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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Prisão de médico no Egito prova que "piada" de cunho sexual é assédio

Victor Sorrentino em sua viagem ao Egito - Reprodução/Instagram
Victor Sorrentino em sua viagem ao Egito Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista de Universa

31/05/2021 11h44

"Vocês gostam mesmo é de bem duro, né? Comprido também fica legal, né?" Esses comentários foram feitos pelo médico e influenciador Victor Sorrentino para uma vendedora em uma loja de produtos turísticos no Egito.

A moça fazia seu trabalho e mostrava para o cliente um papiro. O médico achou a "piada" tão maneira, tão engraçada, que postou o momento em seu Instagram, compartilhando a "graça" com seus mais de um milhão de seguidores.

Victor Sorrentino foi preso ontem por autoridades do Egito.

Essa não foi a primeira vez que ele praticou esse tipo de abuso. Em outro vídeo, repostado por perfis que denunciaram o comportamento do médico, ele faz uma mulher estrangeira repetir uma frase em português. Ela ri, mas repete o que ele disse: "Eu vou transar com ele muito e depois eu vou despachá-la". Sim, parece que ele viajava o mundo praticando esse tipo de agressão. Ou seja, em suas viagens, ele exportava o machismo brasileiro, espalhando esse ódio a mulheres travestido de piada por onde passava. Ele não é o único a se aproveitar das diferenças de língua para assediar.

Em 2018, um grupo de homens brasileiros causou indignação depois que um vídeo onde humilhavam uma mulher russa viralizou. O grupo, trajando camiseta do Brasil, fez uma torcedora russa repetir palavras de cunho sexual.

Homens como o médico e os torcedores que viajaram para a Copa fazem parte do enorme contingente de homens brasileiros que adoram fazer "piadas" sexuais com mulheres. Para eles, isso é fonte de diversão. Só que esse tipo de brincadeira, não é só sem graça, é assédio.

Além do machismo e da falta de educação, esses homens também sofrem de uma arrogância gigante, acham que podem tratar o mundo como se fosse o quintal deles.

No caso do médico, influente, conhecido do presidente Jair Bolsonaro, ele deve achar que nada pode acontecer com ele. Nesse ponto, ele até tem razão. No Brasil, homens como ele, influentes, ricos e com amigos poderosos costumam ficar impunes.

O que ele não sabe, mas deve estar aprendendo agora na prisão, é que, quando você está fora do Brasil, você é só mais um estrangeiro que desrespeitou a lei, mesmo se no Brasil você for rico e amigo do rei.

O Egito é um país muçulmano e também uma ditadura. Quem não é ignorante ou não sofre dessa síndrome de achar que pode fazer o que quer em qualquer lugar, saberia que ali a desculpa de "estava só brincando" não ia colar. Depois que o vídeo se espalhou (e antes de ser preso), ele publicou outro vídeo no Instagram em que afirma ser "uma pessoa brincalhona". Ah, sim. Alguém acredita que as autoridades do Egito, um país onde é proibido até beijar na rua, vão cair nessa?

Seria até engraçado se não fosse trágico que um homem brasileiro precise ser preso em uma ditadura para entender que assédio é crime. Quer dizer, isso se ele entender.

O escândalo da Copa de 2018 parece não ter ensinado nada para esse tipo de homem. Será que o fato de um deles ficar preso em uma prisão em uma ditadura sangrenta do outro lado do mundo vai ensinar?

E tem mais um detalhe: no Egito existe inclusive pena de morte. Já pensou?