Topo

Londrinas aprendem defesa pessoal após série de crimes contra mulheres

Mulheres que sofreram algum trauma na Inglaterra começaram a frequentar seu primeiro curso de defesa pessoal - Getty Images
Mulheres que sofreram algum trauma na Inglaterra começaram a frequentar seu primeiro curso de defesa pessoal Imagem: Getty Images

03/11/2021 11h20

Quando elas chegam, logo são questionadas se sofreram algum trauma. Estas londrinas vão começar a frequentar seu primeiro curso de defesa pessoal, uma prática que se popularizou após uma série de crimes contra mulheres na capital da Inglaterra.

Na aula de Krav Maga - uma técnica de combate corpo a corpo ensinada ao Exército israelense - que acontece no sul de Londres, no clube Urban Fit e Fearless, há muitos participantes novos.

"Neste momento, muitas mulheres, especialmente as que vivem em Londres, estão bastante angustiadas", disse Laura Thompson à AFP.

A gerente de contas de 29 anos confessa, durante sua primeira aula, que tem "muitas amigas que falam abertamente sobre suas preocupações, ou sobre o fato de que não se sentirem seguras".

O desaparecimento em março de Sarah Everard - uma londrina de 33 anos, sequestrada, estuprada e assassinada por um policial a caminho de casa no sul de Londres - traumatizou o Reino Unido e alimentou o debate sobre a segurança das mulheres no país.

Menos de um ano antes, as irmãs Bibaa Henry e Nicole Smallman foram esfaqueadas até a morte durante um ataque de inspiração satânica em um parque no noroeste da capital. E alguns meses depois, Sabina Nessa, uma professora, foi assassinada enquanto se reunia com amigos a cinco minutos de sua casa.

Depois do homicídio de Sarah Everard, Hannah Feiner, de 31 anos, decidiu fazer aulas de defesa pessoal.

"Eu realmente não me sinto segura em Londres neste momento", disse ela à AFP.

"Cresci aqui, e é a primeira vez que me sinto insegura na rua. Tinha que fazer alguma coisa, recuperar o controle", acrescenta.

Na aula, com dois terços dos 26 participantes compostos por mulheres, sugere-se que essas técnicas podem salvar a vida de uma delas.

"Põe seu peso em mim, me segura pela garganta", diz a instrutora Patrice Bonnafoux a uma voluntária, enquanto mostra como se livrar de uma chave no chão.

"Quando você crava alguém no chão, é fácil para as mulheres pensarem no pior cenário possível", comenta a instrutora, que tenta evitar lembranças traumáticas para as participantes. "Quero que a aula seja divertida", explica.

Segundo ela, é comum observar um aumento no número de participantes depois de acontecimentos violentos.

O número de mulheres aprendendo Krav Maga aumentou de forma espetacular nos últimos anos, ela afirma, embora "o interesse das mulheres por defesa pessoal seja forte há muito tempo".

Patrice Bonnafoux conta que cada vez mais as mães de adolescentes procuram informações sobre os cursos, o que ela atribui, diretamente, aos temores suscitados pelo assassinato de Sarah Everard.

"Acho que o fato de o agressor ter sido um policial surpreendeu muita gente", ressalta, acrescentando que as mães então diziam para si mesmas: "Se não podemos confiar nem na polícia, então temos que fazer alguma coisa!".