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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ex-goleiro Bruno deve pensão a filho com Eliza e é apoiado por mulheres

Ex atleta faz vaquinha para pagar a pensão em atraso do filho com Eliza Samudio - Reprodução/Instagram
Ex atleta faz vaquinha para pagar a pensão em atraso do filho com Eliza Samudio Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista de Universa

19/08/2022 04h00

Em seu perfil no Instagram, onde tem mais de 100 mil seguidores, o ex-goleiro Bruno Fernandes, condenado pelo assassinato de Eliza Samúdio, um dos casos de feminicídio mais emblemáticos e cruéis do Brasil, anda se fazendo de vítima e pedindo ajuda aos "fãs". E, sim, ele tem fãs, e pelo incrível que pareça, grande parte deles são mulheres.

Bruno, no momento, se considera "injustiçado". Motivo: ele pode ser preso por não pagar pensão de Bruninho, filho de Eliza Samúdio que, desde 2012, é considerado pela justiça filho de Bruno já que o atleta se negou a fazer um teste de DNA enquanto estava preso.

Agora, desesperado, Bruno busca o DNA e os holofotes. Em sua rede social, ele pediu ajuda "a algum programa sensacionalista" para fazer um teste de DNA. O mesmo que, quando preso, ele negou.

Bruninho, que tinha meses quando a mãe morreu e, na ocasião, foi sequestrado por Bruno e seus comparsas, hoje tem 12 anos e é criado pela avó Sônia, mãe de Elisa, uma mulher que perdeu a filha desse jeito bárbaro.

Se não pagar a pensão, Bruno pode ser preso. É para ter pena?

O Instagram, pelo jeito, é sua plataforma para tentar evitar que isso aconteça. Para isso, sua mulher, Ingrid Calheiros, com quem Bruno é casado desde 2016, gravou um vídeo pedindo ajuda, falando que tinha aberto uma vaquinha para tentar arrecadar 90 mil reais, que, segundo ela, era o valor que ele teria que pagar, referente a pagamentos atrasados.

Bruno, até o fechamento desta coluna, tinha arrecadado mais de R$ 20 mil em apenas quatro dias. Isso em um momento em que cerca de 33 milhões de brasileiros passam fome e grande parte dessas vítimas são mulheres, mães e avós que cuidam dos seus filhos e netos.

Sônia Moura talvez seja uma dessas. Mas, em vez de ajudar Bruno, talvez valesse fazer uma vaquinha diretamente para ajudar a ela e ao filho de Eliza.

Bruno acusa Sonia de não cumprir um acordo que eles teriam feito para quitação da dívida e, para isso, postou parte de um processo que corre em sigilo de justiça.

Nas respostas ao post, muitas das "fãs" eram mulheres. Uma delas, disse: "As pessoas aí cheias de erros e pecados mas se acham no direito de julgar e acabar com a vida dos outros #deixemoBrunoempaz". Bem, quem acabou com a vida de alguém foi Bruno, e com a vida de uma mulher, mãe de um filho pequeno.

O que acontece com essas mulheres que, em um momento desses, em vez de se juntar a outra, tomam o lado do assassino, que se faz de vítima? Que síndrome de Estocolmo é essa que faz com que alguém se identifique com os seus carrascos?

O que leva mulheres a resolverem "ajudar" um homem que deve pensão para o filho da mulher que ele matou?

A sociedade tem que ser muito machista mesmo para que muitas tomem o lado do opressor sem perceber e passem, imediatamente, a julgar e atacar outras mulheres.

A atacada do momento é a avó de Bruninho, a mãe de Eliza, Sônia Moura, que perdeu uma filha dessa forma brutal e cuida sozinha do neto. Mas, segundo uma das fãs de Bruno, ela seria "uma mercenária que estaria com o menino só por causa da pensão." Como pode? Que falta de empatia é essa?

Em sua fala, Ingrid diz que Bruno não pode trabalhar, porque "caem em cima dele" e passou dez anos preso. Sim, ele tem direito de trabalhar, agora, ao mesmo tempo, não podemos aceitar que ele seja um ídolo esportivo, com fãs crianças. Atleta é também alguém que deve inspirar.

No caso da pensão, Bruno precisa honrar suas responsabilidades. Como ele vai fazer isso? Sinceramente, não consigo achar que é problema nosso. E não, não dá para ter pena do goleiro Bruno.