Cada preto assassinado é uma chama que arde em nós

Hoje, dia 20, em que celebraríamos a Consciência Negra, um homem foi espancado até a morte no estacionamento do Carrefour —e não é a primeira vez que isso acontece. Vivemos num país em que seguranças de supermercado se sentem tranquilos em matar um homem preto num estacionamento, sem que ninguém faça nada.

"O racismo mata até nossa potência criativa", me disse a amiga Adriana Arcebispo, lembrando o conceito de racismo epistemológico, que relata a dificuldade que temos em pesquisar sobre nossa história, nossas especificidades, nossa luta. Sobre a dificuldade de se manter criativo, pensativo, intelectualmente produtivo em momentos como este.

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Fica complicado pra uma mulher negra, mãe de um garotinho negro, esposa de um homem negro, falar hoje sobre estética, beleza, moda e todas as coisas que gosto de abordar aqui, nesse espaço vaidoso, coisas que me humanizam numa sociedade que está tentando nos matar o tempo todo. Mas como falar sobre batom quando o Estado diz a todo momento que a única preocupação genuína que eu posso ter é sobreviver.

Numa outra situação genocida, Emicida falou que "se esse fosse um país sério, se tivesse respeito pelos seus cidadãos, as ruas estariam pegando fogo". Enquanto isso, o que vemos são justificativas legitimadoras de violências e truculências de um estado feito para nos matar.

"As ruas estariam pegando fogo." FOGO! Talvez o elemento que mais tenha relação com a história do meu povo: o fogo que nos mata, que nos queima, que arde como as chicotadas que meus ancestrais levavam no corpo. O fogo que iluminava as noites de liberdade nos quilombos, fogo que é aliado na luta, que arde nos corações #fogonosracistas .

O mesmo fogo que é tão aliado da destruição, também é vida, é calor, é aquecimento. É indomável, é espiritual.
Assim como qualquer labareda tem em si potencial para se tornar incêndio, cada história negra, cada vida negra, cada prete que se foi é uma chama que arde em nós e não nos deixa descansar, nem desistir, uma chama que vibra a cada vitória, a cada passo, por cada dia a mais de cada um. Meus heróis não morreram de overdose, MEUS HERÓIS FORAM ASSASSINADOS.

Salve Aqualtune, Salve Dandara, Salve Chico da Matilde, o Dragão do Mar, Salve Maria Filipa, Salve Tereza de Benguela. Marielle Franco PRESENTE, Agatha Feliz PRESENTE, Claudia Silva Ferreira PRESENTE, João Alberto Silveira Freitas PRESENTE.

ZUMBI VIVE. Como canta Gilberto Gil: "Zumbi, comandante guerreiro, Ogunhê. Ferreiro mor capitão, da capitania da minha cabeça, mandai alforria pro meu coração..."