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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Com funk misógino, Bolsonaro manda mensagem de ódio a mulheres no Natal

Colunista de Universa

22/12/2021 04h00

A cena rodou o país: bem relaxado e feliz, em uma lancha no interior de São Paulo, o presidente Jair Bolsonaro dança funk com alguns apoiadores. Já seria grave o presidente estar rindo e festejando no momento em que mais de 618 mil pessoas morreram de coronavírus e quase 20 milhões de brasileiros estão passando fome. Mas é pior, muito pior.

Ao cantar o tal funk com empolgação e fazendo mímica, Bolsonaro está, de novo, rindo da cara das mulheres e as ofendendo. Isso porque a música é um hino de ódio contra a esquerda e as mulheres. Alguns "versos" de "Proibidão do Bolsonaro", de Tales Volpi (o MC Reaça), dizem o seguinte: "Bolsonaro casou com a Cinderela, enquanto as de esquerda têm mais pelo que cadela". Nesse momento do vídeo, empolgado, o presidente aponta para debaixo do braço, rindo das tais feministas que teriam mais pelo do que um cachorro. Sim, o presidente chamou mulheres de cadelas.

O resto do "proibidão" diz que feministas comem ração na tigela. E ofende mulheres como Maria do Rosário, Jandira Feghali e Luciana Genro.

O hino de ódio às mulheres (e também à "esquerda" e aos homossexuais) é a mensagem de Natal que Bolsonaro manda para seus apoiadores. Não deixa de ser coerente com quem sempre teve a misoginia como pauta, mas é assustador.

MC foi acusado de agredir mulheres

Além do extremo mau gosto, essa mensagem é perigosa, já que os índices de violência contra mulheres no país são muito preocupantes.

Nos primeiros seis meses deste ano, 666 mulheres foram vítimas de feminicídio no Brasil. Segundo especialistas, a violência contra a mulher é uma epidemia no país.

Não por acaso, o próprio autor da música cantada por Bolsonaro foi apontado como um agressor de mulheres. O MC cometeu possível suicídio em 2019, após ser acusado de espancar sua namorada, que precisou ficar internada em estado grave.

Na ocasião, a morte do cantor foi lamentada pelo presidente Jair Bolsonaro no Twitter. Sim, o presidente não lamenta os crimes contra mulheres, mas a morte de um agressor, sim.

Ofensa a jornalistas

A família Bolsonaro parece realmente gostar do trabalho do MC. Filhos do presidente já compartilharam suas músicas em redes sociais.

Eles parecem se identificar com as paródias feitas pelo MC, que, em seus vídeos, usava um visual agressivo, cheio de símbolos de violência, semelhantes à estética neonazista. Sua carreira consistiu em músicas de ódio contra a esquerda e jornalistas. Em uma delas, ele canta: "Sou jornalista, e dou o furo". Bolsonaro, para quem não lembra, já ofendeu a jornalista Patricia Campos Mello falando que ela "queria dar o furo".

É, faz até sentido que o presidente goste desse tipo de música. Mas esse ataque às mulheres e o discurso de ódio não podem, de jeito nenhum, ser normalizados. Não merecíamos essa mensagem de Natal.