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Igreja na Amazônia defende funções oficiais para as mulheres

27.jul.2013 - Com um rosário nas mãos, fiel acompanha as palavras do papa Francisco durante a Vigília da Oração, que acontece na noite deste sábado (27) na praia de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, no penúltimo dia da programação da Jornada Mundial da Juventude - Antonio Lacerda/EFE
27.jul.2013 - Com um rosário nas mãos, fiel acompanha as palavras do papa Francisco durante a Vigília da Oração, que acontece na noite deste sábado (27) na praia de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, no penúltimo dia da programação da Jornada Mundial da Juventude Imagem: Antonio Lacerda/EFE

11/10/2019 13h18

Cidade do Vaticano, 11 Out 2019 (AFP) - A irmã Alba já batizou uma série de crianças e celebrou vários casamentos na floresta amazônica, por falta de padres. Reunidos no Vaticano desde domingo, os bispos da Amazônia querem estender essas funções às mulheres leigas que desempenham um papel fundamental na evangelização dos povos indígenas.

Em Roma, os guardiães da tradição masculina da Igreja ergueram escudos contra a ordenação de mulheres. Rejeitada pelo papa, a ideia não está na agenda.

Os bispos do sínodo dedicado à Amazônia - dos quais mais de 60% trabalham na região - querem dar às mulheres leigas mais funções reconhecidas pela Igreja, os chamados "ministérios", especializados em, por exemplo, a celebração de casamentos.

Nessa lógica, alguns esperam sinal verde para as mulheres "diáconas", assunto ainda sob estudo no Vaticano.

"A presença de mulheres na floresta amazônica é extremamente importante", confirma à AFP a irmã colombiana Alba Teresa Cediel Castillo, uma das 35 mulheres "ouvintes" sentadas nas últimas fileiras de uma sala de 184 bispos.

Entre estes bispos, há 113 dos territórios da Amazônia.

"Existem muito poucos padres, as distâncias geográficas são imensas, e muitos estão em constante movimento, mas somos uma presença constante e ajudamos a desenvolver projetos", alegou a missionária, cuja congregação está presente em seis dos nove países amazônicos.

"Faço tudo o que uma mulher pode fazer: a começar pelo batismo de crianças quando o padre não está presente. Também posso celebrar um casamento e ouvir confissões, mesmo sem ter o direito de absolver essas pessoas", conta.

"Dois terços das comunidades indígenas sem padres são lideradas por mulheres", que não são necessariamente religiosas, explica à AFP dom Erwin Kräutler, um missionário austríaco que vive há três décadas no Brasil.

- Diaconato das mulheres -"Para mim, não há razão para que as mulheres não possam ser ordenadas padres", diz esse bispo emérito do Xingu (entre Pará e Mato Grosso), que não pretende liderar essa batalha perdida.

"Falamos muito sobre destacar as mulheres, mas precisamos de coisas concretas: penso no diaconato das mulheres", acrescenta.

Em maio, o papa havia indicado que os membros de um grupo de estudo, criado em agosto de 2016 para examinar o papel das mulheres diáconas nos primeiros dias do cristianismo, ainda tinham opiniões divergentes demais para decidir.

Os diáconos católicos são homens ordenados para proferir o sermão na missa, celebrar batismos, casamentos e funerais. Não podem rezar missa, dar eucaristia, ou absolvição após uma confissão. Estas funções permanecem reservadas aos padres.

Esta condição continua sendo um passo em direção ao sacerdócio, mas o Concílio Vaticano II (1962-1965) restaurou o diaconato permanente, acessível a homens casados, que frequentemente atenuam a falta de padres.

O documento preparatório do sínodo sugere aos participantes "identificar o tipo de ministério 'oficial' que pode ser conferido às mulheres".

No terreno, muitos bispos assumiram a liderança. Como o bispo Wilmar Santin, que vive há nove anos com os indígenas Munduruku, uma comunidade de 11.000 pessoas em uma diocese de 175.000 km2 no sudeste do estado do Pará.

Em dois anos, ele criou 48 "ministras da Palavra", incluindo nove mulheres laicas, que falam sobre o Evangelho na língua indígena local. O bispo também decidiu formar "ministras de batismo e casamento", duas celebrações muito importantes para os Mundurukus, uma maneira de recuperar o terreno das onipresentes igrejas evangélicas.

Uma semana antes do sínodo, o papa havia dado o tom, enfatizando a necessidade de "treinar" apenas devotos competentes - homens e mulheres -, a quem seria conferido "um ministério" de leitura da Bíblia. Uma maneira evidente de valorizar o papel existente das mulheres que leem nas celebrações litúrgicas ao redor do mundo, sem título oficial.

Ainda assim, "as mulheres já podem ocupar todos os ministérios não ordenados" no território amazônico do bispo Santin, que aguarda uma resposta sobre as diáconas.

As visitas dos padres são tão raras em partes da Amazônia que as hóstias consagradas para as missas são muitas vezes destruídas pela umidade e por pequenos insetos, lamenta.