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Revista católica italiana aborda abuso sexual de freiras

Assinada pela jornalista Vittoria Prisciandro, a reportagem revela que os abusos sofridos pelas freiras é cometido tanto por padres como por madres superioras - Getty Images/Image Source
Assinada pela jornalista Vittoria Prisciandro, a reportagem revela que os abusos sofridos pelas freiras é cometido tanto por padres como por madres superioras Imagem: Getty Images/Image Source

04/02/2021 15h16

ROMA, 4 FEV (ANSA) - A revista católica italiana "Jesus" publicou uma matéria especial sobre o abuso sexual de mulheres que vivem em ordens religiosas e ressalta o sentimento de muitas delas de serem "vítimas de série B" pelo fenômeno ser pouco investigado e noticiado.

Assinada pela jornalista Vittoria Prisciandro, a reportagem revela que os abusos sofridos pelas freiras é cometido tanto por padres como por madres superioras e que, muitas vezes, as vítimas não conseguem fazer denúncias porque as responsáveis pelas ordens ignoram os fatos - culpabilizando quem sofreu o crime.

"A religiosa abusada é transferida, sendo acusada dela seduzir o padre, e o padre continua em seu posto, continua sem ser perturbado. Mas, se o abuso é cometido por uma mulher, essa forma de culpabilização é ainda mais forte, como me contou uma religiosa que foi abusada ainda noviça pela sua mestre que, no mesmo período, virou madre superiora. Para quem ela pode recorrer para ter justiça? Infelizmente, muitas vítimas, sobretudo no caso de abusos de padres, só conseguiram justiça perante um tribunal", disse o padre Giovanni Cucci, que é psicólogo e terapeuta, à revista.

Na mesma entrevista, é citada uma fala da líder do Centro para a Proteção de Menores e Pessoas Vulneráveis da Universidade Saint Paul, de Ottawa, Karlijn Demasure, em fevereiro de 2019, que ressalta que "o primeiro a admitir que o assunto existe e é grave foi o papa Francisco".

Por conta disso, ele ordenou a criação de uma casa de acolhimento para mulheres que deixaram institutos e ordens religiosas, na prática, ex-freiras. Segundo a matéria, elas têm entre 30 e 55 anos e chegaram na Itália de países da África e da Ásia.

Os motivos delas para deixarem as suas funções são os mais diversos, desde a percepção que não estavam no caminho certo ou porque foram expulsas, além de vítimas de casos de racismo de líderes religiosas e de abusos sexuais e psicológicos. Na residência, elas recebem auxílio psicológico.

Em 2018, a União Internacional das Superioras Gerais (UISG), entidade que conta com duas mil líderes de congregações religiosas femininas de todo o mundo e que representam 500 mil freiras, já havia expressado sua "dor e indignação pela violência na Igreja" e tinha publicado um apelo no qual exortava as religiosas vítimas de abuso a deixarem o silêncio e a denunciarem a violência sofrida.

Demasure ainda lembra que a prevenção é fundamental e significa fazer com que as religiosas tenham uma boa formação para não serem "seduzidas e confundidas" por uma falsa teologia sobre o celibato que vem ganhando terreno em alguns ambientes.

"Os padres abusadores, de fato, dizem muitas vezes que a escolha do celibato equivale a 'não se casar'", pontua Demasure, ou seja, que o sexo é permitido. O problema, ao fundo de toda essa situação, é "que é preciso intervir com os padres", conclui.