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Em tempos de contatinhos a monogamia pode ser revolucionária

É preciso ter coragem e resiliência para amar de verdade. Estar disposto a cair, levantar e sacodir a poeira, inúmeras vezes - Wavebreakmedia
É preciso ter coragem e resiliência para amar de verdade. Estar disposto a cair, levantar e sacodir a poeira, inúmeras vezes Imagem: Wavebreakmedia

André Lage

Colunista do UOL

21/12/2020 04h00

Como assim, logo o soltos que defende tanto a solteirice falando bem da monogamia? Calma, que no caminho eu te explico! Entrevistamos o professor e filósofo Renato Noguera e ele traz questionamentos muito valiosos sobre como essa vida de eternos primeiros dates, pode na verdade nos deixar presos em um lugar de pouco contato com a nossa própria humanidade.

Em uma vida de contatinhos, existe uma certa hipocrisia de um teatro social onde a gente pode estar sempre fazendo um personagem para o outro. Mas ao longo de 10 mil dias... Isso é impossível. Nesse sentido, a intimidade pode ser um instrumento poderoso dentro dessa aventura rumo ao autoconhecimento: o outro passa a ser um espelho que nos mostra os nossos lados menos instagramáveis e assim somos obrigados a lidar com nossas sombras.

Apaixonar e encantar é fácil

No início das relações a fantasia impera. Performamos um personagem bem resolvido e feliz e nos apaixonamos pela imagem projetada do outro. Mas depois de algum tempo de convivência, as máscaras caem e a gente pode ver a pessoa como ela é. É nesse momento que muitas pessoas pulam fora das relações porque não suportam lidar com essa desilusão (que muitas vezes é mútua).

Será que estamos dispostos a abrir mão de toda (auto)idealização que foi feita ao longo de muitas fotos editadas, likes e frases de efeito? Talvez a parte mais difícil de uma intimidade a longo prazo seja ter que lidar com a sua própria imagem refletida no outro. E muitas vezes não gostamos do que vemos, por isso pode ser mais fácil não se aprofundar.

Amar é para os fortes

Escutamos reclamações quase que diárias de soltos que não aguentam mais essa vida de contatinhos, de ter que ficar pulando de galho em galho, em busca do grande amor. Mas não saber lidar com essa quebra de expectativas pode ser uma defesa para não ter que lidar com o pacote completo do amor.

Não adianta esperar um amor gourmetizado, só com a parte boa, como nos filmes. Ao longo do tempo somos obrigados a lidar com a raiva, o tédio, as rusgas e todos os perrengues que só o longo prazo proporciona. Intimidade não é uma coisa confortável e gostosinha, o nome disso é sofá. É preciso ter coragem e resiliência para amar de verdade. Estar disposto a cair, levantar e sacodir a poeira, inúmeras vezes.

E isso só pode ser feito através de muito diálogo e vulnerabilidade, em uma relação onde ambas as partes sentem que podem colocar seus medos e inseguranças na mesa, para que JUNTOS, possam encontrar saídas. Noguera argumenta que "a monogamia é a prova de que podemos amar sendo humanos, sem perfeição, sem maquiagem, sem máscaras".

Monogamia, desde que não seja opressora

Obviamente nós (Noguera e Soltos) somos contra uma monogamia dentro da estrutura do patriarcado onde a mulher é oprimida pelo homem. Aqui falamos sobre uma monogamia não opressora, onde o homem se permite entrar em contato com essas emoções em uma relação de igualdade de poder com a mulher. Uma relação de longo prazo onde uma intimidade é construída através do respeito mútuo. Não é fácil, sabemos... mas é possível!

Dever de casa

E você, está querendo mesmo construir uma relação intimidade sem idealizações? Está disposto a entrar em contato com suas sombras e suportar as falhas do outro? Ou está só querendo um colo de pura compreensão e amor incondicional?

Antes de embarcar em uma viagem, é importante saber o que vamos ver por lá e principalmente os custos totais, senão acabamos voltando pra casa sempre frustrados e com o saldo emocional negativo.

Se quiser continuar esse papo, assista a entrevista completa no nosso canal.