Voltar ao trabalho após a morte do parceiro pode ajudar a superar a dor
Na última quinta-feira, um mês após a repentina morte do marido, que sofreu uma bizarra queda de uma esteira de academia, a executiva do Facebook Sheryl Sandberg publicou um post carregado de emoção na rede social - e que viralizou, com mais de 800 mil "curtidas". Nele, Sandberg fala especificamente dos olhares assustados que recebeu de colegas quando retornou ao trabalho, bem como da dificuldade de encontrar "normalidade".
A executiva diz que passou momentos "perdida numa espécie de abismo" após a morte do marido, Dave Goldberg, e que está a par de que tem muito momentos pela frente que serão "consumidos pelo vazio".
No post, Sandberg explica também que a volta ao trabalho foi uma espécie de salvação e uma "chance de se sentir útil e conectada".
Acionistas
Mas ela também relata a percepção de que os relacionamentos no trabalho tinham mudado. "Muitos do meus colegas tinham um olhar de medo quando me viam se aproximar. Eu sabia o porquê. Queriam me ajudar, mas não sabiam como, se deviam mencionar (a morte) ou o que dizer".
Para Anne-Marie Conlan, terapeuta de um centro de ajuda a pessoas que perderam entes queridos in Westchester, no estado americano de Nova York, a reação dos colegas de Sandberg é bastante comum. "As pessoas não sabem como reagir. Elas não querem lembrar você sobre a perda, especialmente se você estiver tendo um bom dia", explica Conlan.
"Não há uma solução e isso assusta as pessoas também. É um estranho lembrete sobre a fragilidade da vida e que (a morte) também pode acontecer para eles".
Quando britânico Ed perdeu repentinamente sua esposa, há 15 anos, ele tirou três meses de licença do trabalho, pois precisava tomar conta de seu bebê. No retorno ao escritório, passou por alguns momentos de constrangimento. "Os homens não sabem o que dizer além de 'Poderia ter sido qualquer um de nós'. Estava numa posição difícil e meus colegas tinham aquele olhar que dizia 'Estou feliz em te ver, mas espero que você não fique muito tempo aqui', porque eles ficavam sem o que dizer para mim".
"Eu tinha um cargo de gerência, e as pessoas esperavam que eu voltasse ao meu ritmo normal rapidamente, o que achei a coisa mais difícil. Fui informado pela empresa que minha situação não era mais importante que os acionistas para quem eu trabalhava".
No caso de Sandberg, foi de valia admitir sua fragilidade e convidar os colegas para discutir o assunto. "Um colega me disse que tinha várias vezes passado de carro pela minha casa, sem saber se deveria ou não bater à porta. Outro admitiu ficar paralisado todas as vezes em que me via, preocupado com o que poderia falar para mim. Conversar abertamente sobre o assunto substituiu o medo de dizer a coisa errada", escreve a executiva.
Aceitação
As pessoas têm maneiras diferentes de lidar com o luto, mas Conlan concorda com o argumento de Sandberg de que frases como "Tudo vai ficar bem" não ajudam.
"Muitos perguntam se vão sentir o mesmo ou algo melhor. Dizemos apenas que vão se sentir de forma diferente. Elas jamais se sentirão da mesma maneira que antes. É uma questão de aceitar a realidade e lidar com ela", diz Conlan.
A especialista diz que a volta ao trabalho é uma questão individual. "As pessoas precisam de estrutura em seus dias e ajuda muito se você se sente produtivo. Crianças, por exemplo, voltam à escola apenas alguns dias depois".
Ed concorda. "Todo mundo é diferente. Algumas pessoas se jogam no trabalho, outras procuram hobbies. No meu caso, tomar conta do meu filho respondeu por 90% da minha sobrevivência. Mas você precisa também passar pelo pesar, senão acaba se escondendo atrás de uma muralha que algum dia vai ruir. Eu sofri muito com isso".
Sandberg diz que jamais sentirá felicidade plena novamente. Quinze após sofrer sua perda, Ed concorda. "É quase que uma vida diferente. Este ano, estou sem minha esposa o mesmo tempo em que fiquei com ela. Você nunca recaptura o que tinha. Mas aprende a viver com isso, o que é importante, especialmente quando se tem filhos. Não se pode desistir".
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