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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Apesar da tragédia das enchentes, famosos ostentam em festas na Bahia

Em Morro de São Paulo, Caio Castro, Kéfera e outros influenciadores festejam enquanto Bahia tem regiões em estado de calamidade - Reprodução/Instagram
Em Morro de São Paulo, Caio Castro, Kéfera e outros influenciadores festejam enquanto Bahia tem regiões em estado de calamidade Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista de Universa

30/12/2021 04h00

Às vésperas do Réveillon de 2022, a Bahia está embaixo d'água. Na tarde de quarta-feira (29), mais de 77 mil pessoas estavam desabrigadas por causa das fortes chuvas que tomaram conta do estado no últimos dias. O número de mortes era de 21 e 136 cidades estão em situação de emergência, o que representa 30% do estado.

Entre as cidades em emergência que estão recebendo pacientes feridos de zonas mais atingidas, está Porto Seguro. Só que isso não parece ter feito com que a maioria dos famosos e ricos mudassem seus planos de Réveillon. Caio Castro, Nati Vozza, Gabigol, MC Rebecca são algumas das celebridades que vão passar a virada de ano no estado, apesar do estado de calamidade. A distopia encenada pelos influenciadores em terras baianas vive, agora, seu terceiro capítulo.

Há um ano, com a pandemia bombando (na época ainda não estávamos vacinados), a cidade de Porto Seguro virou notícia por um feito inédito. O aeroporto do lugar, onde fica Trancoso, uma das praias preferidas pelos ricos e famosos do Brasil, registrou engarrafamento de jatinhos. Sim, os milionários e influenciadores correram para lá (na época não dava para viajar para fora do Brasil, já que países da Europa e os Estados Unidos não aceitavam a entrada de brasileiros) e festejaram a vontade.

Em 2020, outra praia paradisíaca da Bahia foi associada a tragédias. Um dos primeiros surtos de coronavírus registrados no Brasil aconteceu em Itacaré, em março, no casamento da influencer Marcella Minelli, irmã da blogueira fitness Gabriela Pugliesi, com o empresário Marcelo Bezerra.

"Lá em cima estava sol"

Na tarde de quarta-feira, enquanto parte do estado estava debaixo d'água, influenciadores como sorriam e exibiam looks do dia no Instagram. Alguns até faziam piada. Caso da influenciadora Nati Vozza que chegou de jatinho e postou uma foto da janela do avião: "lá em cima estava sol, mas tudo é uma questão de perspectiva", escreveu. Como? Ela não percebeu que estava rindo da desgraça de pessoas que perderam tudo que tinham? Talvez não. Mas um dia após ter feito a piada ela já estava postando foto fazendo brinde com cerveja na praia.

Em Itacaré, a empresária Tati Sanches Oliva, que produziu uma festa de pré-Réveillon com Anitta se empolgou. Na quarta-feira, postou de biquíni na praia em cima de uma árvore derrubada e trazida pela maré. Sim, ela sensualizou na tragédia.

E ainda tentou fazer uma pensata: "As fortes chuvas trouxeram as praias (sic) de Itacará um novo visual. Agora com o sol, o que parecia sujeira e destruição vai se acomodando a um novo cenário e virando beleza natural. Sem palavras". Ela completou com um emoticon de gratidão. É sério. Isso aconteceu, por mais inacreditável que possa parecer.

A poucos quilômetros dali, em outra cidade da Bahia, Morro de São Paulo, Caio Castro e Kéfera passeavam de barco. Junto com outros influenciadores, fazem festa e postam no Instagram, cheios de sorrisos.

Se a chuva atrapalha? Na página da festa Origens, que reunirá influenciadores em Trancoso, há informação de alteração de alguns horários e a informação de que os eventos "são cobertos".

Há também quem reclame da dificuldade de chegar na Bahia. Caso do jogador Gabigol, que passa as festas em Barra Grande, com a irmã e amigos e reclamou em seu perfil no Instagram que a viagem foi muito longa. MC Rebecca, que foi se apresentar em uma festa no estado, também usou o Stories para reclamar da demora da viagem.

Gabigol e outros frequentadores tradicionais de praias da Bahia, como a influenciadora Thassia Naves, ajudaram na divulgação de informações para doações ao estado e muito possivelmente doaram, justiça seja feita. Mas isso é o mínimo, vamos combinar.

Será que dá mesmo para manter o clima de festa?

Não fica no mínimo esquisito celebrar com 30% do estado em situação de emergência?

Em se tratando de ricos e famosos na Bahia tudo é possível.