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Nike e Adidas pressionam EUA por solução em Honduras

Carlos Chirinos<br><br/> Da BBC Mundo em Washington

29/07/2009 10h51

As fabricantes de artigos esportivos Nike e Adidas e as confecções Gap e Knight Apparel enviaram uma carta ao Departamento de Estado americano pedindo uma solução pacífica para a crise política em Honduras.

As quatro empresas fabricam parte de produtos no país da América Central, e se dizem "profundamente preocupadas pelos recentes acontecimentos".

"Entendemos que existem graves divergências entre o presidente eleito (o deposto Manuel Zelaya), o Congresso e a Suprema Corte, mas essas diferenças deveriam ser resolvidas através de um diálogo pacífico e democrático, em vez de ações militares", diz a carta, endereçada à secretária de Estado, Hillary Clinton, e com cópia enviada ao secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza.

As companhias garantem que "não apoiam nem apoiarão nenhuma das partes na disputa interna", mas consideram necessário unir as vozes da comunidade internacional que defendem "a restauração da democracia em Honduras".

A carta rompe com o que vinha sendo até agora a posição do setor privado hondurenho em relação à deposição de Zelaya, no último dia 28 de junho, que é majoritariamente favorável ao governo interino nomeado pelo Congresso e liderado por Roberto Micheletti.

'Liberdades civis'
A assessoria de imprensa da Nike disse à BBC Mundo que "até o momento não houve nenhuma interrupção de sua produção" em Honduras.

"Apresentamos esta carta junto com as outras marcas porque sentimos que podemos enviar uma mensagem mais forte a partir da união das empresas em apoio a assuntos como este", disse a assessoria, por e-mail.

"Sempre defendemos energicamente os direitos e as liberdades civis dos trabalhadores contratados por nossas fábricas ao redor do mundo", segue a mensagem.

A iniciativa das empresas foi elogiada pela Rede de Solidariedade a Manufatureiros (MSN, na sigla em inglês), uma organização com sede no Canadá que defende os direitos dos trabalhadores empregados pelas chamadas "maquiladoras" (fábricas que finalizam produtos para empresas estrangeiras), em todo o mundo.

Segundo Linda Yanz, diretora da MSN, esta é a primeira vez que companhias que utilizam "maquiladoras" se pronunciam a favor da constitucionalidade em alguns dos países do Terceiro Mundo onde atuam.

"Seguir fazendo negócios como de costume não é uma opinião. Estas marcas não estão tomando posição na política interna do país, mas estão dizendo que as divergências devem ser resolvidas pacificamente", disse Yanz à BBC Mundo.

Mas para Jesús Canahuati, diretor da Associação Hondurenha de Maquiladores, as empresas assinantes da carta estão tomando partido.

"Elas estão dizendo que em Honduras não há democracia", afirmou ele à BBC Mundo. "Mas aqui não há um governo militar mandando em nenhuma instituição."

"Estas empresas não têm que se pronunciar porque os temas ainda não estão esclarecidos", disse Canahuati, referindo-se ao debate sobre a legalidade do mecanismo que tirou Zelaya do poder e que divide os hondurenhos.

A crise política em Honduras eclodiu depois que Zelaya tentou fazer uma consulta pública para perguntar se a população apoiava suas medidas para mudar a Constituição.

A oposição era contra a proposta de Zelaya de acabar com o atual limite de apenas um mandato por presidente, o que poderia abrir caminho para uma reeleição do atual presidente deposto.