fotógrafa registra todos os objetos tocados ao longo de um dia por 62 pessoas
Imagine manter um registro de todos os objetos que você toca num período de 24 horas, do momento em que acorda até quando dorme, e depois reunir tudo isso em uma única foto que sirva de diário do dia que você viveu.
Essa foi a ideia da designer argentina Paula Zuccotti: ela estava curiosa para saber em que medida os objetos que possui poderiam contar a história de quem ela é.
Zuccotti pediu que 62 pessoas ao redor do mundo reunissem os objetos que tocavam ao longo de um dia para produzir uma "cápsula do tempo" do mundo em 2015.
"Nossa interação atual com objetos é algo que sentia necessidade de documentar. Muito do que sabemos sobre civilizações passadas vem de descobertas feitas a partir dos objetos que usavam", diz a designer à BBC.
"Ferramentas, utensílios, roupas, manuscritos e arte nos ensinaram sobre o trabalho que realizavam, o que caçavam, cultivavam e comiam e como se expressavam. Nossos objetos podem fazer o mesmo?", questiona.
Estilos de vida
Acima de tudo, o projeto "Everything We Touch" (tudo que tocamos, em tradução livre do inglês) é sobre histórias individuais: cada foto é um retrato da pessoa por trás da coleção de objetos nela retratada.
"Busquei estilos de vida que me intrigavam, alguns dos quais estão desaparecendo. Fui para o estado do Arizona, nos Estados Unidos, atrás de um caubói e a Tóquio, no Japão, para documentar a vida de uma gueixa", afirma Zuccotti.
Foi assim que foram feitas as fotos do caubói americano David, de 23 anos, e de Eitaro, um japonês de 32, que aprendeu a arte de ser uma gueixa com sua mãe.
O projeto revelou que, em média, uma pessoa toca 140 objetos por dia. Para serem fotografados, eles foram dispostos em ordem cronológica. E elementos estruturais como torneiras, maçanetas e interruptores foram excluídos.
'Mapas de identidade'
Alguns destes "mapas de identidade" que resultaram das sessões fotográficas são mais fáceis de serem interpretados, diz a designer, como os de uma cozinheira, um bebê ou um açougueiro, que se tornam "visíveis" por meio de suas posses.
Nem todos estão completos. É o caso de Piedad, uma freira de 44 anos que vive enclausurada em Madri, na Espanha, e compartilhou com Zuccotti apenas uma touca, um véu negro, um hábito, um escapulário, uma Bíblia e um rosário. Originalmente do Equador, a freira não sai de seu convento há 28 anos.
"Então, fui visitá-la. Enquanto conversávamos através de barras, uma bolsa com os pertences que Piedad queria me entregar apareceram em uma janela. Quando questionei onde estavam os outros objetos que ela teria tocado, como sua escova de dentes, caneca e pente, ela me olhou e disse 'não posso'", conta a designer.
"Acho que este projeto não tem um fim", diz Zuccotti, que gostaria agora de fotografar "novos lugares, novos tópicos, pessoas específicas", incluindo o mundo dos ricos e famosos e de quem vive sob o olhar do público.
Zuccotti se questiona como seria refazer o mesmo projeto daqui a dez anos e lança um desafio: quais objetos estarão extintos e quais novos objetos ela descobrirá?
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