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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Homens brancos são maioria absoluta em debates de governadores. Até quando?

Candidatos durante debate da Band no estado de São Paulo - Renato Pizzutto/Band
Candidatos durante debate da Band no estado de São Paulo Imagem: Renato Pizzutto/Band

Colunista de Universa

08/08/2022 11h29

"O macho, adulto, branco, sempre no comando": a frase de Caetano Veloso, celebrado por ter comemorado seus 80 anos no fim de semana, está na música "O Estrangeiro", lançada em 1989, mas continua atual, infelizmente.

Quer uma prova disso? Dê uma olhada nas fotos dos debates a governadores que aconteceram no domingo (7) no Distrito Federal e em outros nove estados brasileiros.

O palanque dos debatedores foi, mais uma vez, basicamente branco e masculino. Nos debates do Rio de Janeiro e de São Paulo, duas capitais tão importantes e simbólicas do Brasil, não havia sequer uma mulher. E também nenhuma pessoa negra.

Mulher negra, então? Imagina.

O absurdo aumenta quando a gente olha para os dados demográficos do país. Segundo a PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) do IBGE de 2018, a população brasileira é formada por 48,2% de homens e 51,8% de mulheres. Também segundo o IBGE, 54% da população brasileira é negra.

Ou seja, as mulheres e os negros deveriam responder no mínimo pela metade das candidaturas, não?

Bem, só em nossos sonhos.

Segundo levantamento da "Folha de S. Paulo", mulheres são 1 em cada 7 pré-candidatos a governos.

Os debates explicitaram essa realidade. Além de sempre serem minoria, mulheres foram inexistentes em estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e Paraíba. Parece certo?

Governadores serão responsáveis por gerir os estados. Os interesses das mulheres também deviam ser representados, e não só com secretarias especiais para mulheres. Mas no geral. E, claro, mulheres têm as mesmas habilidades que os homens (algumas pesquisas, inclusive, apontam que mulheres são melhores gestoras). Então, por que nós, mulheres, ainda somos minorias nos debates?

Porque o poder continua na mão de "machos, adultos e brancos".

Mulheres ainda são minoria na política

E, quando fazem parte dela, são chamadas de "histéricas" e "loucas". A única presidente já eleita do Brasil, Dilma Rousseff, é uma prova disso. Ela foi constantemente chamada de "desequilibrada".

O buraco é fundo. E, infelizmente, não nos dá muitas esperanças. Só seis estados tiveram mulheres governadoras em toda a história.

Isso precisa mudar. Estamos em 2022. Kamala Harris é a primeira mulher negra a ser vice-presidente dos Estados Unidos. Pesquisas mostram que países governados por mulheres, como a Nova Zelândia, por exemplo, foram os que tiveram a melhor gestão da pandemia. Esse atraso brasileiro precisa mudar.

Mas, quando falamos que representatividade é importante, assim como o feminismo (só queremos direitos iguais, oras), ainda dizem que estamos de "mimimi". Não é fácil.