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Ivan Lessa: Comes e bebes corretos

BBC
Imagem: BBC

Ivan Lessa<br><br/> Colunista da BBC Brasil

21/04/2008 13h02

Tá bom, vá lá que seja. Fumo passivo mata, fumo passivo proibido, fumante ativo fora do campo.

Como deixei de fumar há mais de sete anos, estou pouco ligando. Depois de mais de 50 anos pitando, estou me lixando se alguém fumar ao meu lado.

Também parei de beber. Não que eu bebesse muito. Um bêbado social e sociável era meu esquema. De vez em quando, tomo um copinho de vinho branco. Destilados? Nem pensar.

Nada a ver com preocupações de saúde. Puro e simples cansaço. Beber dá muito trabalho, é uma disciplina a ser exercida 24 horas por dia, 7 dias por semana.

Patrulhamento

Agora, a turma do PC (prima distante de todo partido comunista) quer instaurar o "bebedor passivo". Foi o WHO (Organização Mundial de Saúde) quem decretou.

Segundo os senhores, senhoras e senhoritas do QUEM (traduzo livremente) torna-se forçoso, nesses tempos bicudos, realçar os males oriundos da cachaçada ou mesmo da bebericação passiva.

As mesmas pessoas do QUEM? (a interrogação é insinuação e liberdade poética minha) insistem que o "beber passivo" deve ser questão tão importante quanto o "fumar passivo". Agora, ler "bobagem passiva", que é mais pernicioso, o QUEM? não tem nada contra, confere? Tãotá.

O QUEM? quer porque quer penalizar os bebedores ativos em duas frentes: aumentando violentamente o preço de toda e qualquer bebida alcoólica e impondo brutais restrições (impostos, fotos horrendas) à venda dos, para muitos, preciosos e imprescindíveis líquidos - do licor de ovo à caipirinha, sem esquecer do uísque com guaraná e da champanhe de boa estirpe.

Sabe-se que aqui, no Reino Unido, 4 em cada 10 casos de violência doméstica é culpa do álcool. Estão bebendo mal.

Ou um dos dois componentes do casal andou fazendo besteira digna de um pau. É só ir devagar, tomar um café bem forte, ir de alcacelça.

Na Europa, 10 mil pessoas morrem todos os anos nas estradas em consequência do álcool.

Se está de porre, não dirija. E também tome muito cuidado ao atravessar a rua. Agora vamos deixar o daiquiri em paz, combinado?

Crueldade

E o foie gras? Por que é que todo mundo odeia e censura a existência da deliciosa especialidade francesa? Porque o método de produção é demais de difundido.

Engordar gansos até os fígados dos irracionais palmípedes ficarem estourando de gordos.

E daí? Onde está o mal disso? Quem não gostaria de morrer entupido de comida?

Preferem ficar se debulhando em lágrimas diante de pôsteres de criancinha esquelética do terceiro mundo morrendo de fome?

Então vão nessa. Botem suas moedinhas no devido recipiente, mandem seus cheques para as organizações beneficiantes autorizadas e não chateiem.

Os ricos são minoria neste mundo de Deus e têm que ficar muito unidos para que os pobres não venham cair de pau neles.

O foie gras, graças à capacidade organizacional dos pobres de espírito (talvez o pior, o mais digno de pena dos miseráveis), no momento é ilegal em 16 países.

A saber: Reino Unido, Irlanda, Alemanha, Itália, Dinamarca, Suécia, Noruega, Polônia (Polônia?), Suiça, Israel e a Dinamarca.

A União Européia já iniciou uma campanha a favor de "menos crueldade" na produção da especiaria. Ao menos, pede "menos crueldade". Sem dúvida.

Atochem comida, e comida boa, nos simpáticos gansos, mas que estes, ao menos, fiquem dentro de cubículos individuais decorados com o melhor bom gosto possível e não como em celas solitárias das prisões no interior do nordeste brasileiro.

BB

Qualquer causa que tenha à sua frente Brigitte Bardot merece a mais séria das desconfianças de quem atrás da ex-vedete marchar. Aquela que já foi BB, de "Manina, a Mulher Sem Véus", é hoje uma extremada senhora direitista e louca de pedra.

Para ver quem mais se opõe ao culto e cultivo do foie gras, basta uma espiada na lista dos que se batem pela "correção gansífera".

Olha só: Paul McCartney conseguiu convencer o governador Arnold Schwarzenegger, governador (governador?) do estado da Califórnia a proibir não só a produção como a venda do foie gras em todo aquele estado.

Quem for convencido por sir (sir?) Paul McCartney de qualquer coisa merece ficar enjaulado num cubículo mínimo com um tubo enfiado na boca injetando mingau de fubá 24 horas por dia, 7 dias por semana, 30 dias por mês.

Até morrer e doar o fígado não para gourmets ou gourmands mas sim para a ciência, que não entende nada do que é bom de verdade nesta vida.