A bela da fera

O amor pela bonita e muitíssimo evangélica Michelle faz Jair Bolsonaro chorar, poetizar e mostrar o seu pior

Juliana Linhares Da Universa
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Para a conquista, foi: “Dei aquela cantada e falei: ‘Michelle, enquanto não faltar água no mar, não deixarei de te amar’”. Durante o namoro, mais poesia: “Resolvi buscar a felicidade e me aproximei dela. Tudo passou a ser diferente, esperança e alegria de viver brotaram de tal forma que até hoje me pergunto se tudo isso é verdade”. No casamento, o ápice: “Não vou dizer que te amo porque seria um pleonasmo. Você é um pedaço de mim”. E na vida de todo dia, só love: “Onde ela vai, eu tô atrás”.

Essas são algumas das delicadezas que o candidato à presidência Jair Bolsonaro – sim, Aquele que diz Aquelas coisas - fala e escreve sobre Michelle, a jovem mulher com quem, na idade bastante madura, o “Capitão”, como adora ser chamado, resolveu dividir seus dias.

Michelle de Paula Firmo Reinaldo Bolsonaro é uma mulher de Deus. Assim, ao menos, informam os pastores da Igreja Batista Atitude, centro evangélico com sede na Barra da Tijuca, onde há cerca de um ano ela se junta em orações. Até 2016, Michelle se socorria à Assembleia de Deus, na figura e ministério do pastor Silas Malafaia, que inclusive celebrou o casamento dela com Bolsonaro. “Ela é uma menina que gosta de servir. Na minha igreja, pegava cesta básica, achava coisas para bazar. Mas não é boba: sabe se expressar e construir relacionamentos”, analisa Malafaia. “Ela não carrega em maquiagem e não é sofisticada; mas nem precisa. Michelle tem uma beleza natural”, aprofunda-se o líder espiritual.

Jair e Michelle, que têm cerca de 25 anos de diferença de idade, formam um casal que anda de mãos dadas, sorri para o outro e dá selinhos em público. Muitos deles, disparados por ela. Foi assim, por exemplo, na festa de casamento, quando Malafaia disse que os noivos podiam se beijar. Bolsonaro, com a cara lavada de choro (sim, senhoras e senhores), sorria frouxo e não se manifestava. O pastor acelerou num “Bora, rapaz”, mas foi uma sorridente Michelle quem tascou-lhe o beijo.

Noiva veta funk, Bolsonaro chora

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Festa Bolsominion

Michelle e Bolsonaro se casaram num começo de noite, numa mansão de festas que tem vista do Rio de Janeiro até Teresópolis. Diante de 150 amigos e parentes, a noiva surgiu num vestido de renda francesa, e o noivo, num terno cinza chumbo, cuja calça era alguns números maior que o dele. Comunidade bolsominion dançou a valer.

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"Nada de vermelho"

Michele estava exultante por ter escolhido uma festa em tons laranja, amarelo e rosa chá ("e nada de vermelho", disse à cerimonialista Elenita Teixeira Lobo); Bolsonaro, satisfeito por ter algum álcool na festa (em que funk, música ao vivo e escola de samba foram vetados pela noiva, "muito religiosa", lembra Elenita). O noivo chorou em vários momentos.

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Noivo nervoso

Dias antes da festa, uma serena Michelle encomendava a lapela de orquídeas para o noivo. Bolsonaro, nervoso, se embaralhava. "Ela pagou a última parcela do buquê e das lapelas. Depois, ele mandou para mim o mesmo valor. Avisei do erro e devolvi o dinheiro", diz a artista Edla Barros. Coisa miúda, R$ 590 cada pagamento

Marido e patrão: cabidão do capitão

Bolsonaro também se atrapalhou, digamos assim, financeiramente, quando conheceu e contratou Michelle. Nos idos de 2007, ela era secretária parlamentar na Câmara dos Deputados, em Brasília, e ele, deputado federal. Pouco tempo depois de se conhecerem, o encanto se fez. E duplamente: começaram a namorar e, como a vontade de estar juntinho era imperativa, Bolsonaro chamou Michelle para trabalhar em seu gabinete. Quem nunca?

No período de um ano e dois meses em que despachou com Bolsonaro, Michelle foi promovida e seu salário quase triplicou, se comparado ao que ela ganhava antes da mudança. Detalhe: nove dias após ser contratada, os dois firmaram o pacto antenupcial e, dois meses depois, casaram-se no papel (a festa se daria apenas em 2013). Em 2008, no entanto, Michele teve de ser exonerada. O STF, estraga-prazeres da família Bolsonaro, proibiu o nepotismo na administração pública.

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Uma mulher do povo

Michelle faz o estilo sapatilhas, jeans e blusinha. Adora uma Zara. Com uma camisa de oncinha, noite dessas, parou para comer lanche de carrinho de rua com Bolsonaro. Traçaram salgadão com Guaraná. Ela, de pé, Bolsonaro, sentado num banquinho.

No Facebook, a primeira-deputada aparece com o maridão em diversos momentos povo. Num deles, vestindo a camisa do Flamengo, e em pleno Maracanã, ela é só sorrisos: Bolsonaro é Botafogo (em São Paulo, é palmeirense). "Prova de amor", cutuca Michelle. 

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Fake news?

O ninho dos Bolsonaro fica num condomínio de luxo na Barra da Tijuca. Michelle contou a uma amiga que, em uma das paredes de sua casa, há uma enorme ilustração de cruz, do rodapé ao teto, com os dizeres: “A Cruz me Liberta”. Além de uma filhinha de sete anos, mora com o casal a filha adolescente de um relacionamento anterior de Michelle. Pelas redes sociais, L., de 16 anos, como todas as mocinhas, faz selfie de biquinho. A menina, cujo pai trabalha em uma empresa de ônibus de turismo, já pensa no futuro da família em Brasília, caso o padrasto arrebate a faixa presidencial. L. está "curiosa para saber como será essa nova etapa" e acha que vai ter "muitas viagens", "que vai ser uma loucura", "porém, legal". Ela quer ser médica. 

Michelle também se interessa pela área de saúde. Pelo Facebook, informa que estudou na Faculdade Estácio de Sá. A instituição, no entanto, comunica que ela se inscreveu em farmácia, mas não fez o curso. Fake news? Não, só um mal-entendidozinho de rede social; claro.

Frequentadora da Bodytech, academia obrigatória dos pecuniosos da Barra, ela faz musculação e ginástica. Participou ainda de uma corrida de rua em que percorreu seis quilômetros em 48 minutos e 46 segundos, ficando em 999, das 1.649 posições. “Ela não é definida”, reporta Veroka Costa, sobre a musculatura da colega de treino. “E tem um coração enorme”, frisa Veroka. 

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Programa de domingo

Michelle adora programa shopping com a filha; e no cardápio gourmet, sushi e Burger King imperam. Ela costuma ir aos cultos de domingo da igreja e, às vezes, leva o marido junto. Bolsonaro é católico, mas a acompanha.

Costumava acompanhar muito mais quando ela era da igreja de Silas Malafaia. Em 2016, o pastor virou alvo de uma investigação da Polícia Federal e cobrou que Bolsonaro se posicionasse pública e rapidamente a seu favor. O deputado, no entanto, não respondeu como o religioso queria.

Meses depois, Michelle mudou de igreja.

Conversa de candidato

Interessada e se especializando em Libras (Língua Brasileira de Sinais), a mulher de Bolsonaro participou da preparação de surdos que tocaram instrumentos no bloco de Carnaval da Igreja Batista Atitude, o “Sou Cheio de Amor”. Ela tem se esforçado em aproximar o marido de pessoas com essa condição – e de tornar a aproximação bastante vista, de preferência, no YouTube. Recentemente, Bolsonaro deu uma entrevista a um rapaz surdo, e prometeu, caso seja eleito presidente: “Em todos os compromissos públicos, terei um tradutor de Libras ao lado”. Anotado.

Álbum de família

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Alô, machismo?

A senhora Bolsonaro tem dado ao marido a chance de mostrar ao público recônditos de sua psique. Pai de quatro homens, três deles também políticos, e frutos de relacionamentos anteriores, ele teve com Michelle uma menininha. Certa vez, explicando a delícia de ter uma filha, o Capitão mitou: "Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens. Aí, no quinto eu dei uma fraquejada e veio uma mulher".

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Alô, preconceito.

Morena clara pela própria natureza, e loira, pelo impávido cabeleireiro, Michelle também ajudou o marido a se defender de acusações racistas. "Meu sogro é o Paulo Negão!", disse o deputado, a respeito do pai da esposa, em uma entrevista. Bolsonaro, militar aposentado, ainda expôs num programa de TV a foto do cunhado, negro, então com 23 anos e soldado do Exército.

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Blindagem de tiro, porrada e bomba

Não é por acaso que quase ninguém conheça Michelle, tenha visto fotos dela ou saiba o que ela pensa. Michelle quase não vai a eventos políticos com Bolsonaro, não apareceu no ambiente de pré-campanha presidencial e, muito menos, como uma famosa na sombra do marido.

Isso se deve a dois motivos. O primeiro é uma natural discrição da personagem. O outro, uma blindagem, feita em várias camadas, por todos que cercam o casal. Assessores, familiares e conhecidos vão do silêncio à grosseria quando perguntados sobre Michelle. O motivo: temor de que a pancadaria gerada e recebida por Bolsonaro afete a mulher. E possível primeira-dama. A reportagem tentou, por semanas, entrevistar Michelle e Bolsonaro. Só recebeu nãos. 

M é uma letra cabalística para as últimas e vultosas primeiras-damas. Houve Marisa, Marcela, Melania e, ops, Michelle. Seria a sra. Bolsonaro a próxima da fila? “Ela é uma mulher segura. Fala baixo mas fala. Não será uma primeira-dama muda”, diz Elenita Teixeira Lobo.

Todos estão surdos?

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