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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Proibidos no Brasil, autotestes de covid são rotina na Alemanha

Atração turística em Berlim, Kaiser Wilhelm Memorial Church virou centro de testagem gratuita -  Nina Lemos/ UOL
Atração turística em Berlim, Kaiser Wilhelm Memorial Church virou centro de testagem gratuita Imagem: Nina Lemos/ UOL

Colunista de Universa

13/01/2022 04h00

Em agosto do ano passado, quando saí de Berlim, na Alemanha, onde moro, para visitar minha família no Brasil, levei 30 testes rápidos de coronavírus na mala. Na época, comprei cada um por pouco mais de um euro. Os testes são simples e você faz sozinho em casa com cotonete ou saliva. E, desde o fim de 2020, fazem parte da rotina de quem mora no país europeu.

No Natal do primeiro ano da pandemia, eu já tinha os testes em casa, comprados na farmácia e, antes da festa familiar para quatro pessoas, todos se testaram. Os testes antígenos rápidos que levei na mala são guardados como preciosidades por meus familiares e amigos no Brasil. Muitos foram utilizados nos últimos dias, com o aumento dos casos de ômicron e influenza.

Na época, fui chamada de exagerada. Mas, quando for ao Brasil de novo esse ano, pretendo levar no mínimo 50. Isso porque os autotestes continuam proibidos no Brasil pela Anvisa. E, há dias, acompanho a saga de amigos brasileiros que precisam fazer um teste por apresentarem sintomas.

Na Alemanha, no momento, os autotestes são vendidos por 2,90 euros (aproximadamente R$ 18,40) em supermercados e drogarias. Mas muitos são oferecidos gratuitamente. As crianças fazem esse tipo de teste na escola pelo menos três vezes por semana e as empresas são obrigadas a fornecer testes do tipo para os funcionários.

Centros de testagem grátis

Além disso, existem centros de testagem que oferecem antígeno grátis em cada esquina. Não é exagero: só em Berlim, onde moro, existem mais de 1.200 locais onde os cidadãos podem se testar de graça diariamente. A recomendação do governo é que todos se testem pelo menos uma vez por semana.

Nos últimos dias, a fila para o teste na farmácia do lado da minha casa aumentou. Motivo: além da ômicron e do aumento dos casos (Berlim é um dos hotspots da pandemia na Alemanha), algumas pessoas estão ali para poder pegar um ônibus ou entrar no trabalho.

Explico. Desde novembro, aplica-se nos ambientes de trabalho e no transporte público a regra chamada 3G. Em linhas gerais, significa que quem não é vacinado ou possui um atestado de recuperação do coronavírus recente só pode usar transporte público ou entrar no trabalho se apresentar um teste negativo feito nas últimas 24 horas. Se for pego sem, tem que pagar multa e é convidado a sair.

Mas nós, vacinados, também fazemos uso dos testes. É rotina. Se você vai fazer um jantar para amigos, todos se testam. Nas escolas, com a ômicron, a testagem aumentou. Desde quando voltaram das férias de Natal, crianças e adolescentes têm de se testar todos os dias na escola antes de a aula começar.

E eu, não minto, tenho um estoque de testes em casa (meu marido ganhou uma caixa com 100 do trabalho) e me testo sempre que me sinto gripada ou com medo de estar contaminada.

Antes de estarmos vacinados, nos testávamos ainda mais. Quando o comércio e restaurantes reabriram depois de um longo lockdown, em abril de 2021, você tinha que apresentar um teste negativo para entrar. O mesmo valia para clubes e shows. Essa foi a maneira encontrada pelo governo de fazer a vida voltar um pouco ao normal.

Ministro da saúde é entusiasta dos testes rápidos

No caso dos autotestes, eles são recomendados também como proteção dos grupos mais vulneráveis. Poucos dias antes das festas de fim de ano, o ministro da saúde Karl Lauterbach mandou uma mensagem para os cidadãos em que pedia que todos se testassem antes de encontrar um pequeno grupo de familiares ou amigos. Em especial quando fossem visitar idosos.

O ministro, por sinal, é um dos grandes entusiastas dos testes rápidos. No início da pandemia, quando ainda não era ministro, mas apenas um dos epidemiologistas mais famosos do país, ele insistia na importação e fabricação de testes rápidos para todos.

Com a ômicron, os testes passaram a ser ainda mais importantes. Em Berlim, a partir do dia 15 de janeiro, para entrar em restaurantes, você terá que apresentar seu passaporte de vacinação com as duas doses, mais a dose de reforço. Quem só tiver duas, terá que apresentar um teste.

Eu, vacinada três vezes, não terei essa obrigação. Mas continuarei a me testar sempre. E, claro, por via das dúvidas, já vou começar a estocar teste rápido para levar esse ano para o Brasil.