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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Nem orações de Michelle podem convencer mulheres a votar em Bolsonaro

A primeira-dama Michelle Bolsonaro discursou na convenção nacional do PL, que definiu a chapa Bolsonaro-Braga Netto para concorrer às eleições presidenciais em 2022 - Ricardo Moraes/Reuters
A primeira-dama Michelle Bolsonaro discursou na convenção nacional do PL, que definiu a chapa Bolsonaro-Braga Netto para concorrer às eleições presidenciais em 2022 Imagem: Ricardo Moraes/Reuters

Colunista de Universa

25/07/2022 13h36

A primeira-dama Michelle Bolsonaro foi a estrela do do evento de lançamento da campanha do presidente Jair Bolsonaro, que aconteceu no domingo (24) no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro. Vestida de verde, bandeira do Brasil no ombro, ela foi "o grande momento" da festa. Michelle era figura aguardada na campanha, já que tem carisma, mesmo que pareça falar como uma pastora, e discursa melhor que o marido.

E não é só isso. A campanha de Bolsonaro está desesperada para conseguir votos do eleitorado feminino. A rejeição de Bolsonaro entre as mulheres é enorme. Segundo dados do Datafolha, entre mulheres, Bolsonaro perde de Lula no primeiro turno no que depender das mulheres.

De acordo com a pesquisa, apenas, 29% das mulheres com renda superior a cinco salários mínimos e 20% das que recebem até dois salários mínimos pretendem votar em Bolsonaro.

Michelle, que segundo colunistas políticos não queria entrar na campanha e deu trabalho para ser convencida, bem que se esforçou para mudar esse panorama.

Em um discurso de 15 minutos, ela falou como uma pastora em um culto. Evocou Deus e disse que o Brasil iria "se libertar o que depender desses joelhos aqui".

Ela se mostrou como uma religiosa radical, que passa horas ajoelhada rezando pela "libertação do Brasil", o que é bem estranho, já que Bolsonaro é o presidente. E ela não quer que o país se "liberte" do marido, certo?

Mas, em seu discurso, Michelle também distorceu informações. Em um momento dirigido especialmente às mulheres, ela disse:

"Falam que ele não gosta de mulheres, mas ele é o presidente da história que mais sancionou leis de proteção das mulheres. Ele sancionou 70 leis. Foi ele que sancionou a lei que dava direito às mães com filhos com microcefalia de receber o BPC (benefício de prestação continuada)", disse Michelle.

Michelle ocultou um detalhe importante. A maioria dessas leis não são de autoria de aliados do presidente ou ideias de Bolsonaro e sua equipe. A Lei citada por Michelle, por exemplo, teve como relator o senador Izalci Lucas, do PSDB-DF.

Bolsonaro só assinou para que essas leis fossem aprovadas. Mas isso parece ser tudo o que a campanha tem para tentar convencer mulheres de que ele é um amigo da causa feminina.

Missão impossível

O discurso de Michelle com certeza deve ter feito sucesso entre mulheres apoiadoras do presidente, que também acham que Bolsonaro é uma espécie de "enviado de Deus". Mas esse não é o desafio que a campanha enfrenta. O presidente, com a ajuda da primeira-dama, precisa convencer mulheres que não são suas apoiadoras.

Como fazer isso, depois de Bolsonaro passar os quatro anos em que foi presidente destratando mulheres jornalistas e dando declarações machistas que repercutiram no mundo inteiro?

O fato do presidente, há cerca de um mês, ter ido para as redes sociais defender que uma criança de dez anos vítima de um estupro fosse obrigada a ter um bebê, mesmo o direito a aborto sendo garantido por lei também não deve ter ajudado em nada.

Nessas horas, em geral, mulheres olham para suas filhas, sobrinhas, netas e sentem horror ao imaginar o quanto seria terrível que isso acontecesse com algumas de suas meninas

Mulheres são inteligentes. E também não esqueceram, por exemplo, que Bolsonaro, em resposta às mortes por Coronavírus, respondeu: "Não sou coveiro". São as mulheres que costumam cuidar dos doentes. Elas viram o descaso de perto.

Não há "joelhos" de Michelle Bolsonaro e pedidos para "Deus interceder" que vá mudar a ideia que milhares de mulheres brasileiras têm em relação a Bolsonaro.