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Argentina amplia direitos de policiais transexuais

Angie usa saia e blazer em cerimônias oficiais; chefia estranhou no início, mas se acostumou - Arquivo Pessoal
Angie usa saia e blazer em cerimônias oficiais; chefia estranhou no início, mas se acostumou Imagem: Arquivo Pessoal

Marcia Carmo

De Buenos Aires para a BBC Brasil

06/12/2011 12h32

Desde a última semana, a transexual Angie Beatriz Alvárez, de 40 anos, pode usar uniforme feminino e usar o banheiro das mulheres no trabalho.

Ela é uma das beneficiadas pela resolução do Ministério de Segurança da Argentina, que amplia os direitos dos policiais transexuais.

A resolução beneficia também as mulheres transexuais, que igualmente poderão vestir uniforme masculino e frequentar banheiros de homens.

"Acho que agora mais gente vai ter coragem de sair do armário, coisa que já faço há mais de três anos", disse policial à BBC Brasil.

A medida do Ministério de Segurança veio na mesma semana em que a Câmara dos Deputados da Argentina aprovou o direito a mudança de nome e de sexo nos documentos de identidade, na chamada lei de identidade de gênero. O texto ainda espera aprovação do Senado.

"Espero que aprovem esta lei porque durante muito tempo quando quis alugar um apartamento mostrava meu documento e as pessoas me rejeitavam ao ver meu corpo feminino com nome masculino no papel. Agora, sou proprietária, mas espero poder mudar meu nome nos documentos", disse Angie.

Saia e blazer

Angie iniciou seu trabalho como policial em 1998, com nome e vestimentas masculinas. Anos depois passou a ingerir hormônios e a se vestir como uma mulher.

"Eu já sabia que era transexual quando entrei para a polícia, mas precisava do emprego. Oito anos depois, eu comecei a fazer tratamentos com hormônios e meus seios cresceram. Eu também passei a usar cabelos compridos e unhas longas sempre feitas", contou por telefone.

Angie mora e trabalha na cidade argentina de Rosário, na província de Santa Fé, no centro do país. Ela disse que no inicio, após começar a transformação do seu corpo, seus chefes na polícia provincial não aprovaram as mudanças.

"Eu tinha entrado para a polícia como homem e eles achavam que por isso eu deveria continuar homem. Mas depois se acostumaram", afirmou.

Angie trabalha no setor de bombeiros da polícia e no dia a dia usa o uniforme básico para homens e mulheres: calça comprida azul marinho, camiseta branca e botas.

Mas nas cerimônias oficiais da polícia, contou, veste saia e blazer. Angie afirmou ainda que conquistou o direito de trabalhar maquiada, com seus cabelos e unhas compridas, depois de revelar seu caso às emissoras de televisão locais.

"Quando percebi que havia resistência, procurei as televisões e contei a minha história. Foi o suficiente para eu ser aceita na polícia como sou".

Angie é solteira e quando não está trabalhando usa roupas como as de qualquer outra mulher. Mas uma de suas fotos preferidas é a do seu último aniversario, com um vestido azul de miçangas, como aparece em seu perfil no Facebook.

"Eu nunca senti preconceito dos colegas e nem das pessoas as quais devo socorrer", afirmou. "Não gosto de mentiras e acho que esse fato tem boa aceitação".

Revistas em aeroportos

O presidente da Federação Argentina de Gays, Lésbicas e Transexuais (FALGBT), Esteban Paulón, disse que Alvárez foi uma "pioneira" e que o exemplo dela contribuiu para que apresentassem o projeto ao Ministério de Segurança.

"A decisão do Ministério é um passo importante para o melhor tratamento aos transexuais. A medida do Ministério é para as forças policiais nacionais, mas queremos que também seja implementada pelas policias provinciais", disse.

A diretora de direitos humanos do Ministério de Segurança, Natalia Federman, disse à BBC Brasil que a medida é destinada aos policiais e soldados das forças nacionais de segurança, como Polícia Federal, Polícia Aeroportuária, Polícia Naval e Gendarmeria (Polícia de fronteiras) e aos presos.

"Nosso objetivo é permitir uma adequação o menos traumática possível dos transexuais aos seus trabalhos. Mas também queremos que os presos transexuais sejam respeitados e, quando for o caso, alojados (presos) nas prisões correspondentes com seu gênero", afirmou Federman.