Topo

Lacroix convida para uma colorida viagem pelo Oriente Médio

Vestidos festivos palestinos são apresentados na mostra "O Oriente das mulheres visto por Christian Lacroix", no Museu Quai Branly, em Paris. A coleção de 150 peças tradicionais e acessórios, selecionadas pelo estilista Christian Lacroix, ficará em cartaz até 15 de maio - Charles Platiau/Reuters
Vestidos festivos palestinos são apresentados na mostra "O Oriente das mulheres visto por Christian Lacroix", no Museu Quai Branly, em Paris. A coleção de 150 peças tradicionais e acessórios, selecionadas pelo estilista Christian Lacroix, ficará em cartaz até 15 de maio Imagem: Charles Platiau/Reuters

08/02/2011 16h21

PARIS, 8 Fev 2011 (AFP) - A imagem da mulher do Oriente Médio vestida de preto por tradição ou religião cai por terra em uma exposição em Paris, onde o estilista Christian Lacroix convida a descobrir o vibrante colorido dos trajes tradicionais dessa região.

A mostra no museu Quai Branly, que abriu as portas nesta terça-feira e vai até o dia 15 de maio, reúne 150 deslumbrantes trajes e ornamentos tradicionais do norte da Síria à península do Sinai, selecionados pelo estilita junto à responsável pelas coleções do Oriente Médio do museu, Hana Chidiac.

"Queremos mostrar que a cor existe. Mas, infelizmente, essas cores, bordados e tradições ancestrais estão em vias de desaparecer, graças à mundialização e ao aumento do fundamentalismo religioso", disse Lacroix.

O estilista lembrou que algumas de suas coleções de alta-costura se inspiraram nas cores, motivos e bordados tradicionais da região chamada de "crescente fértil", que compreende os territórios da Síria, Palestina, Líbano, Egito e Jordânia. "Era uma homenagem às mulheres do Oriente Médio, como as que estão em exibição", disse o estilista.

  • Reuters

    Vestidos que integram a exposição "O Oriente das mulheres visto por Christian Lacroix", em Paris (07/02/2011)

As peças exibidas na mostra "O Oriente das mulheres visto por Christian Lacroix" pertenceram a camponesas e beduínas da região, e datam em sua maioria do final do século XIX até nossos dias.

Hana Chidiac, que mergulhou nas coleções do museu Branly e em outras coleções particulares em busca de trajes, casacos, jóias e enxovais de noivas aldeãs e beduínas, denunciou que "a religião e a globalização estão acabando" com um maravilhoso patrimônio cultural ancestral.

"A religião e o prêt-à-porter provocaram uma uniformidade na moda", lamentou, acrescentando que a exibição no Quai Branly "revela o prazer dessas mulheres em vestir e embelezar-se".

"As camponesas utilizavam algodão, linho, tingiam com anil, bordavam com fios de seda. Cada aldeã se distinguia da outra por seus bordados, suas cores", disse Chidiac.

Lacroix disse que as artesãs com as quais já trabalhou quase desapareceram das aldeias do Oriente Médio, lembrando que a cor preta "é agora como uma maré, que engole tudo".

"O preto pode ser uma cor sublime, mas não quando é imposto às mulheres para uniformizá-las, apagá-las, disse Lacroix. "Quando o preto não é uma escolha deliberada, é um sinal de obscurantismo", acrescentou.

O estilista, que deixou as passarelas da semana de alta-costura de Paris em 2009, logo depois de declarar falência, ressaltou que cada uma das peças escolhidas para esta exibição "é uma obra de arte".

"É o luxo na simplicidade. Algumas levavam meses para serem feitas, inteiramente à mão. Nem mesmo na alta-costura há tantas peças únicas", disse Lacroix, que continua criando figurinos para ópera e teatro, móveis e ainda colabora com a remodelação de hotéis.

O estilista optou por organizar a exibição como um desfile de alta-costura, que termina com o branco. "Os últimos trajes são todos brancos, como em um desfile de alta-costura, que conclui sempre com o vestido de noiva", disse Lacroix.